"São visíveis as influências recebidas por Iberê em sua convivência com o meio artístico do Rio de Janeiro, para onde ele se mudou em 1943. A influência de Cândido Portinari (1903–1962) está tanto na temática de cunho social quanto nas questões da própria pintura. Nessas três pinturas podemos perceber os resultados dessa convivência através da alteração do ponto de vista do artista quanto aos seus modelos, mostrados sem o cuidado extremado com as regras do bom retrato; as figuras estão em poses informais ou casuais; ocorrem cortes abruptos, como na pintura P031; as deformações, com vistas à expressividade, são notáveis no corpo e na mão desproporcionais ao tamanho da cabeça da figura da P028; na pintura Sem título (P119) é notável a desobediência ao controle absoluto da cor pela linha do desenho. Nesta tela, em particular, observamos a adoção de diversos recursos típicos de Portinari, como a sobreposição do desenho à camada pictórica; a construção do fundo por planos de cores chapadas e independentes; a utilização de recursos gráficos de caráter decorativo, como as linhas curvas formando arabescos que se opõem à rigidez dos planos geométricos e, finalmente, os pequenos toques de cor que pontuam e dinamizam os planos inertes. Menos que uma influência, o que percebemos nessas obras é a emulação de meios expressivos de um artista plenamente realizado e consagrado."
GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 80.