CO-1372
Costa, Álvaro M. Ribeiro da. [Carta] 1943 out. 11, Rio de Janeiro, RJ [para]
Candido Portinari,
Brodowski, SP. 4 p. [manuscrito]
Portinari.
Bom dia, meu caro.
Permita que eu bata a sua porta para dentro da qual se encontra o feliz hóspede, a quem preciso falar, Dante, o diabólico trânsfuga da Poesia que, por isso mesmo, ainda caba ficando corcunda, dobrado sobre essa outra deusa, a Escultura, onde o seu gênio plasma o sopro de uma sensibilidade Davinciana.
Aqui vai o meu recado:
Falei ao Saul, há dias, logo recebi a carta, e ele disse-me que ainda não recebera a requisição do Dante, mas já sabia disso por intermédio de um funcionário do próprio juiz menores, e nada tinha a opor , ao contrário, gosta do Dante e isso já lhe tem dito e reiterado etc., etc., conversa fiada...
Fui ter com o Aníbal que estava de amores, no leito, com a gripe, e ele ficou de falar , pelo telefone, com o Rodrigo M. F. Hoje, pela manhã, o Manuel, que também estav no leito, de amores com a malsinada gripe, entre tosse e palavras, coitado, pediu meu auxílio junto ao Saul para atender a uma telefonema do Dante.Afirmou-me, porém, que o Capanema já havia oficiado ao M. da J. a respeito da requisição.
Daqui mesmo falei ao Saul. Embora ele não haja recebido a requisição, pode esperar mais alguns dias até que tudo se regularize. É a palavra dele.
Manuel vai pedir a um amigo do M. da J. para empurrar o ofício ao Saul; o memo vou eu fazer por intermédio de outra pessoa, a ver se a coisa se resolve antes de acabar a guerra...
Caramba! Que coisa complicada é a requisição de um funcionário! Até faz lembrar uma daquelas histórias de Nikolai Gogol, como a do barbeiro que perdeu o nariz.
Mas tudo isso é simplesmente maravilhoso, nossa terra maravilhosa, que não vale a pena a gente sofrer tanto. Tranqüilize o Dante. Do lado de cá, além da Serra do Mar, estende-se o exército dos seus amigos, empenhados numa cabeça de ponta sobre o Juízo de Menores... Ele pode fumar o seu cachimbo, pondo o barco a correr à conta do Aníbal, do Manuel, do Rodrigo e desse seu pobre e velho amigo (o mais que pode acontecer é ele ser demitido por abandono de emprego).
Um abraço nosso para você, Maria e os seus e beijos para o João Candido.
Abrace por mim o “hóspede” e mais a Alice.
Aqui fica às ordens, dele e suas, o camarada de sempre
Álvaro
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