O fotógrafo Guilherme Gaensly (1843-1928) nasceu em Wellhausen, Suíça. Em 1848, seus pais imigraram para o Brasil, estabelecendo-se em Salvador. Nesta cidade, ainda jovem, iniciou sua atividade profissional, onde manteve em sociedade o estúdio fotográfico Gaensly & Lindemann. Por volta de 1892, fixou residência em São Paulo, estabelecendo seu estúdio Photographia Gaensly na Rua XV de novembro, número 28, mudando-se posteriormente para Rua Boa Vista, número 39, no ano de 1911, por questões comerciais. Como retratista e paisagista, atendia diversos clientes em seu estúdio na capital. Além do processo de urbanização da capital, as lentes de Gaensly registram a paisagem das fazendas cafeeiras do interior paulista. Possuidor de um grande domínio técnico, o fotógrafo foi comissionado pelo governo do Estado para realizar uma documentação fotográfica de todo o cultivo do café, que envolvia plantio, colheita, beneficiamento, o transporte pela estrada de ferro até o Porto de Santos, onde a produção escoava para a exportação.
Plantação de café (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Sua obra circulou principalmente por meio de cartões-postais, álbuns e periódicos ilustrados, permanecendo como uma iconografia abrangente da paisagem paulista no começo do século 20.
Nossa leitura abre-se para as condições de vida, as práticas de existência, tensões e relações entre homens e mulheres, que irrefutavelmente movimentaram esta cadeia produtiva.
Colheita de café. As cestas e sacos servem para organizar a colheita dos grãos em medidas padronizadas para a comercialização. Nos anos 1880, a região ultrapassou a produção de café do Vale do Paraíba. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Fazenda Pau d’alho. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Mata virgem. Derrubar a vegetação é o primeiro passo para o preparo das terras agrícolas. Após três ou quatro anos, ocorre a primeira colheita. A produção máxima pode ocorrer entre seis e oito anos. Dependendo da técnica, o ciclo produtivo de um pé de café poderia durar vinte ou até quarenta anos. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Derrubar a vegetação é o primeiro passo para o preparo das terras agrícolas.
Após três ou quatro anos, ocorre a primeira colheita. A produção máxima pode ocorrer entre seis e oito anos. Dependendo da técnica, o ciclo produtivo de um pé de café poderia durar vinte ou até quarenta anos.
Secagem do café. Com o auxílio de rodos de madeira, os trabalhadores passavam o dia no terreiro revolvendo os grãos do café, para que pudessem secar de maneira uniforme com o calor do sol, evitando a formação de umidade e a fermentação, o que comprometia seriamente a qualidade do produto. Ao final do dia, a produção poderia ser armazenada para ficar protegida contra intempéries ou era organizada em pequenos montes e, em seguida, coberta por um tecido. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Com o auxílio de rodos de madeira, os trabalhadores passavam o dia no terreiro revolvendo os grãos do café, para que pudessem secar de maneira uniforme com o calor do sol, evitando a formação de umidade e a fermentação, o que comprometia seriamente a qualidade do produto. Ao final do dia, a produção poderia ser armazenada para ficar protegida contra intempéries ou era organizada em pequenos montes e, em seguida, coberta por um tecido.
Fazenda Guatapará – Trabalhadores em terreiro de secagem. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Terreiro de café (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Terreiro para secagem do café. Os terreiros necessitam de um espaço plano que possibilite a máxima ação do calor do sol. Esse processo durava até dois meses, dependendo das condições climáticas. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Fazendeiros e trabalhadores rurais em terreiro do café. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Dois grupos distintos compõem a cena. À frente, um grupo de fazendeiros posando para um retrato, certos de um protagonismo, claramente conscientes da posteridade da ocasião.
E em segundo plano, um grupo de trabalhadores rurais que, por estarem devidamente ocupados manipulando as sacas (60 quilos de café), não participam do momento com a mesma solenidade.
Promessa de prosperidade
Esta fotomontagem circulou amplamente em formato de cartão-postal. Tal recurso quase passaria despercebido se as fotografias originais não fossem igualmente difundidas. A escolha de combinar a força de trabalho dos imigrantes europeus à pujança da plantação de 800 mil pés revela uma intenção de reforçar o discurso: quase uma promessa de prosperidade das novas terras.
Atrair a tão desejada mão de obra de trabalhadores europeus para as fazendas cafeeiras exigia forte propaganda, necessária para desconstruir a imagem de um país atrasado, associado à escravização e a monarquia.
Colheita de café. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Em 1877, o primeiro grupo significativo de imigrantes chega a São Paulo, com 2000 italianos. Em 1888, ano da abolição, temos o registro de entrada de 80 mil imigrantes na província. Na década seguinte, de acordo com as listas de bordo dos navios, mais de 1,4 milhão de europeus desembarcaram no Porto de Santos, com destino às fazendas do interior.
Fazenda Santa Cruz (1900), de Guilherme GaenslyMuseu da Imagem e do Som
Itália Bela mostre-se gentil e os filhos seus não a abandonarão, senão vão todos para o Brasil, e não se lembrarão de retornar. Aqui mesmo ter-se-ia no que trabalhar sem ser preciso para a América emigrar.
[...]
[...]
O século presente já nos deixa, o mil e novecentos se aproxima. A fome está estampada em nossa cara e para curá-la remédio não há. A todo momento se ouve dizer: eu vou lá, onde existe a colheita do café.
Da canção Itália belle, mostrati gentile (Autoria desconhecida, 1899)
Trabalhador rural e um pé de café
É importante lembrar que a mão de obra de europeus denominados imigrantes e a mão de obra escravizada coexistiram em razão de tardias concessões abolicionistas, que ocorreram entre 1850 e 1888. O impedimento do tráfico de navios negreiros pelo Atlântico, a partir de 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, estimulou o tráfico interprovincial a partir das lavouras de cana-de-açúcar em declínio no Nordeste, para atender a demanda de mão de obra nas fazendas cafeeiras no Vale do Paraíba e na região central do Estado de São Paulo.
Fazenda Lapa. À esquerda, observamos a senzala. Ao fundo, o sobrado, a casa de máquinas e outras instalações. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
À esquerda, observamos a senzala. Ao fundo, o casarão com dois andares, a casa de máquinas e outras instalações.
Sede de fazenda de café (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Fazenda Palestina. Além das casas, as colônias destinadas aos imigrantes abrigavam estabelecimentos de pequeno comércio, que também eram locais de encontro social. (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Fazenda Santa Veridiana (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Movimentação da produção em carros de boi (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
Armazém de café (1900), de Guilherme Gaensly#0 Reprodução Antônio Bellia#1Museu da Imagem e do Som
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador do Estado de São Paulo João Doria
Vice-Governador do Estado de São Paulo
Rodrigo Garcia
Secretário de Estado da Cultura e Economia Criativa
Sérgio Sá Leitão
Secretária Executiva de Cultura e Economia Criativa
Cláudia Pedrozo
Chefe de Gabinete de Cultura e Economia
Frederico Mascarenhas
PAÇO DAS ARTES ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA
Conselho de Administração
Presidente
James Murray Sinclair
Vice-Presidente
Marcello Hallake
Conselheiros
Mauro Andre Mendes Finatti, Renata Letícia, Roberto Giannetti da Fonseca, Rosa Amélia de Oliveira Penna Marques Moreira
Conselho Consultivo d
Conselheiros
Cecília Ribeiro, Max Perlingeiro, Nilton Guedes
MUSEU DA IMAGEM E DO SOM
Diretor Geral
Marcos Mendonça
Diretor de Gestão e Finanças
Marcos Campagnone
Diretor Cultural
Cleber Papa
COLEÇÃO GUILHERME GAENSLY NO ACERVO MIS: UMA PAISAGEM HUMANA
Curadoria e Pesquisa
Renata Tsuchiya
Tratamento de Imagens
Guilherme Savioli
Acompanhamento Museológico
Cecilia Salamon