O Naufrágio do San Pedro de Alcantara

Naufrágio do San Pedro de Alcantara (1788/1788) de Jean-Baptiste PillementMuseu Nacional de Arqueologia

Depois de uma atribulada viagem com partida do porto de Callao, perto de Lima, no Peru e com escala para reparações durante quatro meses no Rio de Janeiro, o navio San Pedro de Alcantara, que se dirigia a Cádis, naufragou por erro de navegação, numa noite do Inverno de 1786, junto do rochedo da Papoa, em Peniche.

Salvamento do San Pedro de Alcantara (1788/1788) de Jean-Baptiste PillementMuseu Nacional de Arqueologia

De vários países da Europa chegaram mergulhadores para as operações de resgate de bens e equipamentos.
O impacte destas operações, que duraram vários anos, deixou marcas profundas na população local.

La Desgracia Imprevista y la Felicidad Inesperada (1746/1799) de Luis ParetMuseu Nacional de Arqueologia

“Muitos encontraram a morte no naufrágio, outros dele a prosperidade. “O balanço final é um estrondoso sucesso técnico: passou-se da catástrofe inicial a um autêntico exercício de exorcismo económico. Muitos achados, inclusive, pertencem a um «contrabando» de bordo revelado pelo trabalho dos buzos …”(Jean-Yves Blot)

Punho de serrote (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

Em apneia entre cabos, roldanas e destroços, homens capazes de mergulhar no sítio do naufrágio, recuperaram (1786 - 88), valiosos bens e equipamentos, que foram transportados em carros de bois para Lisboa e daí para Espanha.

Toque para explorar

Um epitáfio conservado no Museu de Peniche com a epigrafia relativa à sepultura de Don Vicente Vargas y Varaes, oficial que morreu no naufrágio do navio de guerra espanhol San Pedro de Alcantara, em 1786, constituiu o ponto de partida para a série de campanhas arqueológicas realizadas entre 1985 e 1999, tanto em terra como no mar. 
Os trabalhos foram dirigidos pelos arqueólogos Jean-Yves e Maria Luísa Blot, no âmbito das atividades do então Instituto Português do Património Cultural (1980-1997), atual Direção-Geral do Património Cultural e do Museu Nacional de Arqueologia.

Veja aqui em StreetView o sítio do naufrágio.

Esqueleto encontrado no naufrágio do San Pedro de Alcântara (1786/1786)Museu Nacional de Arqueologia

Entre as vítimas figuravam, indígenas sul-americanos (peruanos) embarcados com o estatuto de prisioneiros políticos, após o desaire da rebelião indígena de 1780, liderada por Tupac Amaru.

Grilheta (manilha) (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

Toque para explorar

Local da escavação do depósito funerário comum, onde foram depositados em dias sucessivos ao naufrágio, as vítimas do acidente.
A escavação foi da responsabilidade da arqueóloga Maria Luísa Blot e teve a colaboração da antropóloga peruana Judith Vivar Anaya.

Estribo (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

O primeiro objeto que permitiu identificar o sítio submarino. “Lembro-me de como o vi no fundo do mar, no momento do achado. Só se via uma concha estranha acinzentada. Aproximei a mão, vi surgir da areia a cabeça de um fauno, e outro fauno a seguir, de mesma cor” (Jean-Yves Blot)

Culatra de peça de retrocarga; dois pelouros e prumo Culatra de peça de retrocarga; dois pelouros e prumo (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

“Em circunstâncias «normais», um navio, saindo de Callao, Perú, atingia o porto de Cádis em pouco mais de seis meses. Algo de muito «anormal» ocorreu com esta viagem do San Pedro de Alcantara, que seria a última” (Jean-Yves Blot).
O navio de 64 canhões que foi construído em Cuba, mais de uma década e meia antes do naufrágio, transportava mais de 750 toneladas de metal.

Punhos de sabre (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

Entre os numerosos objetos encontrados durante a escavação, identificaram-se também testemunhos de armas pessoais pertencentes a elementos da guarnição do navio militar.

Seis Moedas de Carlos III (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

O navio, com cerca de 400 passageiros a bordo, trazia 603 toneladas de cobre chileno, mais de duas mil caixas de moedas de prata e ouro, lastro, bens e equipamentos. No naufrágio pereceram mais de uma centena de pessoas.

Objetos de uso pessoal Objetos de uso pessoal (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

“Os objectos pessoais encontrados na parte secundária do perímetro de dispersão são o reflexo do estatuto social dos respectivos proprietários. Sugerem, além disso, uma associação espacial com a popa do navio”. (Jean-Yves Blot).

Objetos de uso pessoal Objetos de uso pessoal (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

Nos despojos, nos vestígios da área da popa do navio, encontraram-se vários objetos pessoais, pertenças dos passageiros que seguiam a bordo.

Ornamentos e objetos de uso pessoal em prata, Da coleção de: Museu Nacional de Arqueologia
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Fragmentos de taças Fragmentos de taças (Século XVIII)Museu Nacional de Arqueologia

“Alguns outros indícios (fragmentos de plantas, de madeira, um fragmento de vidraça e pequenas porções de mercúrio) que se encontravam associados a estas cerâmicas, ou localizados nas imediações, sugeriam uma ligação com as colecções científicas que se haviam perdido no naufrágio e que faziam parte das colecções enviadas pelos botânicos espanhóis Ruíz e Pavón, cientistas em missão no Perú e no Chile desde 1778” (Jean-Yves Blot).

Maria Luisa Blot (1988/1988)Museu Nacional de Arqueologia

Homenagem a Maria Luísa Pinheiro Blot (1946-2014), arqueóloga responsável pela escavação do depósito funerário do Porto da Areia do Norte (escavação San Pedro de Alcantara), Peniche.

“Para mim, a Maria Luísa era um ser superior. De sabedoria e generosidade tão raras que a sua presença irradiava uma energia benfazeja que ocupava mais espaço que o do seu corpo. Não se limitava a ensinar o seu saber, irmanava-nos da sua quase mágica Visione del Mondo. Havia nela qualquer coisa do heróico furor de Giordano Bruno, ou da sapientíssima intuição De l'Infinito Universo e Mondi: uma humanista que iluminava a tez cinzenta do nosso mundo. Por também isso era muito bom gostar dela, uma alegria ouvi-la, um privilégio conhecê-la. Dentro de mim a Maria Luísa habita aquele encantado lugar de memórias onde albergo muito poucos.”
(Alexandre Sarrazola) poète, archéologue de la façade fluviale de la ville-port de Lisbonne, 3 Novembre 2015). Extrait de J-YB: BROUILLON NOSTALGIQUE, inédit.

Entrada da exposição “O Tempo Resgatado ao Mar” (2014-03-20/2015-09-06)Museu Nacional de Arqueologia

”O Tempo Resgatado ao Mar", uma exposição

“No início dos anos 80, do século passado, os caminhos dessa ciência (Arqueologia Náutica e Subaquática) e o Museu Nacional de Arqueologia cruzaram-se, com a criação de uma linha de investigação que contribuiu para a posterior estruturação orgânica e legal da atividade, que se passou a basear em métodos e técnicas, próprios da Arqueologia. Neste impulso importa destacar, naturalmente, o relevante contributo de Francisco J. S. Alves, responsável pelo desenvolvimento de projetos pioneiros de investigação no setor e, simultaneamente, diretor do Museu Nacional de Arqueologia entre 1980 e 1996.”

(António Carvalho)

Exposição 'O Tempo Resgatado ao Mar' (2014/2015)Museu Nacional de Arqueologia

Foi a celebração da Arqueologia Náutica e Subaquática, que passados trinta anos sobre as primeiras iniciativas em Portugal, o Museu Nacional de Arqueologia, consolidou o que viu nascer de uma pequena equipa, que nos inícios dos anos 80, dirigida por Francisco Alves e constituída por Adolfo Silveira, Mário de Almeida, Emanuel Perez, Paulo Agostinho e Paulo Deodato, levaram a efeito a primeira escavação nos despojos do navio almirante francês de 80 canhões “L’Océan” (1759), Salema, Vila do Bispo, Algarve.

Créditos: história

Coordenação:
António Carvalho, Diretor do Museu Nacional de Arqueologia

Concepção e textos:
Adolfo Silveira, Museu Nacional de Arqueologia

Imagens:
José Paulo Ruas, Direção-Geral do Património Cultural
Mattias Tissot

Digital production:
Luís Ramos Pinto, Direção-Geral de Património Cultural
Maria Filomena Barata, Museu Nacional de Arqueologia

Bibliografia:
Textos adaptados de Jean-Yves Blot, in Concerto para mar e orquestra. San Pedro de Alcantara, 1786. Município de Peniche, 2008. 132 pp.; Topologias, vertentes metodológicas em arqueologia do universo náutico. Jean-Yves Blot (com a participação de Maria Luisa Pinheiro Blot).
MARTINS, Adolfo Silveira, com. cient. - "O tempo resgatado ao mar". Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia; Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2014. 45-74 p. Catálogo.

Siglas:
DGPC- Direção-Geral do Património Cultural
ADF / DGPC – Arquivo de Fotografia
OTRM – Exposição “O Tempo Resgatado ao Mar”, Museu Nacional de Arqueologia, 20-03-2014/06-09-2015.
CNANS – Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática
OTRM – Catálogo da Exposição “O Tempo Resgatado ao Mar”

Créditos: todos os meios
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes, podendo nem sempre refletir as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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