Obra de cariz acentuadamente cenográfico, tendo como " cortinas de palco " duas grandes árvores, traduz a ideia defendida por Anunciação segundo a qual a paisagem deve ser recolhida " ao natural " e executada em atelier. Captada no sítio então rural da Penha de França, tema central da composição, apresenta um tratamento formal pouco empenhado e um colorido de castanhos tediosos. Reflexo provável do desânimo causado pela morte do irmão e consequente pedido à Academia ( não satisfeito ) para dispensa da prova, esta peça manifesta o interesse recente pelos registos sobre o motivo que constitui o essencial da renovação pictórica neste período.
Ramalho Ortigão adjectiva ironicamente as duas frondosas árvores colocadas em primeiro plano. Considerando-as "de chocolate" enuncia o desconforto da nova crítica que, depois de admitir Anunciação como o fundador da pintura de género portuguesa, depressa começa a acusá-lo de monotonia e artificialismo.
O mais interessante nesta obra é a sua iconografia, representando bem o carácter bucólico do termo de Lisboa onde, a urbanidade se restringia à excelente mancha da igreja e convento da Penha de França.
Não admira por isso que na cidade, onde a industrialização mal se deixava adivinhar, os pintores se atardassem no registo de motivos etnográficos, sintetizando a sua vivência e os sentimentos que eram também os dos amadores de arte. (Maria Aires Silveira)