Mamacita Linda: cartas entre Frida Kahlo e a mãe

Do National Museum of Women in the Arts

Translations by Marianne Huber and Nelleke Nix; edited by Cynthia Selde

As cartas íntimas apresentadas nesta exposição são dos últimos anos antes da morte de Matilde Calderón de Kahlo. Elas destacam o afeto pessoal entre Kahlo e a mãe e mostram Frida Kahlo como pessoa, não como ícone.

Matilde Calderón e Guillermo Kahlo (0), de Guillermo KahloMuseo Frida Kahlo

Mamacita Linda: cartas entre Frida Kahlo e a mãe, 1930 a 1932

O relacionamento de Kahlo com o pai fotógrafo, Guillermo Kahlo, já foi profundamente explorado por estudiosos que analisam as semelhanças artísticas e pessoais entre eles. No entanto, o relacionamento de Kahlo com a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, raramente é mencionado, exceto por pesquisadores que o abordam brevemente como “tenso”. Apesar dessa definição, as cartas transmitem afeto, amor e um vínculo profundo entre mãe e filha.

Matilde Calderón e Guillermo Kahlo (0), de Guillermo KahloMuseo Frida Kahlo

Na época em que as cartas foram escritas, Frida Kahlo estava com saudades da família durante os longos períodos de viagem para os Estados Unidos. Kahlo tinha apenas 23 anos quando ela e Diego Rivera, com quem era casada há um ano, viajaram para São Francisco, para a realização de um mural de Rivera.

Frida Kahlo no Instituto de Artes de Detroit, Michigan (1932), de Guillermo KahloMuseo Frida Kahlo

A arte dele os levou para Nova York em 1931, onde o Museu de Arte Moderna montou uma retrospectiva de seu trabalho. De lá, eles viajaram para Detroit, onde a fama de Rivera cresceu quando ele concluiu uma série bem-sucedida de afrescos. O choque que Kahlo vivenciou diante da cultura norte-americana e ao ter sido colocada no centro das atenções como esposa de Rivera pode explicar por que essas cartas geralmente expressam o descontentamento da artista com relação à vida nos EUA.

As cartas da coleção são de alguns dos anos mais importantes para o desenvolvimento de Kahlo. Embora tenha pintado durante toda sua vida, sua primeira exposição individual só veio a acontecer em 1938: na época em que viveu, ela era vista mais como esposa de Rivera, em vez de uma pintora independente. Hoje, a vida dela é caracterizada com frequência pelo casamento conturbado e pelos frequentes períodos de enfermidade que ela sofreu após o famoso acidente de ônibus que a deixou com diversas lesões graves.

Matilde Calderón y González (1897), de Guillermo KahloMuseo Frida Kahlo

Matilde Calderón de Kahlo também estava muito doente durante esse período e faleceu no dia 15 de setembro de 1932, depois de ter lutado contra um câncer de mama e pedras na vesícula. As publicações geralmente mencionam que Kahlo ficou inconsolável após a morte da mãe. Isso ainda levanta a questão se a relação delas era realmente tensa ou se era mais um vínculo comum entre uma filha obstinada e apaixonada e uma mãe determinada e prática.

Retrato de Família (inacabado) (1949 - 1950), de Frida KahloMuseo Frida Kahlo

Frida Kahlo e sua mãe dividiam qualidades e experiências de vida relevantes: ambas eram casadas com artistas de temperamento difícil e que tinham dificuldade de lidar com dinheiro; ambas tinham doenças graves e eram profundamente dedicadas à família. Embora Kahlo costume ser descrita como “a filha querida do pai”, aparentemente o relacionamento dela com a mãe era mais íntimo do que se pensa. Apesar de nenhuma publicação ter dado foco a essa questão até o momento, esse seria um excelente tema a ser considerado pelos estudiosos.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Frida Kahlo para a mãe

10 de novembro de 1930, São Francisco

Mamacita linda,

Ontem eu lhe escrevi uma pequena carta quando cheguei aqui. Era uma carta bem pequena, e você já deve tê-la recebido. Nesta carta, contarei mais detalhes sobre a viagem e tudo mais.

O trem estava sete horas e meia atrasado, então tivemos que ficar em Guadalajara por um longo período. Pude ver a cidade toda: o museu, as igrejas e todos os lugares mais importantes. Jantamos lá e, às seis e meia, partimos para Nogales, Sonora.

O caminho é simplesmente espetacular. O trem viaja por toda a costa por Mazatlán, Tepic, Culiacán e assim por diante, até chegar a Nogales, na fronteira com os Estados Unidos. A famosa fronteira é apenas uma cerca de arame que separa Nogales-Sonora de Nogales-Arizona. Mas poderíamos dizer que é tudo a mesma coisa. Na fronteira, os mexicanos falam inglês “re-bien” [1], e os gringos falam espanhol “y todos se hacen bolas” [2]. Eles verificam os passaportes dos dois lados. Fazem um exame médico no passageiro e, em seguida, o trem parte para Los Angeles. A viagem demora um dia e uma noite, mais ou menos.

Assim como Diego, achei Los Angeles fascinante. É uma cidade…

[1] "Re-bien” significa muito bem, mas há um tom de ironia na carta de Frida.

[2] “Y todos se hacen bolas” é uma expressão idiomática mexicana que significa confusão e esforços inúteis. “Todos andam em círculos” pode ser uma tradução adequada.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…em um lugar maravilhoso. Ela tem edifícios tão bonitos. A praia é magnífica, mas as gringas são horríveis. As estrelas de cinema não valem um picolé. Apenas pessoas ricas moram em Los Angeles. Os pobres têm uma vida muito difícil. Imagine só! Um metro quadrado de terreno no centro da cidade custa 5 mil dólares, que equivalem a mais de 10 mil pesos. As belas casas são apenas para os multimilionários e as estrelas de cinema. Todas as outras casas são “pinchurrientas” e feitas de madeira [3]. Há 3 mil mexicanos morando em Los Angeles. Eles precisam trabalhar como mulas para competir com os negócios gringos.

Depois de Los Angeles, o trajeto abrange San José e San Bruno, até chegar em São Francisco. É uma cidade enorme. Diego diz que parece muito com Londres, porque tem neblina nesta época do ano, e os bairros industriais, segundo Diego, parecem os becos de Londres.

Ontem à tarde, fomos convidados para um coquetel na casa do diretor da bolsa de valores, onde o Diego trabalhará. Eles têm uma casa magnífica, e é possível ver toda a São Francisco, a baía e as luzes de Berkeley (outra cidade…

[3] “Pinchurrientas” é uma gíria mexicana para “miseráveis ou da pior qualidade”.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…do outro lado da baía) do terraço. O diretor fala espanhol melhor do que eu e seis ou sete outros idiomas também. Eles trataram o Diego muito bem e gostaram muito de mim.

Estou mandando para você um dos jornais em que eles escreveram sobre nós. Aparecemos em cerca de seis jornais, mas não consegui comprar cópias de todos eles.

Estou escrevendo esta carta tão mal porque estou deitada. Como de costume, tive uma inflamação, mas as esposas dos outros artistas foram muito legais comigo. Uma delas veio e me deu uma garrafa de água quente, e a outra varreu e limpou toda a casa. Uma é francesa e fala espanhol. O nome dela é Ginette. A outra é uma gringa, mas ela é muito simpática e uma boa moça.

Nós moramos no estúdio de um escultor chamado Stackpole. O lugar é projetado em estilo parisiense com uma sala bem grande, cerca de três vezes maior do que a sala de estar da nossa casa em Coyoacán. Há uma mesa de desenho, uma espreguiçadeira, um sofá, uma lareira e uma pequena escrivaninha. Há também uma pequena sala que serve de cozinha/sala de jantar com uma grande mesa, um aquecedor de água, queimadores a gás e uma pia para lavar a louça. É suficientemente confortável.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Há também um quarto com uma cama em que o Diego não consegue dormir. É uma cama box que fica completamente deformada quando o Diego deita nela. Há um pequeno guarda-roupa para guardar as coisas e uma cadeira mexicana. Há um chuveiro quente e um banheiro. Tudo isso fica no último andar da 716 Montgomery Street ou, no outro lado, no número 15 da Jessop Place. É melhor endereçar as cartas para a rua Montgomery.

Por enquanto, ainda saímos para o café da manhã, jantar e ceia, mas eles providenciarão entregas de leite, pão e manteiga para a casa, então precisaremos sair apenas para jantar. Tudo é a gás e, como eu não preciso acender o fogo nem nada, não há muito trabalho para mim.

Moramos muito perto de Chinatown. É quase ao virar a esquina. Homens e mulheres chineses andam por lá como nas fotos, usando seus trajes típicos. Até agora, vi apenas senhoras e crianças chinesas, e elas são lindas. Não vi nenhuma mulher chinesa jovem. Elas vendem coisas maravilhosas, robes lindos e muitos outros itens. De modo geral, o mais encantador aqui são as crianças pequenas. Elas são enormes e lindas. Mas as adolescentes são horríveis, assim como os garotos jovens. Continuarei esta carta depois…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…agora vou comer.

Linda, estou sofrendo tanto com inflamações que não saí de casa o dia todo. Deve ser resultado dessa viagem tão longa.

O Dr. Eloezer (sic) vem me ver hoje às 5h30. Diego quer que eu me consulte com ele sobre meus problemas nas costas. Até amanhã, com certeza o inchaço desaparecerá, e passarei a tomar injeções com frequência. O médico é muito amável. Eu o conheci ontem. Ele fala muito bem o estilo antigo do espanhol e é muito inteligente. Escreverei para você depois sobre como estou me dando com ele.

Ainda não vi os Lunas. Andamos tão cansados, e não tenho sentido vontade de fazer nada. Provavelmente, vou procurá-los amanhã. Pouco a pouco, contarei todos os detalhes que estou esquecendo agora. Escreva para mim, por favor, e me conte tudo.

Como está o Papá? Ele está trabalhando? Conte-me tudo. Tudo o que eu puder mandar para você, mandarei imediatamente. Fale-me também sobre a Kitty e “la niña linda.” Como elas estão? Quero saber cada coisinha que você está fazendo, detalhe por detalhe.

Escreverei para Mati e Adri separadamente. Também escreverei para a tia Bela e para o Carito, para a vovó e para todos os outros.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 10 de novembro de 1930 (1930), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Conte ao Papá que tudo o que eu digo e escrevo para você também é para ele. Diga a ele que estou mandando muitos beijos, que ele não deveria ser tão mal-humorado e que deve se lembrar de mim e escrever para mim. Mande lembranças para Herminia e Chucho.

Faça carinho na Sombra com frequência e dê ao pobre Monroy a mesma atenção. Não os expulse para a rua, porque eu gostaria de vê-los novamente. Quanto ao gatinho amarelo, alimente-o com mais restos do que os outros.

Mamacita, se você encontrar o Sr. Magaña, dê a ele meu endereço e peça à Kitty para escrever uma carta para ele com tudo o que ele quer nos dizer, porque ele não sabe escrever muito bem. Escreva-me com frequência. Você, mais do que qualquer outra pessoa, sabe quanto prazer me dá receber cartas de todos vocês, especialmente suas. Então não deixe de me escrever. Escreverei todos os dias, se conseguir. Mil beijos para o Papá, Kitty, la nena e todos. E para você, todo o meu amor, sua

–Frieducha–

OBS.: Não fique triste. Ficará tudo bem comigo. O Diego é muito bom para mim e, além disso, receberei tratamento médico muito melhor aqui do que eu jamais receberia no México.

Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Frida Kahlo para a mãe

12 de fevereiro de 1931, São Francisco

Mamacita linda,

Sua carta acabou de chegar. Não sei o que pode ter acontecido com a carta que continha o dinheiro. Espero que ela não tenha sido extraviada. Se tiver sido, estaremos em maus lençóis. Tenho certeza de que ela está apenas atrasada. Até agora nenhuma carta foi perdida.

O problema é que o correio é recolhido aqui em uma programação muito irregular. Ore a Deus para que ela chegue aí. Foi uma tarefa difícil enviá-la para você. Como eu não administro as despesas, é muito difícil conseguir dinheiro quando eu preciso. No entanto, se ela tiver sido perdida, encontrarei uma maneira de enviar um pouco mais assim que puder.

Estou muito feliz em saber que todos estão bem. Mas me sinto mal em saber que você fica sozinha o dia todo com a Isoldita. Ela deve ter se tornado um verdadeiro diabinho, mas dos mais amados. Estou certa? Escrevi para o Papá e para a Kitty ontem. Meu pobre Papá conseguiu algum trabalho?

Tentei fazer os crepes, mas eles ficaram parecendo "vômito de bêbado". Fiz uma bagunça ao virá-los, e eles ficaram crus no meio. É inútil eu tentar me dedicar à culinária. Sou péssima nisso e estrago tudo. Acho que o melhor é esperar até…

Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…eu voltar para o México, e então você poderá me ensinar.

O Diego está bem. Ele está trabalhando dia e noite como um escravo. Mas acredito que terminará o primeiro afresco logo. Ele está decidindo se deve partir quando terminar esse afresco e voltar depois para fazer o outro na Escola de Belas-Artes aqui ou se deve pintá-lo agora, e nós voltaríamos para o México em três meses. Acredito que, mesmo que demore mais, seria melhor terminar os dois em um período longo do que precisar voltar aqui depois. Isso seria pior, não acha? De qualquer forma, estamos aqui há três meses, e durante outros três eu continuaria sentindo muita saudade de você.

Estou pintando. Fiz seis pinturas, e todos gostaram muito delas.

As pessoas aqui nos tratam muito bem. Os mexicanos que moram em São Francisco são verdadeiras mulas. Você nem imagina. Mas há idiotas em todos os lugares. E tem uns gringos que, Deus nos ajude, são umas “toupeiras.” Mas há alguns pontos positivos. Eles não são tão descarados aqui como são no nosso amado México.

Quando eu voltar, contarei para você uma enorme quantidade de coisas. Você ainda não me disse se os filhotes da Sombra são machos ou fêmeas. Os carequinhas devem ser muito fofos. Não são? Cuide bem da mãe deles…

Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…e não deixe ela se envolver com outro macho. Se você não tiver cuidado, criaremos uma casa cheia de cachorros carecas, e onde isso vai parar? Peça à Kitty para perguntar a Carlos Merida o que aconteceu com o dinheiro. Se ela não fizer isso, aquele velho vai só ficar descansando sobre os louros dele.

A querida Adri tem escrito para mim sobre tudo o que está acontecendo com você. Ela diz que está cuidando de você. Isso faz com que eu me sinta melhor. Você é minha única preocupação, Linda. Você deve saber que eu te amo tanto que não quero que você sofra de forma alguma.

Diga ao Papá que estou mandando muitos beijos para ele e alguns para Cristi e para a lindinha da Isoldita.

O tempo está muito melhor agora do que quando chegamos em São Francisco. Há flores em todos os lugares e muito sol. Mas a brisa do mar é úmida, e estou com uma tosse que não quer passar. Meu pé está bem, e minhas costas estão melhores. Eu fico cansada o tempo todo como antes, mas não me sinto mais tão deprimida quanto costumava me sentir. Pelo menos eu consigo pintar.

Ouça, Linda. Diga à Cristi que ela deve tratar o velho Hale muito bem. Quero que ele compre uma das minhas pinturas.

Escreva para mim de vez em quando. Não seja má. Você nem imagina a felicidade que chega com suas cartas. Como está o pobre tio Pepe? Mande lembranças para a vovó também.

Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 Carta de Frida Kahlo para a mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 12 de fevereiro de 1931 (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Mamacita chula, lembre-se de fazer o que eu pedi. Cuide-se bem. Não fique sozinha por muito tempo e não deixe de sair para se divertir aos domingos, mesmo que seja apenas na pequena sala de cinema suja da cidade. Caso contrário, você ficará muito entediada.

Ou, em algum domingo, leve o Papá para Cuernavaca. Custa dois pesos para chegar lá e dois para voltar. Um carro especial custaria dez, mas a Cristi, la nenita e uma outra pessoa poderiam ir junto. A Cristi sabe de onde saem os ônibus. Vocês poderiam ir de manhã e voltar à tarde. Diga à Kitty que o Gonzalez poderia levar vocês. Enviarei as passagens para que, pelo menos, vocês possam ver as pinturas de Diego no Palácio de Cortés.

Bem, minha Linda, mando para você milhares de beijos e meu enorme carinho. Mando o mesmo para o Papá, Kitty e para la nenita. A menina na foto que você me enviou se parece um pouco comigo e um pouco com a Cristi, não acha? Tire algumas fotos dos carequinhas recém-nascidos para que possamos começar a conhecê-los.

Cuide-se bem e, enquanto isso, sua "Frieducha" manda um milhão de beijos.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 23 de novembro de 1931 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 23 de novembro de 1931 (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Frida Kahlo para a mãe

23 de novembro de 1931, Nova York

Mamacita linda,

Ontem, finalmente chegaram duas cartas: uma do Carito e outra da Mati. Eles me disseram que você está bem, mas se você mesma pudesse escrever para mim, eu saberia exatamente como você está se sentindo.

Estou bem, até agora. Só estou bastante entediada e sinto muito sua falta.

Todos os dias têm sido uma batalha com a velha Senhora Paine, que está nos deixando loucos, junto com os amigos milionários dela. Mas o Diego e eu desatamos a rir e não prestamos atenção a ela. Mesmo assim, é uma luta para o Diego. Depois de trabalhar o dia todo, todos os dias, ele tem que se vestir com um smoking e sair para jantar com um monte de pensadores...[1]

Todos nos recebem muito bem. Os Rockefellers nos convidaram para o almoço e para o jantar. O filho do velho é muito inteligente e simpático, mas não é simples assim entrar nessa classe da sociedade. No que me diz respeito, não me importo nem um pouco com isso.

Os Covarrubias chegaram ontem. Miguel e Rosa têm sido excelentes amigos…

[1] Esse é um "albur" (jogo de palavras) tradicional mexicano. Frida usa a palavra “pensadores” (pessoa intelectual), mas ela o faz no lugar do termo vulgar “pendejo” (idiota).

Letter from Frida Kahlo to her mother Matilde Calderón de Kahlo, November 23, 1931 (page 2 of 6) (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…desde que estávamos no México. A Cristi deve se lembrar do filho deles, que costumava ir à casa da Rosa Rouaix. Nós comemos com eles e depois fomos ao Harlem, que é um bairro negro em Nova York.

Fomos assisti-los dançar. É lindo, e há milhares de belas garotas mulatas. Ninguém no mundo dança como eles. Ficamos muito felizes, mas o Diego acordou muito cansado hoje de manhã. Precisarei levá-lo ao médico. Ele está muito nervoso, e os olhos e pés dele estão inchando. Acho que pode ser um problema renal, mas, seja lá o que for, não quero que ele continue assim sem receber tratamento.

Está insuportavelmente quente em Nova York. Parece até que estamos em Veracruz. Suamos constantemente, dia e noite. E, como as casas e apartamentos têm muito pouco ar fresco, é terrível. Também é preciso ficar com as luzes elétricas acesas o dia todo, já que os prédios não têm acesso à luz do dia. É um sofrimento viver em uma cidade como esta, porque…

Letter from Frida Kahlo to her mother Matilde Calderón de Kahlo, November 23, 1931 (page 3 of 6) (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…os prédios muito altos não deixam entrar luz suficiente.

Ramon Alva estava caminhando e olhando para cima para ver o topo dos arranha-céus quando uma fuligem caiu nos olhos do coitado e ele sentiu muita dor. Coloquei um pouco de colírio Murine nos olhos dele, e ele está melhor agora. Ele é muito engraçado, esse Ramon. Você nem imagina!

A Matita me disse que eles ligaram seu telefone. Fico feliz, porque agora você pode ligar para las Gordas ou para quem quiser. É muito mais conveniente para você.

Como estão a Kitty, la nena e o Antonio? Você encontrou uma empregada? A Carmela me disse que a Timo iria trabalhar para você. Espero que seja verdade. Mesmo que você precise tolerar algumas coisas, ela será boa. Trabalhou muito bem para mim.

O que o Papá está fazendo? Diga a ele para me escrever. Tenho certeza de que ele já recebeu minha carta.

Você não imagina o quanto eu sinto por ter perdido um dos meus belos brincos. Tentarei encontrar alguém para fazer uma reposição…

Letter from Frida Kahlo to her mother Matilde Calderón de Kahlo, November 23, 1931 (page 4 of 6) (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…mas acho que será difícil.

O Caro também me disse que o Antonio fez uma visita. Ele é aquele de San Juanico que está cuidando das terras do Diego. Se ele voltar, diga a ele que o Diego mandará dinheiro para os impostos um dia desses. Ele é uma boa pessoa, em quem você pode confiar.

Este hotel é bom, mas muito caro. Pagamos 175 dólares por mês, mas o Diego prefere pagar um pouco mais do que ficar em um casebre, longe de onde ele está pintando, e eu concordo.

Agradeça a el Güerito pelo telefone e diga a ele que eu mandei muitos beijos para la Chula, Carlangas e Sor.

Se você precisar de alguma coisa, me avise. Não se acanhe, Linda>. Não importa quantas vezes me digam que você está bem, estou sempre preocupada com você.

Espero que não tenhamos que ir para São Francisco. Se não formos, estaremos no México em agosto. Independentemente do que aconteça, acredito que não ficaremos aqui por muito tempo.

Letter from Frida Kahlo to her mother Matilde Calderón de Kahlo, November 23, 1931 (page 5 of 6) (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Vou fazer um desenho do nosso apartamento no hotel para que você tenha uma ideia.

[desenho]

Ele fica no 27º andar. O Central Park fica muito bonito daqui, e temos um ar um pouco melhor do que outros apartamentos.

Na cozinha, o fogão elétrico é maravilhoso. Eu não cozinho nada, exceto o café da manhã. E, você sabe, sou uma péssima cozinheira. Faço café e ovos fritos, e comemos alguma fruta, gelatina ou presunto. Esse pequeno café da manhã custa cerca de um dólar e vinte cinco centavos por dia, o que equivale a aproximadamente três pesos mexicanos. É possível comer as refeições de um dia inteiro por esse valor no México.

Letter from Frida Kahlo to her mother Matilde Calderón de Kahlo, November 23, 1931 (page 6 of 6) (1931), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Eu almoço por cinquenta centavos em um restaurante e, até agora, fomos convidados para comer fora todas as noites. Mais tarde, eu terei que preparar o mesmo que comemos de manhã. A camareira arruma as camas e faz todo o resto, mas há gorjetas, gorjetas e mais gorjetas.

Agora, enquanto eu escrevo para você, estou sentada ao lado da janela aberta para que eu não cozinhe com o calor.

Bem, Linda mía, não se esqueça de me contar tudo e de se cuidar muito bem. Dê milhares de beijos na Isoldita, dê meus cumprimentos para o Toño e diga à Kitty para me escrever. Dê um beijo no Papá (quando ele estiver de bom humor) e, quanto a você, não se esqueça da sua Frieducha que adora você

Frieda

Ligue para Adri com frequência.
Você pode verificar como está a casa em San Ángel?

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 1º de janeiro de 1932 (1932), de Matilde Calderón de KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para a filha

Primeiro dia de 1932, México

Mi niña mía, mi Frieduchita (Minha querida, minha Friduchita)

Não consigo dizer o quanto eu gostaria de ser tão sortuda quanto esta carta e viajar para onde você está, beijar e conversar com você para deleite do meu coração, mas espero que em breve possamos fazer isso juntas. Chegará a hora em que poderemos aproveitar nossos momentos juntas.

Eu me lembro muito bem de quando você disse que ficaria feliz em viver como uma cigana. Você se lembra daquela noite em que disse isso? Pobre garota. Você não sabia o que estava desejando. Não é difícil se sentir completamente sozinha, sem ninguém que se importe com você?

Linda, a fotografia que estou mandando leva com ela muitos beijos meus para você. Lembre-se de ser o mais feliz possível.

Mande lembranças para o Diego.

O Sr. Montenegro ligou hoje para dizer que ele me trará as imagens. Estou esperando por ele.

O Paco ainda está doente. Cristi e as crianças estão bem.

Espero que você tenha um dia feliz na companhia de Diego. Desculpe-me pela escrita ruim, não reescreverei porque não tenho tempo. Tenho um presente para você aqui. Darei a você quando voltar. Mando muitos beijos até que eu possa beijá-la pessoalmente.

Sua mãe que te adora

–Matilde–

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Frida Kahlo para a mãe

8 de janeiro de 1932, Nova York

Mamacita linda,

Recebi uma carta da Kitty hoje. Ela diz que eu não deveria ser tão preguiçosa e que deveria escrever para vocês com mais frequência. Você não vai acreditar, mas em certas semanas não tenho um minuto livre nem ao menos para me coçar, de manhã, à tarde e à noite.

Há sempre pessoas me importunando com convites. À noite, eu caio na minha cama exausta de tanto ir de lá para cá. Esta semana, depois da abertura da exposição, foi uma das piores. Todos querem convidar o Diego para festas, chás e jantares. E, quando ele mesmo não pode ir porque está trabalhando…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…eu tenho que ir no lugar dele.

Ele deu algumas palestras muito boas: uma na Universidade Columbia e outra na Biblioteca Pública de Nova York. As pessoas ficaram encantadas. É inútil descrever os outros jantares para você, porque todos eles foram chatos e tediosos.

A cada dia, mais pessoas vêm ver a exposição. Dezenove mil pessoas a viram nos últimos nove dias. Dizem que nunca houve uma exposição tão bem recebida aqui em Nova York.

O Diego está pintando retratos agora, então ficaremos aqui até janeiro. Depois, de acordo com os planos do Diego, iremos para Detroit. Mas, recentemente, os jornais relataram que o diretor do Museu de Detroit, onde o Diego deveria pintar, foi demitido, juntamente com toda a equipe…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…e todos os outros funcionários. Por isso, ainda não está certo se iremos ou não. Eu sinto muito por isso, porque o Diego tem o sonho louco de pintar "a indústria siderúrgica" lá, e me deixa triste pensar que o pobre coitado não poderá realizar esse sonho. Por outro lado, isso seria melhor, já que poderíamos voltar ao México muito mais cedo. Bem, quem sabe como essa história do museu vai se desenrolar? Seja como for, eu aviso você a tempo sobre o que faremos em fevereiro.

Mati me contou como Isoldita ficou linda dançando o Jarabe no traje de China Poblana dela. Quando eu li a descrição da Mati…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…não pude parar de chorar, pensando em você, em la niña e em todos. Mas sei que tenho que passar por isso, e não há nada que possa ser feito.

Conte-me, Linda, como você e o Papá estão? Por sorte, estou com boa saúde. Estou cansada de viver cercada por essas senhoras e senhores velhos sempre tão arrumados e idiotas. Pelo menos o Diego está feliz aqui, pintando. E, até agora, ele tem estado bem. Não ficou doente nenhuma vez.

O tempo passará rapidamente, e voltaremos para o México assim que pudermos. No entanto, no que diz respeito a ganhar dinheiro, a situação tem sido um desastre. Até agora, ninguém comprou nada da exposição. Espero que haja interesse nos afrescos depois.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

Essa viagem está custando muito caro para o Diego. Espero que as obras dele vendam bem. Caso contrário, será uma grande calamidade, não acha?

Minha maior preocupação agora é a Kitty, mas acho que, se ela se cuidar, tudo ficará bem. Ela disse que o Marin está cobrando 250 pesos dela. Uma quantia alta demais, não acha? Eu não acho que seja certo ele cobrar tanto assim. Verei se o Diego pode escrever uma carta para ele ou posso eu mesma pedir a ele para não exagerar assim. E, se ele não alterar esse valor, há outros médicos que cobrariam menos. Eu não mandei a cesta de enxoval que mencionei. Eu ia ver se o Cônsul daqui…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…poderia levá-la para ela até o México, mas ele só irá ao México em março. Então enviarei o dinheiro para que ela possa comprar as coisas aí. Mandei o colar para a Isoldita, mas mandei muito tarde, então ele pode não chegar antes do dia 13 deste mês. Não consegui enviá-lo antes.

O tempo em Nova York muda de um dia para o outro. Há momentos em que há geada no chão, e outros em que o clima é agradavelmente brando. Mas, normalmente, faz frio à noite. Está muito frio no México?

Escreverei uma pequena nota para Lupe Paul sobre o que aconteceu com o filho dela. O pobre Manuelito deve estar desesperado!

Lindita, se você pudesse me escrever, mesmo que apenas uma carta bem curta,

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…isso me deixaria infinitamente feliz.

A pessoa que eu encontro com mais frequência é a Malu Cabrera. Até agora, ela tem sido muito legal. Sei que ela é falsa como uma nota de três dólares, mas pelo menos fala espanhol e tenho alguém com quem conversar. Além da Malu, encontro a Rosa e o Miguel Covarrubias, que são amigos muito bons.

Tenho outra amiga que é uma gringa quase da minha idade. Nós nos damos muito bem porque ela é simples, nem um pouco pretensiosa e uma pessoa muito boa. O nome dela é Wilma Cannon. Mês que vem, ela irá para a China. Ela se casará com o Cônsul…

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

…de lá. O pai dela a acompanhará até a China e a entregará para o noivo. Ela é muito inteligente e tem uma atitude positiva. Não é bonita, mas é uma boa pessoa.

Eu quase nunca vejo aquela mula velha da Paine. Nós mal trocamos uma palavra quando nos encontramos. Eu não confio nela e não consigo suportá-la.

Não tenho mais novidades. Tudo continua igual. Gosto mais de Nova York do que eu gostava no começo, mas o que quero mesmo é ir para casa, no México, e ver você.

Mande muitos beijos para o Papá, Kitty, la niña, Toño e para todos os outros. E para você, mi Linda, eu mando milhares deles, sua Frieducha, que adora você.

F.

Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 Carta de Frida Kahlo para sua mãe, Matilde Calderón de Kahlo, 8 de janeiro de 1932 (1932), de Frida KahloNational Museum of Women in the Arts

OBS.: Mande uma foto da Isoldita no traje de Poblana. Não se esqueça. E me mande o endereço do Hale.

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 8 de abril de 1932 Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 8 de abril de 1932 (1932), de Matilde Calderón de KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para a filha

8 de abril de 1932, México

Mi niña linda mi Friduchita,

Normalmente, você fica sabendo de tudo, mas de tudo mesmo, por aqueles que escrevem em meu lugar, que nunca me deixam muito a dizer. É por isso que, geralmente, você não descobre muitas novidades contadas por mim. Mas, desta vez, sou eu quem está escrevendo. Vou começar contando sobre esses últimos dias, em que eu estive muito ansiosa. Anteontem fomos à Cidade do México à tarde e jantamos na Cristina. Eu notei que ela parecia cansada, mas não dei muita atenção a isso porque ela tinha ficado bastante tempo em pé. Na manhã seguinte, o telefone tocou muito cedo. Era a Cristina. Ela disse: “Mamá, estou mandando la niña para você. Eu vou ao hospital.” Eu me senti muito mal, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer. Foi assim a manhã toda. Às três horas, telefonaram para me dizer que o garotinho tinha nascido. Ao mesmo tempo, bateram na porta, e era sua carta com as fotografias. Comecei a chorar de felicidade e falei com você como se realmente estivesse aqui.

Quero saber como você está se recuperando da sua luta contra a gripe. Ficamos muito preocupados aqui no México. Você deve consultar o médico e tomar remédios para se fortalecer. Cuide-se bem, ok?

Não se preocupe com os problemas do seu compadre [1]. Ele recebeu o dinheiro e sempre me pede para mandar os cumprimentos dele para você.

Estou mandando esses desenhos para que você se lembre do México, onde você…

[1] Um “compadre” é um padrinho, parente ou algum amigo muito próximo da família.

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 8 de abril de 1932 Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 8 de abril de 1932 (1932), de Matilde Calderón de KahloNational Museum of Women in the Arts

…faz muita falta. Não consegui ler os jornais dos últimos dias por causa de tudo o que aconteceu.

Diga ao Diego que eu o admiro mais a cada dia. Mande lembranças a ele e cuide bem dele. Mando muitos beijos, e que Deus cuide de você.

Sua mãe que adora você

–Matilde–

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 15 de agosto de 1932 Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 15 de agosto de 1932 (1932), de Matilde Calderón de KahloNational Museum of Women in the Arts

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para a filha

15 de agosto de 1932, México

Mi niña encantadora (Minha garotinha encantadora),

Nunca conseguirei explicar a sensação maravilhosa que eu senti quando ouvi sua voz com tanta clareza e tão bem, que parecia que você estava aqui do meu lado. Dei graças a Deus e ao homem que descobriu o poder de conversar a uma distância tão grande. Minhas palavras para você não são nada em comparação à enormidade desse sentimento que vivenciei pela primeira vez. Naquele mesmo dia e ao mesmo tempo, recebemos as fotografias que você mandou. É claro que todos queriam uma, então tive que dar algumas delas.

No domingo, o Sr. Allé veio com a esposa e os filhos, e eu mostrei as fotos para eles. Gostaram muito de uma do Diego e a levaram com eles.

El compadre (amigo) de Ixtacalco também estava aqui. Ele disse que as novas faturas fiscais chegaram e que os impostos totalizam 35 pesos. Diga-me se eu devo cuidar disso.

Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 15 de agosto de 1932 Carta de Matilde Calderón de Kahlo para sua filha Frida Kahlo, 15 de agosto de 1932 (1932), de Matilde Calderón de KahloNational Museum of Women in the Arts

Uma mulher americana veio com o filho de 15 anos. Ela queria ver o Diego e perguntar se ele poderia dar aulas para o filho dela.

Fiquei muito contente com o papel que você me mandou tão gentilmente e que estou usando hoje pela primeira vez. Mando meus agradecimentos e um beijo por fazer isso. Foi muito amável.

Fiquei muito feliz em ver a fotografia do Diego. Pode parecer inacreditável, mas eu sinto uma grande afeição por ele e me interesso por tudo o que ele faz. Diga a ele quanta estima tenho por ele e que o valorizo muito. E você, mi niña linda, receba todas as minhas bênçãos, da sua mãe que adora você,

–Matilde–

Créditos: história

The selection of letters on view are a part of the Nelleke Nix and Marianne Huber Collection: The Frida Kahlo Papers donated to NMWA in 2007.

The collection consists of over 360 unpublished letters related to the artist’s life and work, ranging from 1930 to 1954 and most of the material dating between 1930 and 1935. A significant portion of the collection is a group of letters between Kahlo and her family. The heartfelt letters showcased in this exhibition are from the last few years before Matilde Calderón’s death.

The letters highlight the personal affection between Kahlo and her mother and showcase Frida Kahlo as the person, not the icon.

Mamacita Linda: Letters between Frida Kahlo and her Mother was on view at the National Museum of Women in the Arts Library & Research Center May 1–July 31, 2012.

Créditos: todas as mídias
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