"Em 1940 recomecei a pintar. À noite, transformava a nossa pequena sala em ateliê, Maria, essa companheira insuperável, sempre paciente, era o meu modelo. Meu interesse, minha paixão pela pintura foi crescendo. Em companhia de Vasco Prado, desenhava tipos de rua, empregadas domésticas, num galpão de madeira que ele construíra perto de casa, tão remendado como uma maloca. Apanhávamos os modelos na Sopa do Pobre [instituição de caridade de Porto Alegre]. Para assegurar a assiduidade do nosso estudo, contratávamos um modelo por mês, como se faz com empregada doméstica. Costumava mostrar os meus desenhos ao Rasgado, que me fazia críticas judiciosas e me falava de arte. Em certo momento, tive boas indicações de Fahrion, professor já bastante conhecido e de bom renome, como artista.
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Do ponto de vista de um pintor, nessa época Porto Alegre era uma cidade provinciana, conservadora. O modernismo não tinha ainda influído nas artes plásticas do Rio Grande do Sul. O moderno era mal interpretado pelos artistas e inteiramente desconhecido do público. [...]"
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 125-126.