Irmãs da Boa Morte, Egun e bonecos de Orishás: religiosidade afro-brasileira

Descubra os contextos e as roupas usadas em importantes manifestações religiosas com matriz africana

Traje da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte Traje da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte (1900/1999), de UnknownMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Irmãs da Boa Morte, Tradição e Fé

Quando o Papa Pio XII em 1950 articulou a antiga doutrina que depois virou dogma de que Maria ascendeu aos céus por meio de Cristo sem padecer da morte, ele não deveria sequer supor da verdadeira extensão do que já existia aqui no Brasil; um grupo de mulheres negras devotas tão cheias de fé na ascensão de Maria e na incorruptibilidade de seu corpo morto quanto nas referências às suas tradições africanas. Muito antes, em Portugal, às vésperas da contrarreforma apoiavam-se em apócrifos que diziam que Maria havia morrido e tinha sido enterrada no Getsemane, porém que seu corpo jamais se decompôs e prevaleceu intacto. Essa tradição Ibérica chegou ao Brasil no período colonial e foi transformada em nosso solo pela devoção afro-brasileira. A Irmandade Nossa Senhora da Boa Morte é uma organização católica com sede em Cachoeira, Bahia, composta por mulheres afro-brasileiras e que realiza cortejos públicos e procissões nos dias consagrados à morte e à ascensão da Virgem, sendo o principal o dia 15 de Agosto.

Ave Maria, nos seus andores, rogai por nós, / os pecadores. Abençoai, destas terras morenas. / Seus rios, seus campos e as noites serenas.
Dalva de Oliveira

No final do séc. XVIII e início do séc. XIX grupos de africanos de Salvador de cultura jeje, entre outras, já participavam de irmandades. Havia uma Irmandade da Boa Morte de cultura ketu, por exemplo, no início do séc. XIX na Igreja da Barroquinha e, por volta de 1820, africanos livres de cultura jeje levaram para Cachoeira a tradição desta irmandade. Em cada um dos dias de honra à Santa há uma missa, uma festa e uma procissão.

Festa da Nossa Senhora da Boa Morte Bloco 1, de Tradições BrasilFonte original: https://www.youtube.com/watch?v=MJjOgpTbxPc

A DORMIÇÃO
Neste trecho do vídeo extraído do YouTube e produzido pelo Tradições Brasileiras, é possível ver o primeiro dia do ritual. Nele, as irmãs se abstêm de carne vermelha e dendê, comem apenas carne ou outras comidas “brancas”. Sendo que o branco significa “amanhecer”, no ponto de vista da morte de Maria (Obviamente é impossível não fazer aqui a relação com a cor de Oxalá).

Festa da Nossa Senhora da Boa Morte Bloco 2, de Tradições BrasilFonte original: https://www.youtube.com/watch?v=1QGWDMB7ym0

O ENTERRO
Neste trecho do vídeo extraído do YouTube e produzido pelo Tradições Brasileiras, é possível ver o segundo dia do ritual, quando é feito uma procissão funerária com a imagem da Santa em que as irmãs se vestem de branco, portando cruzes e faixas pretas.

Festa da Nossa Senhora da Boa Morte Bloco 3, de Tradições BrasilFonte original: https://www.youtube.com/watch?v=AKGDk0iSDFI

A GLÓRIA
Neste trecho do vídeo extraído do YouTube e produzido pelo Tradições Brasileiras, é possível ver o último dia do ritual. Simbolicamente, no terceiro dia é quando ocorre a assunção da Virgem, as irmãs se vestem de gala e utilizam faixas vermelhas de cetim se enfeitando com joias abundantes e belos vestidos de gala (“Beca”). Eles fazem uma festa com a comida especial para esse dia que é o Caruru, distribuído para todos os presentes e regrado a Samba de Roda.

Toque para explorar

Cachoeira, na Bahia
Na Capela da Irmandade da Boa Morte é onde acontece grande parte das festividades.

Traje da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte Traje da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte (1900/1999), de UnknownMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

A SAIA

Tecido de algodão, cetim

A FAIXA

Tecido de poliéster.

A RENDA

Renda de algodão em renda richelieu.

Traje da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, Da coleção de: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
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O TURBANTE

Renda de algodão em renda richelieu.

Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum (1996), de Cosme Daniel de PaulaMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Vestimentas de Egun - África e Brasil

Egum é o “antepassado falecido”. Essa é uma tradição do povo ioruba que ocorre ainda hoje na Nigéria, no Benin e no Brasil. O culto chamado egungun é um culto a antepassados que dramatiza a crença Iorubá, na vida após a morte.

Vestimenta de Babá Egum
Autor: Cosme Daniel de Paula

Tecido, búzios, espelhos e miçangas
1996

Na África, os mascarados egungun representam os espíritos dos ancestrais mortos que retornam à terra para visitar seus descendentes vivos, além de terem o papel de purificar a terra, curar as enfermidades, eles ajudariam a resolver disputas territoriais.

Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum, Cosme Daniel de Paula, 1996, Da coleção de: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
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Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum (1996), de Cosme Daniel de PaulaMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum, de Autor não identificadoMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Vestimenta de Babá Egum

Tecido, búzios, espelhos e miçangas

O culto a egum no Brasil é um dos cultos que menos sofreram modificações em suas práticas litúrgicas, vestimentas e nos modos de adoração dos antepassados.

Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum, Autor não identificado, Da coleção de: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
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Vestimenta de Babá Egum Vestimenta de Babá Egum, de Autor não identificadoMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Toque para explorar

Sediados principalmente na Ilha de Itaparica há mais de 200 anos, no grande festival anual de Baba Olukotun, os ancestrais se materializam sob a vestimenta resguardadas a eles. Uma das figuras mais conhecidas desta tradição é Mestre Didi (1917-2013), que foi um sacerdote do culto a egungun e também um artista plástico.

Ossaim (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Mãe Detinha de Xangô

A Mãe Detinha de Xangô (1928-2014) foi uma egbomi muito respeitada e artesã de Salvador cujo nome de batismo era Valdete Ribeiro da Silva (Detinha era o apelido carinhoso, diminutivo de Valdete, que acabou distinguindo a Ialorixá até a sua morte em 2014). Seu pai e avô falavam o iorubá e ela veio de uma linhagem de fortes mulheres do candomblé baiano, embora foi só proximamente a completar 60 anos que ela foi iniciada no candomblé. Sua ordem iniciática remete à mãe Aninha (1869-1938), que iniciou a mãe Ondina (1916-1975) que, por sua vez, iniciou em 1971, a Mãe Detinha de Xangô no Ilê Axé Apô Afonjá, um dos mais tradicionais e certamente um dos mais antigos entre os Terreiros de Candomblé da Bahia, ao lado de Terreiros tradicionais como o do Gantois, e o da Casa Branca do Engenho. Além de suas atividades religiosas, a Mãe Detinha foi muito conhecida pela confecção de pequenos bonecos com representação de orixás. Tendo desenvolvido esta atividade desde a década de 80, ela passou anos produzindo bonecos e inclusive criando uma rede de dezenas de discípulos (dentre os quais destaca-se Bezita de Oxum) na arte popular da confecção de bonecos com os atributos dos deuses da nação nagô.

Egun (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Egun
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, lantejoulas
43 x 24 x 22 cm

Erê (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Erê
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, fibra vegetal, búzios, madeira e cabaça
44 x 18 x 8 cm

Oxaguiã (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxaguiã
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, fibra vegetal, búzios, plástico e madeira
44 x 18 x 12 cm

Tempo (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Tempo
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, búzios, cabaça e plástico
40 x 30 x 26 cm

Iansã (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Iansã
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, couro, fibra sintética, plástico, metal e lantejoulas
50 x 36 x 24 cm

Oxumarê (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxumarê
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, fibra vegetal, búzios, plástico e pelúcia
42 x 20 x 10 cm

Logunedé (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Logunedé
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, pena, couro, fibra sintética, plástico, metal e pelúcia
45 x 23 x 14 cm

Ewá (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Ewá
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, fibra vegetal e búzios
42 x 39 x 23 cm

Oxalufã (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxalufã
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal e plástico
41 x 21 x 16 cm

Erê (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Erê
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, búzios, plástico, cabaça e fibra vegetal
42 x 21 x 09 cm

Exu (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Exu
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, búzios, plástico, cerâmica, fibra vegetal e lantejoula
44,5 x 24 x 09 cm

Obaluayê (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Obaluayê
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Fibra vegetal, tecido, búzios e plástico
42 x 21 x 19 cm

Ibeji (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Ibeji
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, búzios, plástico e metal
34 x 14 x 09 cm

Ossaim (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Ossaim
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, plástico, fibra vegetal e búzios
45 x 17 x 10 cm

Oxóssi (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxóssi
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, pena, lantejoula, fibra sintética e couro
51 x 22 x 10 cm

Ibeji (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Ibeji
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, búzios, plástico e metal
33 x 14 x 09 cm

Oxóssi (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxóssi
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, couro, fibra vegetal, búzios, madeira, pena, plástico e pelúcia
46 x 22 x 10 cm

Ifá (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Ifá
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, plástico, búzios, fibra vegetal e semente
40 x 15 x 09 cm

Obá (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Obá
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal e plástico
46 x 31 x 34 cm

Bayánni (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Bayánni
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, búzios, metal e plástico
48 x 31 x 20 cm

Oxum (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Oxum
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal e plástico
46 x 36 x 27 cm

Xangô (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Xangô
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal e plástico
42 x 29 x 09 cm

Nanã (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Nanã
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, fibra vegetal, plástico e búzios
47 x 27 x 24 cm

Iemanjá (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Iemanjá
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, metal, plástico e lantejoulas
49 x 34 x 27 cm

Xangô (2011), de Mãe Detinha de Xangô e Bezita de OxumMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo

Xangô
Por Mãe Detinha de Xangô e Bezita de Oxum

Tecido, fibra vegetal, búzios, plástico e madeira
44 x 18 x 12 cm

Créditos: história

Museu Afro Brasil

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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