A especificidade dos azulejos Portugueses do século XVII, com pintura executada por artesãos, muito expressiva mas de execução ingénua, conduziu a que se encomendasse na Holanda painéis figurativos, quer religiosos quer de temática profana. Tendo o azul como cor única, de grande prestígio pela sua conotação com a porcelana da China, estes painéis iniciaram um processo de importação que decorreu ao longo de quase meio século. No entanto, a inegável qualidade técnica do azulejo holandês não foi suficiente para se impor duradouramente junto do público português, desde que este encontrou internamente, na transição do século XVII para o século XVIII, novas soluções para as suas necessidades sumptuárias de revestimentos cerâmicos. A pintura demasiado próxima da fonte gravada, considerada fria para a sensibilidade portuguesa, e o facto da produção holandesa não estar vocacionada, apesar do esforço efetuado nos painéis destinados a exportação, para o revestimento cerâmico de grandes espaços arquitetónicos, terão contribuído para o termo das encomendas. Estas foram substituídas pelo trabalho de uma nova geração de pintores Portugueses com formação artística. Assistiu-se então a um novo período evolutivo na azulejaria portuguesa, ainda dominado, devido à influência holandesa, pela pintura a azul-cobalto sobre fundo branco. Durante o que se convencionou chamar o Ciclo dos Mestres (1690-1725), as oficinas procuraram ir ao encontro de uma clientela mais exigente, através da criação de composições figurativas caracterizadas por uma maior liberdade na utilização das gravuras, e pela criatividade no ajustamento dos painéis aos espaços a revestir. O pintor de azulejos assumiu o estatuto de artista, assinando, com frequência, os seus painéis, sendo António de Oliveira Bernardes (ativo entre 1699 e1725) a figura de maior destaque neste período. O precursor deste ciclo foi o espanhol Gabriel del Barco (ativo entre 1669 e 1703), introduzindo um gosto por envolvimentos decorativos mais exuberantes, e uma pintura liberta do contorno rigoroso do desenho. Introdutores da estética barroca na azulejaria portuguesa, no Ciclo dos Mestres destacaram-se também os nomes de pintores representados, à semelhança de del Barco, na coleção do Museu Nacional do Azulejo, como Manuel dos Santos (ativo entre 1706 e 1723), o monogramista P.M.P (ativo entre 1714 e 1725), e Policarpo de Oliveira Bernardes (ativo entre 1717 e 1740). A figura do azulejador, responsável pela colocação dos painéis, agora de maior complexidade, viu a sua importância aumentada, estabelecendo o contacto entre a encomenda e a oficina. A azulejaria produzida em Lisboa nas primeiras décadas do século XVIII apresenta também um maior rigor na elaboração de programas iconográficos. No Ciclo dos Mestres, a partir do trabalho de Gabriel del Barco, estes impõem-se com uma coerência que esteve ausente dos primeiros ciclos narrativos seiscentistas, conquistando para a figuração espaços a que até então se destinavam azulejos de padrão.
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