Instituto Socioambiental - ISA
Instituto Socioambiental
Apresentação
O “Manual dos remédios tradicionais Yanomami” é resultado de um longo trabalho de pesquisadores Yanomami. Jovens deste povo estão sendo formados para produzir pesquisas que ajudem a fortalecer seus conhecimentos tradicionais e dialogar com outros conhecimentos indígenas e não indígenas. O manual se inspirou na pesquisa do antropólogo Bruce Albert e do botânico William Milliken, realizada entre 1992 e 1994, que apresenta um extenso levantamento das plantas medicinais usadas pelos Yanomami para curar diferentes doenças.
Maloca Yanomami na região de Toototopí (2010), de Edson SatoInstituto Socioambiental - ISA
Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas no Brasil: uma população de 22 mil pessoas que vive nos estados do Amazonas e Roraima, no norte do País. Seu território está localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela, com a presença de diversas comunidades no país vizinho. O Instituto Socioambiental (ISA) trabalha com os Yanomami para desenvolver projetos que garantam a proteção de seu território, o fortalecimento de suas organizações e a valorização da sua cultura.
Interior da maloca da Comunidade Watoriki (2013), de Marcos WesleyInstituto Socioambiental - ISA
Timóteo Xirixana na floresta durante Expedição Õkãpomaɨ (2014), de Mídia NINJAInstituto Socioambiental - ISA
Os Yanomami possuem um jeito diferente de entender o que se costuma chamar de "natureza". Na sua língua dizem Urihi a - terra-floresta - uma entidade viva que faz parte de uma complexa dinâmica de relação entre humanos e não-humanos, como animais, plantas e outros.
O líder e xamã Davi Kopenawa Yanomami (2016), de Matthieu Jean Marie LenaInstituto Socioambiental - ISA
“Os brancos pensam que a floresta foi posta sobre o solo sem qualquer razão de ser, como se estivesse morta. Isso não é verdade. Ela só é silenciosa porque os espíritos xapiripë detêm os entes maléficos e a raiva dos seres da tempestade. Se a floresta fosse morta, as árvores não teriam folhas brilhantes. Tampouco se veria água na terra. Nossa floresta é viva, e se os brancos nos fizerem desaparecer para desmatá-la e morar em nosso lugar, ficarão pobres e acabarão sofrendo de fome e sede.” – Davi Kopenawa Yanomami
Espírito xamânico da árvore jatobá (2003), de Joseca YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Espírito xamânico da árvore jatobá (Hymenaea parvifolia, arõ kohi), com ninhos de pássaros japiim xexéu (Cacicus cela, ayõkora)
Xamãs Yanomami reunidos em encontro na aldeia de Watoriki (2011), de Beto RicardoInstituto Socioambiental - ISA
Encontro de Xamãs Yanomami (2011), de Beto RicardoInstituto Socioambiental - ISA
O sistema de cura Yanomami é baseado na atuação dos xamãs. Eles são como um escudo protetor contra os poderes maléficos oriundos dos humanos e dos não-humanos. São incansáveis guerreiros do invisível, dedicados a proteger a vida dos membros de suas comunidades.
Homens Yanomami utilizando plantas medicinais, de William MillikenInstituto Socioambiental - ISA
Quando alguém na aldeia adoece a aplicação dos remédios extraídos da floresta é feita em conjunto com a ação do xamã. O conhecimento sobre estes remédios era mantido e repassado tradicionalmente pelas mulheres idosas, que os aplicavam em complemento e em acordo com o trabalho de cura dos xamãs.
Pesquisadoras Yanomami (2012), de Vicente CoelhoInstituto Socioambiental - ISA
Nos anos 1970, no entanto, as mulheres de algumas aldeias yanomami, conhecedoras dos remédios da floresta, morreram por conta das epidemias de sarampo e malária trazidas pela invasão do território yanomami por não-indígenas. Por conta disso, os saberes sobre os remédios da floresta foi mantido apenas por alguns dos filhos das mulheres sobreviventes.
Yanomami desenvolvem pesquisa intercultural sobre plantas medicinais em oficinas, de William MillikenInstituto Socioambiental - ISA
No começo dos anos 1990, a pesquisa sobre as plantas medicinais yanomami ajudou a revalorizar a medicina tradicional do povo, em detrimento de remédios industrializados usados para combater as doenças trazidas pela invasão garimpeira do fim dos anos 1980. Após um intenso processo de fortalecimento político e formação de pesquisadores yanomami, a pesquisa e uso dos remédios tradicionais tornaram-se prioritários nas aldeias.
Entrevista com anciãos sobre o uso das plantas medicinais (2012), de Vicente CoelhoInstituto Socioambiental - ISA
Vinte anos após a pesquisa, o quadro das doenças oriundas dos não-indígenas se estabilizou e os remédios industriais deixaram de ser supervalorizados. Os conhecimentos dos antigos começaram a despertar o interesse das novas gerações de Yanomami. Entre 2012 e 2013 foram realizadas oficinas de pesquisa envolvendo nove jovens pesquisadores yanomami. Essa equipe entrevistou longamente três anciãos, além de outros membros da comunidade. O “Manual dos remédios tradicionais Yanomami” é a concretização deste projeto de escuta, transmissão e sistematização do conhecimento.
Mulheres Yanomami com o Manual dos Remédios Tradicionais Yanomami (2016), de Mari Corrêa / Instituto CatituInstituto Socioambiental - ISA
Expedição Õkãpomaɨ – A defesa da Terra Indígena Yanomami (2014), de Mídia NINJAInstituto Socioambiental - ISA
"Primeiro os xamãs indicavam as folhas: ‘quando você ver essas folhas penduradas no mato, você vai esfregar o doente com elas, sua febre vai diminuir; quando esfregar o doente com as folhas saima hanaki, esfregue toda a sua cabeça e dê banho nele inteiro, isso!’. A mulher idosa colhia as folhas, as provava com a língua, as amassava com as mãos, fazia com elas um caldo espesso e dava banho no doente: ‘xaoo, xaoo’. É assim que faziam as mulheres idosas quando eram ainda numerosas." – Justino Yanomami
Desenho da planta Saima hana kɨ, de Ehuana YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Peperomia macrostachya (Vahl) A. Dietr.
Popular: Tipo de epífita
Utiliza-se as folhas no tratamento da gripe
Pesquisadores entrevistam os anciãos sobre o uso das plantas medicinais (2012), de Vicente CoelhoInstituto Socioambiental - ISA
"Depois que nesse lugar todos morreram, depois de uma feitiçaria de epidemia, acabaram todas as mulheres mais idosas e nós ficamos empobrecidos. Porém, apesar de ficar empobrecidos, outras mulheres que sobreviveram continuaram a nos tratar de perto; outras mulheres mais novas, como aquelas sentadas ali, que tinham visto suas mães curarem." – Justino Yanomami
Puu hana kɨInstituto Socioambiental - ISA
"Os nossos antigos conheciam muitos tratamentos. Quando tinham coceira de caranguejeira por conta de feitiço, se esfregavam com raspas de frutas de puu thotho, com folhas puu hana kɨ e raspas de árvores hwapoma hi, raina tihi e wapo kohi… Quando tinham coceiras, se esfregavam com raspas de hwapoma hi, no tempo dos antigos se esfregavam com isto. Depois de aplicar, a coceira some; era assim que se tratavam uns aos outros". – Justino Yanomami
Desenho da árvore Raina tihi, de Ehuana YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Anaxagorea acuminata (Dun) A. St. -Hil.
Popular: Envira-de-jacu
A casca da árvore é utilizada para coceiras em geral. Também é utilizada para tratar doenças-epidemias xawara
Desenho da árvore Wapo kohi, de Ehuana YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Clathrotropis macrocarpa Ducke
Popular: Cabarí
A casca é usada para tratar febre causada por doença-epidemia xawara e também coceiras provocadas por aranha-caranguejeira
Maokori sina kɨ, de Ehuana YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Renealmia alpinia (Rottb.) Maas, Renealmia floribunda K. Schum
Tipo de erva
O caule é utilizado para tratar infecções e inflamações nas pernas causadas por feitiçaria
Renealmia alpinia (Rottb.) Maas
Renealmia floribunda K. Schum
Desenho da árvore Pirima ahu thotho, de Ehuana YanomamiInstituto Socioambiental - ISA
Spondias mombin L.
Popular: Cajá
As frutas e as folhas são usadas para tratar fraqueza e para doenças-epidemias xawara
Noite na casa coletiva da aldeia Watoriki (2011), de Leandro LimaInstituto Socioambiental - ISA
Da publicação
Conhecedores entrevistados: Antonio, Jonas, Justino, Luana, Lucas, Madalena e Paulo Yanomami
Entrevistadores: Anita, Denise, Edmar, Ehuana, Guiomar, Junior, Morzaniel, Nílson, Salomé e Suanã Yanomami
Assessoria: Bruce Albert (Institut de recherche pour le développement - IRD), William Milliken (Royal Botanic Gardens, Kew) e Vicente Coelho (ISA)
Baixe a publicação na íntegra em http://isa.to/manual-dos-remedios-tradicionais-yanomami
Da exposição
Curadoria: Marília Senlle
Edição de texto: Tatiane Klein e Gabriella Contoli
Agradecimentos: Alex Piaz, Beto Ricardo, Bruno Weis, Claudio Tavares, Estevão Benfica, Marcos Wesley, Moreno Saraiva e Tony Gross
Acesse o site do Instituto Socioambiental - ISA: https://www.socioambiental.org/pt-br