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Sem título

Vítor Pomar1983

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
Lisboa, Portugal

A TENSÃO DA LIBERDADE
As manchas negras, brancas e cinzentas das telas de Vítor Pomar parecem fazer parte de um contínuo maior, de uma enorme tela de que só vemos fragmentos. São recortes de um mapa do próprio acto de pintar que o artista realizava cobrindo o chão do seu estúdio com a tela, que pintava como uma grande cartografia do seu gesto na horizontal, varrendo o solo com as marcas que viriam depois a ser isoladas em pinturas que adquiriam assim a sua individualidade.
O ateliê era, como o próprio chegou a dizer, o seu campo de batalha. Ao pintar um contínuo de que seriam recortadas as telas que viriam a ter vida própria, Vítor Pomar refazia a história da pintura de Jackson Pollock e Franz Kline e construía uma genealogia da própria pintura, desde o gesto inscritor e ritual até à delimitação de campo da pintura de cavalete recusada em função de uma performatividade do acto de pintar.
O procedimento de Pomar na construção das suas telas parece sair de uma metodologia cinematográfica, porque surgem de uma ideia de espaço pictórico que, como o espaço cinematográfico, só é possível porque existe um “fora-de-campo”.
Também é assim nas fotografias que realizou no México e em Nova Iorque, resultado de uma fina antropologia dos lugares que as torna momentos de uma constelação de imagens que define um lugar.
Estas pinturas são oriundas de um período de enorme produtividade no seu trabalho que viria a ser seguido de uma paragem de quase década e meia, durante a qual perseguiu as suas interrogações espirituais, que o levariam ao budismo, ao pensamento zen e a várias formas de encontro com as filosofias da mente. Viria a retomar a sua actividade na pintura começando pela cor, quase no ponto exacto onde tinha deixado o seu percurso no momento em que uma outra instância de necessidade se sobrepôs à prática artística.
São, portanto, pinturas radicais. São o testemunho de uma zona limite de combatividade com a limitação do espaço físico do ateliê, com as limitações do corpo que gera imagens, com as práticas ritualizadas que produzem fisicamente.
E, por isso, a sua enorme liberdade transpira a tensão que as converte em obras maiores.

Delfim Sardo

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  • Título: Sem título
  • Criador: Vítor Pomar
  • Data de Criação: 1983
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: 193,5 x 143 cm
  • Tipo: Pintura
  • Direitos: © Fundação Caixa Geral de Depósitos - Culturgest
  • Material: Acrílico sobre tela
  • Inventário: 336293
  • Fotógrafo: © Laura Castro Caldas / Paulo Cintra
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