LANTEJOULAS
São quase infantis, como cantilenas de roda, os desenhos de Marepe.
São esfusiantes na cor, derramados sobre o papel como manchas e finos como cabelos.
A sua escultura é outra coisa: poderosa e assertiva e com uma escala de edifício, ou de rua, ou de praia. Por vezes têm paredes, portas, pneus e cadeiras, garrafas de cachaça, guarda-chuvas. Às vezes parecem bocados de favelas, miúdos e conversas de boteco.
Os desenhos não. Sobretudo estes, lantejoulas e brilhos a cobrir a superfície, lúdicos como jogos. Noutras séries, os desenhos de Marepe são carimbos, signos que se multiplicam, carrocéis. Por todos perpassa uma aparente brincadeira infantil que acaba por ser outra coisa, por vezes muito séria, política e interventiva.
Estes não. São frágeis, bricolados, encantatórios e impossíveis de reproduzir na improbabilidade das suas cores e da sua vibração.
São desenhos de que se gosta, ou de que não se gosta, mas que admitem serem vaticinados para o gosto, como rebuçados.
Susan Sontag escrevia, em 1964, que já não era necessária mais hermenêutica das obras de arte. Precisávamos, isso sim, de uma erótica. É a essa erótica que se dirigem estes desenhos, porque a sua vibração ecoa à flor da pele, como um sopro.
Delfim Sardo
Tem interesse em Histórico?
Receba atualizações com a sua Culture Weekly personalizada
Está tudo pronto!
O seu primeiro canal Culture Weekly chega esta semana.