CORPOS DELICADOS
Jorge Vieira pertence à nossa memória de alguns lugares de Lisboa. Na Rua Braamcamp havia uma escultura de Jorge Vieira na entrada de uma farmácia, peça saída de um universo próximo de Henry Moore, mais emaciada e delicada. Eram corpos que se abraçavam e aconchegavam a rua na estranheza da sua metamorfose num só. Na Expo’98 o Homem-sol é um gigante que guarda os que na sua sombra se abrigam. São marcos de acolhimento na cidade, peças do nosso mapa afectivo do espaço urbano e das melhores obras de arte no espaço público que a cidade possui.
Jorge Vieira tem um percurso artístico longo, iniciado em 1949, sendo provavelmente o primeiro escultor abstracto português. Mais tarde, durante a década de cinquenta, as suas personagens iriam perder o plinto, chegar-se ao solo e ganhar humanidade. Passam a ser corpos delicados, estruturas reticuladas e quase humanas que se cruzam, metamorfoseiam e combinam. Definem uma vida própria, habitam os seus espaços e passam a pertencer a uma galeria de corpos que preenchem o nosso imaginário da escultura.
Delfim Sardo