Os murais da Biblioteca do Congresso

Portinari foi convidado a pintar murais na biblitoeca em Washington, D.C.

Descoberta do Ouro (1941), de Candido PortinariProjeto Portinari

Correspondência Correspondência (1940-11-04), de Archibald MacLeishProjeto Portinari

Em 1940 Candido Portinari recebeu do Diretor da Biblioteca do Congresso, o poeta Archibald MacLeish, uma carta em que dizia:

“Há muito tempo que desejamos mostrar no vestíbulo da sala hispânica uma pintura mural de algum grande artista latino-americano. Nossa intenção é salientar ainda mais os objetivos da Fundação Hispânica e também o seu profundo interesse pela arte moderna americana. Agora tenho esperança de conseguir verba para os afrescos. Escrevo-lhe para participar que estou pensando no senhor para esta importante e difícil tarefa.”

Portinari e família (1941)Projeto Portinari

Em junho de 1941 Portinari embarcava para Washington para iniciar os trabalhos na Biblioteca do Congresso.

CorrespondênciaProjeto Portinari

Em 17 de setembro, foi ao Presidente Vargas que MacLeish escreveu:

“(...) desejo agradecer a Vossa Excelência pela gentilíssima atenção que prestou ao nosso convite feito ao sr. Portinari para que considerasse a preparação dessas decorações, e à esplêndida ação de Vossa Excelência em mandar o distintíssimo pintor a Washington para executar os desenhos preliminares...

Portinari na Biblioteca do Congresso (1941)Projeto Portinari

...Tenho a certeza que a realização deste importante projeto nas paredes de nossa Fundação Hispânica, que rapidamente se torna um centro proeminente, neste país, de estudos da cultura da América Latina, terá as mais largas e benéficas consequências na atual obra de aproximação cultural entre os povos das duas grandes repúblicas, os Estados Unidos do Brasil e os Estados Unidos da América do Norte.”

Descoberta do Ouro, Candido Portinari, 1941-09-29, Da coleção de: Projeto Portinari
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Descoberta do Ouro, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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"Portinari fez em aquarela os primeiros esboços dos painéis que deveria executar e os submeteu ao poeta para a aprovação dos órgãos oficiais. O arquiteto do Capitólio transmitiu sua inteira aprovação aos estudos que foram apresentados. 'Achou-os admiráveis'- dizia MacLeish."

Antonio Bento

Mineração do Ouro, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Garimpeiros, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Garimpo, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Mineração, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Catequese, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Catequese, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Catequese I, Candido Portinari, 1941, Da coleção de: Projeto Portinari
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Portinari na Biblioteca do Congresso (1941)Projeto Portinari

Portinari na Biblioteca do Congresso (1942-01-05), de Thomas D. McAvoyProjeto Portinari

Em outubro, Portinari escrevia ao ministro Capanema sobre o andamento do trabalho:

“(...) tenho o prazer de lhe comunicar que os estudos foram aprovados pelo MacLeish e pelo arquiteto Capitólio. (...) Amanhã os estudos serão fotografados, e logo que eu tenha cópia lhe mandarei. O tamanho do trabalho é de 1.000 pés quadrados. Vou executar a têmpera sobre o muro...

...Estou me dedicando a este trabalho com o mesmo entusiasmo com que me dediquei aos do seu Ministério, e espero realizar trabalho proveitoso no sentido de propaganda do Brasil, pois apesar dos assuntos serem comuns a todos os países da América, está claro que vou fazer o Brasil.”

Descoberta do Ouro (1941), de Candido PortinariProjeto Portinari

"Fora de seu país, fora do ambiente natal familiar, sentiu-se menos enraizado, mais livre para entregar-se, sem nenhum empecilho, de nenhuma ordem, ao demônio de sua virtuosidade, de seus recônditos impulsos, de sua inspiração. Jamais, e isso se depreende logo à primeira vista, em nenhum outro momento de suas realizações murais, se sentiu mais livre, mais desimpedido, mais disposto a fazer as Ginásticas técnicas mais perigosas, e as deformações mais violentas. Estas foram composições executadas sob um profundo sentimento interior de liberdade."

Mário Pedrosa

Catequese (1941), de Candido PortinariProjeto Portinari

Com o ataque japonês a Pearl Harbor em dezembro e a consequente entrada dos Estados Unidos na guerra, Portinari decidiu deixar a América, encontrando, no entanto, sérias dificuldades para sair do país. Escreveu a Mario de Andrade:

“Terminei os murais na Biblioteca do Congresso – gostaria que você os visse – creio que é a melhor coisa que fiz. Parece-me que quem entendeu realmente o que fiz foi o MacLeish – os outros da Biblioteca são muito amáveis, mas um tanto acadêmicos...

...As fotografias não dão ideia – pois o tamanho e as cores contam muito. O pessoal batuta daqui está gostando muito e creio que terá repercussão mesmo com guerra.”

Portinari na América Portinari na América (1942-02-07)Projeto Portinari

"Os temas seriam: O Descobrimento, A Entrada, A Catequese e O garimpo. Representavam desse modo a descoberta do continente americano pelos navegantes da Espanha e de Portugal, a posse da terra, a catequese dos jesuítas e, finalmente, a procura do ouro."

Antonio Bento

Portinari na America do Norte Portinari na America do Norte (1942)Projeto Portinari

Os afrescos foram inaugurados em 1942. Sobre esta inauguração pronunciam-se importantes críticos, como Chandler de Brossard:

“A obra de Portinari para a Fundação Hispânica na Biblioteca mostra ser ele não só um desenhista mais do que competente e um colorista inteligente com grande facilidade de composição, como também um homem dotado de uma compreensão profundamente comovedora e intensamente direta da parte substancial da sociedade - o homem comum. Seus símbolos exalam a vibração da vida”.

Descobrimento (1941), de Candido PortinariProjeto Portinari

Os discursos pronunciados na ocasião foram transmitidos para o Brasil, em ondas curtas, como o de Robert C. Smith, diretor assistente da Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso:

"O problema de Portinari nas pinturas para a Fundação Hispânica constituiu em achar símbolos que interpretassem não só a história antiga do seu país como fossem aplicáveis às outras terras da América do Sul e do Centro. Em primeiro escolheu o descobrimento da terra, a chegada dos navios que traziam gente da Espanha e de Portugal para o Novo Mundo. Caracteristicamente, o seu quadro é dominado não pelos capitães, pelos almirantes ou pelos padres da Conquista, mas pelos comuns marinheiros de esquadra...

...Nesta obra há, mais uma vez, uma violenta excitação. O símbolo da mão do trabalhador é usado nos padrões mais variados, erguida, gesticulando, segurando. O estilo é impressionista (...) na forma, pois os traços dos mineiros são poucos definidos. Os narizes são triângulos de linhas rápidas, os dedos são inacabados como notas staccati. Impressionista nas cores, nas pinceladas brilhantes, nas tintas do barco, no cabelo dos negros, no brilho do ouro e no reflexo dos peixes. Este quadro marca a ampla evolução do estilo mural do pintor pela dissolução da forma, da cor, e está mais claramente relacionado com os seus recentes quadros a óleo. (...) Como Mr. Archibald Mac Leish (diretor da Biblioteca do Congresso) declarou numa carta ao presidente Getúlio Vargas, (...) (esses painéis de Portinari) representam uma contribuição para as artes americanas, altamente original e importante.”

No MAM a pintura monumental de PortinariProjeto Portinari

Desbravamento da Mata (1941), de Candido PortinariProjeto Portinari

Portinari não compareceu à inauguração, como diria mais tarde à um repórter: “a minha missão estava terminada, quando dei o último retoque ao meu trabalho. O resto era para o good neigbour...”.

Portinari deixa Washington com destino a Miami, de onde seguiria para o Brasil, passando por Nova York, para retratar a mães de Nelson Rockfeller. Foi provavelmente nesse momento que ele viu no MoMa a tela Guernica, de Picasso, que produziria sobre ele grande impacto.

O Último Baluarte (1942), de Candido PortinariProjeto Portinari

"Picasso fulmina-me."

Em maio de 1946, a revista portuguesa Vértice publica entrevista de Portinari a Mário Dionísio, com o seguinte diálogo:

"... ' - Não aceita que sofra diferentes influências e que isso vá influindo por sua vez na produção?' (...)
' - Claro! Ninguém foge às influências. Elas são naturais, indispensáveis mesmo.'
' - E que influências aceita, então?'
' - Muitas', respondeu Portinari com aquela simplicidade e franqueza tão suas, com aquele ar que só nele conheço de falar (raramente) da sua obra como quem fala da coisa mais natural e menos importante do mundo.
' - Tenho sofrido muitas influências, nem posso com precisão indicá-las todas. Toda a escola italiana, Goya...Tenho uma fase meio-goyesca. Olhe este Tintureiro, esta Festa de S. João.'
E, com uma voz repassada de entusiasmo, exclamou de repente:
' - E Picasso!'
Pensava nisto desde que vira a reprodução de O Ultimo Baluarte, que não posso deixar de encarar como uma Guernica mais humana, se me é possível dizer isto, mais próxima do homem comum, mais presa às suas origens. Mais nossa - disse-lhe depois.
' - Picasso anda, com efeito, por detrás de algumas destas coisas admiráveis. O Ultimo Baluarte é o caso mais evidente, não?'
' - Sim, Picasso fulmina-me.'
Os seus olhos, ligeiramente oblíquos, azuis, estavam agora novamente pequeníssimos, apertados.
' - Eu tinha de fazer O Ultimo Baluarte. Se o não tivesse feito, isso teria sido muito mau. Era preciso fazê-lo e esperar o que acontecesse. Ou me afundaria ou conseguiria dar o salto.'
E, escolhendo ao acaso uma das reproduções dos Retirantes, acrescentou:
' - Foi o que aconteceu, dei o salto.'..."

Retirantes (1944), de Candido PortinariProjeto Portinari

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