Esta obra faz parte de uma série de pinturas de grandes dimensões executadas por Turner na primeira década de Oitocentos dedicada à representação de catástrofes naturais e tempestades no mar, iniciada em 1801, com «Bridgewater, Seapiece» (Coleção Particular em depósito na National Gallery, Londres). A cena foi associada no passado ao naufrágio do navio «Minotauro», ocorrido em Dezembro de 1810, hipótese entretanto abandonada. Apresenta, entretanto, semelhanças evidentes com a pintura «O Naufrágio» (Tate Britain, Londres), de 1805.
A construção do espaço, deliberadamente assimétrico e caótico, desenvolve-se a partir de diagonais de mastros e remos quebrados que se justapõem a curvas de redemoinhos de águas em turbilhão. O elemento humano, insignificante e perdido, encontra-se irremediavelmente submetido à voragem violenta das ondas.
A composição inscreve-se num universo de extrema sensibilidade face à natureza, dentro da melhor tradição inglesa de pintura do género, à qual o tema dos naufrágios, num país marítimo por excelência, foi especialmente grato. Turner não só absorve o legado da lição holandesa – de Willem van de Velde, o Jovem, em particular - como associa à sua expressão pictórica o peso do imaginário coletivo da época, vivido pelos seus contemporâneos de forma verdadeiramente emotiva e obsessiva.