Arte da Itália: de Rafael a Ticiano

Ressurreição de Cristo (1499 - 1502), de Rafael (Raphael)MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

A arte da Itália recebeu atenção especial do diretor-fundador do museu, o italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999), com aquisições extraordinárias de obras de Rafael, Mantegna, Bellini, Ticiano e Tintoretto, entre outros. Esta exposição, apresentada no MASP de 26.6 a 4.10.2015, incluiu obras da coleção do MASP do século 13 ao 18, do período medieval à Renascença e ao Barroco. Ao lado das pinturas, na mesma parede, foram mostrados documentos e fotografias sobre doações, aquisições, empréstimos, atribuições e exposições, parte dos arquivos histórico e fotográfico do museu. O interesse foi considerar a obra não apenas no contexto da história da arte, mas também em sua relação com o MASP, São Paulo e o Brasil. O núcleo central de "Arte da Itália" são as transformações estéticas e técnicas da Renascença, período fundamental da história da arte, abrangendo um arco temporal que vai do classicismo de Rafael às experiências cromáticas de Ticiano, que influenciaram as gerações posteriores. 

Retrato do cardeal Cristoforo Madruzzo (1552), de Ticiano [Titian]MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Os trabalhos exibidos foram produzidos na região que hoje se conhece como Itália, mas que até o século 19 era um conjunto de pequenos Estados, administrados por poderes locais independentes, pela Igreja Católica ou por potências estrangeiras. Dessa forma, cada região desenvolveu uma produção em pintura bastante particular, com características distintas, como as linhas precisas em Florença, a preocupação com a arquitetura e a perspectiva na Úmbria ou o uso da cor em Veneza. Cada artista utilizava esse repertório local à sua maneira, recebendo também influências externas, e produzindo obras que refletiam momentos específicos, expressando visões próprias. 

A expografia foi uma retomada de dois projetos de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta responsável pelo MASP, para o acervo do museu. O primeiro foi uma reconfiguração dos painéis suspensos utilizados para expor a coleção do museu na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), entre  1957 e 1959 – originalmente, painéis de dezoito metros, aqui eles têm 24 metros. O segundo resgatou as estruturas tubulares de metal que exibiam as pinturas, também de forma suspensa, projetadas para o MASP em 1947, ano de sua fundação, na antiga sede da rua 7 de Abril – com elas são expostas aqui pinturas de Perugino e Ticiano. A recuperação de projetos de Lina nas exposições de 2015 apresentou ao público o percurso da arquiteta até chegar aos famosos cavaletes de vidro. Lina projetou os cavaletes para a exposição do acervo no segundo andar do museu na avenida Paulista, inaugurado em 1968. Sem uso desde 1996, eles voltaram no em dezembro de 2015. Os longos painéis utilizados na exposição favoreceram a organização cronológica dos trabalhos. Ao recusar o agrupamento por escolas artísticas, que pautavam o gosto e o estilo de uma região, buscou-se evidenciar as singularidades de cada obra. Nesse sentido, a ideia de cronologia aqui empregada não carrega uma noção evolutiva ou de progresso, mas reforça as concepções de mundo e as formas de conhecimento de cada artista. A seguir, uma seleção do grupo de obras exposto em "Arte da Itália."

Virgem em majestade com o Menino e dois anjos (circa 1275), de Maestro del BigalloMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Maestro del Bigallo
Maestro del Bigallo é o nome consolidado pela historiografia de arte italiana para identificar um pintor anônimo do século13. Bigallo, termo arcaico para a palavra italiana ospedale, era o abrigo de peregrinos e viajantes mantido pelos doze capitães que dirigiam a Compagnia Maggiore di Santa Maria, órgão da Inquisição papal criado em 1244, em Florença. O nome também remete ao galo pintado pelo mesmo artista no crucifixo que se tornou emblema da Compagnia.

Apenas no século 20 a pintura da coleção do MASP foi identificada como do artista pelos especialistas em arte italiana. A obra de Bigallo revela a influência da cultura bizantina, que chegava à Itália do século13 por meio das iluminuras—grafismos que ornamentavam os manuscritos medievais.

A pintura apresenta características típicas da arte bizantina: composição com linhas rígidas, falta de profundidade, dureza na representação das figuras e uso de simbologias—como o lenço carregado pela figura feminina, que remete ao vestuário cerimonial das imperatrizes bizantinas, e o halo arredondado na parte superior da obra. O aspecto gráfico das linhas que definem o drapeado das vestes é o responsável por dar certo volume e luz à pintura.

A peça pertencia ao casal Lina Bo (1914­­1992) e Pietro Maria Bardi (1900-1999), arquiteta e ex-diretor do museu, e foi doada por Bardi ao MASP no aniversário de 45 anos do museu, em1992, como homenagem à memória de Lina.

Virgem com o Menino Jesus (1310 - 1320), de Maestro di San Martino alla PalmaMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Maestro di San Martino
Maestro di San Martino alla Palma é o nome atribuído pela historiografia de arte italiana a um pintor atuante em Florença no século14. O nome remete à igreja da cidade de San Martino alla Palma, onde se conserva grande parte da obra do artista. Por muito tempo, a autoria desses trabalhos foi erroneamente vinculada ao nome de Bernardo Daddi (1280-1348), pintor sobre quem o Maestro teria exercido alguma influência.

As obras do Maestro opõem-se à pintura monumental de Giotto (circa 1266-1337), estilo que dominava a arte italiana do século14. Sua pintura carregava valores góticos, caracterizados por composições lineares e por relações afetuosas e intimistas entre as personagens retratadas, com a presença de miniaturas.

A obra do MASP, provavelmente feita para um altar—dado o formato superior de cúspide (acabamento angular que aponta para cima)—, mostra uma cena tradicional da iconografia cristã em que Maria e o menino Jesus trocam olhares e reflete a teologia e o pensamento filosófico dos primórdios da Renascença, caracterizados por uma retomada do platonismo, no qual o olhar seria um prolongamento da alma, indicando uma conexão espiritual entre as figuras.

Adoração dos reis magos (1351 - 1375), de Atribuído a Paolo Serafini da ModenaMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Paolo Serafini da Modena
Há pouca documentação sobre a vida de Paolo Serafini da Modena. As informações sobre o artista estão inscritas nas duas únicas obras conhecidas que assinou. Na primeira delas (Madona da humildade, da Galleria Estense, em Módena), a inscrição revela que Paolo era frade dominicano. Já nos murais da catedral da cidade de Barletta, o artista deu pistas sobre sua data de nascimento, um ano antes do casamento do pai, o pintor Serafino Serafini (1323-1393).

Historiadores atribuíram ao artista outras cinco obras, entre elas a do MASP, "Adoração dos reis magos". A cena representa a visita dos reis magos no nascimento de Jesus. A pintura foi feita para um retábulo, plataforma que apoia imagens religiosas atrás de um altar.

Tem uma profundidade rasa, construída pela sobreposição de elementos, ainda sem volume ou perspectiva. Pietro Maria Bardi (1900-1999), ex-diretor do MASP, atribuía a obra a Maestro del Bambino Vispo, pintor da virada do século 14 para o século 15. Essa hipótese foi descartada pelos historiadores, que apontam que a pintura teria sido feita anteriormente, tanto pelo estilo como pela vestimenta do último homem à esquerda, pouco usual para o período indicado por Bardi.

Madona com o Menino no trono e quatro santos (1410 - 1415), de Maestro del 1416MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Maestro del 1416
Ao longo do século 20, os historiadores de arte italiana divergiram sobre a autoria da obra Madona com o Menino no trono e quatro santos (1410-15), parte da coleção do MASP. Quando chegou ao museu, foi atribuída ao pintor florentino Rossello di Jacopo Franchi (1376-1456), embora já houvesse na época historiadores que afirmavam que a obra tinha outra autoria.

Na década de1980, a hipótese da autoria de Franchi foi eliminada e o trabalho foi atribuído ao Maestro del 1416, pintor anônimo, conhecido por um retábulo idêntico ao do MASP, de 1416, que é parte da importante coleção da Galleria dell’Accademia, em Florença.

A pintura do MASP é um exemplar do estilo gótico florentino, com linhas verticais destacadas e outras que apontam para diversas direções, com grande detalhamento na pintura e nos entalhes. Na cena, quatro santos—são Juliano, são João Batista, santo Antônio Abade e são Tiago Maior—acompanham a figura ampliada de Maria, que segura Jesus. Ela também é representada pelos lírios, que simbolizam a pureza. Suas vestes foram totalmente repintadas, mas as das demais personagens conservam as cores e o tratamento original da obra.

São Jerônimo penitente no deserto (1448 - 1451), de Andrea MantegnaMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Andrea Mantegna
Andrea Mantegna, cunhado do artista Giovanni Bellini (circa 1430/35-1516), foi pintor oficial da corte de Mântua, na Itália. A pintura do MASP, "São Jerônimo penitente no deserto" (1448-51), retrata o retiro espiritual da personagem no deserto de Cálcis da Celessíria, na Síria, prática comum entre os religiosos da primeira fase do cristianismo, que buscavam desenvolvimento intelectual e penitência na reclusão.

A cena apresenta elementos que remontam à história de vida do santo segundo a iconografia cristã: o leão de cuja pata Jerônimo teria retirado um espinho,

o chapéu vermelho dos bispos, a imersão na leitura e a vela na caverna como alusão à trindade cristã.

A autoria da pintura foi por muito tempo questionada, mas algumas características se assemelham às de Mantegna: a coruja, que se repete nos afrescos da Capela Ovetari, assim como os rochedos e a nuvem prateada, semelhantes aos pintados na Oração no horto, do acervo da National Gallery of Art, em Washington. O aspecto tortuoso e a rigidez da figura de Jerônimo, cujo corpo parece se misturar à paisagem, seguem a pintura de Mantegna, marcada por formas esculpidas, pelo desenho expressivo e por uma retomada estética da Roma antiga. Seus estudos das ruínas da Antiguidade devem ter suscitado seu interesse pelas pedras, presença frequente em suas paisagens, que, construídas como arquitetura, têm algo de fictício.

A Virgem com o Menino de pé, abraçando a mãe (Madonna Willys) (1480 - 1490), de Giovanni BelliniMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Giovanni Bellini
Membro de uma família de artistas, Bellini colaborava com o pai, o pintor Jacopo Bellini (1396-1470), até começar a receber encomendas próprias. O artista assimilou de seu cunhado, o pintor Andrea Mantegna (circa 1431-1506), qualidades como o desenho rigoroso e a expressividade das figuras retratadas. Bellini desenvolveu um estilo pessoal no trato da luz, no uso de campos de cor e na representação das texturas corporais e da pele das personagens. Na pintura do MASP, "A Virgem com o Menino de pé", abraçando a mãe (Madonna Willys) (1480-90), Bellini mostra uma certa distância entre Maria e Jesus, a fim de reforçar a dimensão divina das personagens.

Embora os corpos estejam próximos, as expressões faciais são frias e Maria parece se esquivar; não há a mesma afetividade presente em tantas outras versões dessa temática recorrente na pintura italiana do período. A pintura apresenta as duas figuras atrás de um parapeito, que separa o espectador da cena, enfatizando a transcendência do aspecto divino das personagens em relação à vida mundana do nosso lado da tela. O parapeito pode sugerir, também, uma moldura, o campo verde, um pano de fundo, e estaríamos diante de um quadro dentro do quadro. Nessa obra, Bellini incorporou a espacialidade proposta pela pintura florentina, marcada pela profundidade do espaço, sem perder o simbolismo e o rigor formal da pintura bizantina.

Ecce Homo (Cristo morto no sarcófago como “Vir Dolorum”) (1480 - 1500), de Niccolò di Liberatore (chamado L'Alunno)MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Niccolò di Liberatore (chamado L'Alunno)
O apelido L’Alunno, dado a Niccolò di Liberatore, provém da inscrição alumnus Fulginiae, presente em uma de suas obras. Significa “cidadão de Foligno”, e não “o aluno”, como afirmou erroneamente Giorgio Vasari (1511-1574), precursor da historiografia de arte italiana. Niccolò era genro do pintor Pietro di Giovanni di Corraduccio Mazzaforte (1404-1463), com quem estudou e estabeleceu uma colaboração mútua nas encomendas. Embora seja escassa a documentação sobre sua trajetória, é consenso entre historiadores de arte a importância que exerceu ao introduzir a cultura pictórica de Pádua na região da Úmbria, especialmente o modelo de tensão emocional e o aspecto áspero que teria assimilado da obra de Andrea Mantegna (circa 1431-1506).

Na pintura do MASP, há uma inclinação gótica, expressa pelo nível de detalhamento dos adornos esculpidos. Extremamente decorativa, a peça era a porta de um tabernáculo ou de um relicário, como atesta a fechadura à esquerda. O tema do Cristo como homem das dores é associado às representações das chagas da Paixão de Cristo e também à missa de são Gregório Magno, na qual, segundo a narrativa cristã, Jesus teria aparecido enquanto são Gregório Magno rezava uma missa na igreja da Santa Cruz de Jerusalém. Essa temática era recorrente na Itália desde o século 13, em iluminuras e nas pinturas da região da Toscana e de Veneza.

Virgem com o Menino e são João Batista criança (1490 - 1500), de Sandro Boticelli e ateliêMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Sandro Botticelli e ateliê
O nome Botticelli deriva da palavra battiloro, aprendiz de ourives em italiano, primeira ocupação do artista. Estudou no ateliê de Fillipo Lippi (1406-1469) até 1467, quando se associou a Andrea del Verrocchio (1435-1488). Em 1470, abriu seu próprio ateliê, onde trabalhava com a colaboração de aprendizes, prática comum no período. Logo depois, vinculou-se ao mecenato dos Medici, importante família de banqueiros que patrocinou grande parte da produção artística e arquitetônica da cidade.

A historiografia aponta a obra do MASP, "Virgem com o Menino e são João Batista criança" (1490­‐1500), como uma pintura feita pelo próprio Botticelli com alguns elementos executados pelos auxiliares de seu ateliê, como a figura de João Batista e a paisagem, que teria muito mais detalhes do que as demais pintadas por ele. A cena em formato circular possui várias características de Botticelli: olhares e gestos dos pés e das mãos apontando para várias direções, relações íntimas e harmoniosas entre as personagens (em contraposição à Virgem com Menino de Giovanni Bellini [circa 1430/35­‐1516]), cores límpidas e contornos nítidos e precisos. A produção do artista foi bastante influenciada pela filosofia neoplatônica, que se reflete na idealização do belo em suas pinturas. A obra do MASP retoma as narrativas cristãs e difere dos temas mitológicos, os mais conhecidos de Botticelli, como "O nascimento de Vênus" (1482-85) e "A primavera" (1477-82), ambas da Galleria degli Uffizi, em Florença.

São Sebastião na coluna (1500 - 1510), de Pietro Perugino e ateliêMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Pietro Perugino e ateliê
Perugino, nascido como Pietro Vannucci, era pintor e desenhista, e realizou trabalhos em várias cidades da Itália, principalmente em Perúgia, Florença e Roma. O pintor, que possivelmente foi discípulo de Piero della Francesca (1415/1420-1492), colaborou com diversos artistas da época, como Sandro Botticelli (1445-1510) e Domenico Ghirlandaio (1449-1494), com quem trabalhou nas laterais da Capela Sistina, no Vaticano. Embora seja conhecido como tutor de Rafael (1483-1520), Perugino deixou sua marca na história da arte ao mesclar o modelo compositivo de Florença, caracterizado pela figuração bem delineada, com o estilo predominante na Úmbria, que se distinguia pela estruturação do espaço a partir da arquitetura.

Tais elementos podem ser observados na pintura do MASP, "São Sebastião na coluna" (1500-10), em que a figura humana, representada de forma clara, está centralizada, e a profundidade é construída a partir da sobreposição de colunas, arcos e piso geometrizado. Segundo a tradição cristã, são Sebastião foi um oficial romano que, ao converter-se ao cristianismo, foi morto a flechadas. Aqui o artista inovou mostrando-o ainda jovem—na iconografia medieval ele aparecia sempre velho. O corpo nu, sem pelos, e o rosto pintado com traços delicados parecem antecipar uma leitura ou apropriação homoerótica que artistas do século 20, como Pierre & Gilles, Leonilson e Derek Jarman, fizeram de são Sebastião.

Ressurreição de Cristo (1499 - 1502), de Rafael (Raphael)MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Rafael
Desde sua formação no ateliê de Pietro Perugino (1446-1524), Rafael Sanzio circulava na corte de Urbino, e aos dezesseis anos já recebia encomendas de pinturas. Em 1504, o artista mudou­-se para Florença e, em seguida, para Roma, onde realizou a decoração dos apartamentos papais (1508-20) e entrou em contato com artistas como Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1475-1564).

A pintura do MASP, "Ressurreição de Cristo" (1499-1502), foi alvo de grande discussão entre os historiadores de arte, até ser, finalmente, atribuída à juventude de Rafael. O debate foi encerrado com a comparação entre a obra e os seus esboços, encontrados no Ashmolean Museum, em Oxford, que revelaram o estudo compositivo dos corpos dos guardas presentes na pintura. A obra apresenta características que Rafael assimilou de Perugino, como a rigorosa divisão dos eixos vertical e horizontal. Já a articulação simétrica entre os elementos centrais e periféricos das cenas era uma característica de Rafael, que em sua pintura procurava alcançar um ideal de beleza harmônico, derivado dos valores da Antiguidade clássica.

Os pés de Cristo marcam o centro do quadro, sobre o retângulo formado pelos quatro guardas, que gesticulam em diferentes direções. A tampa entreaberta do sarcófago, no centro dessa área, sugere volume e profundidade, assim como as colinas e os montes ao fundo.

Os anjos ao lado de Cristo reiteram o gesto que aponta para cima, aludindo à crença em uma existência divina.

Cristo ressuscitado Cristo ressuscitado (1526), de Andrea FusinaMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Andrea Fusina
Andrea Fusina foi escultor, e seu primeiro trabalho, datado de1495, foi um túmulo clerical na igreja Santa Maria della Passione, em Milão. De 1503 até sua morte, participou da construção da Catedral de Milão, ao lado de Cristoforo Solari (1460-1527).

Fusina foi um dos principais representantes de uma geração de artistas de Milão que buscou resgatar as formas e referências da Antiguidade clássica.

A obra Cristo ressuscitado, da coleção do MASP, apresenta Jesus de corpo inteiro, coberto pelo sudário (tecido utilizado em ritos fúnebres), com as marcas das chagas da crucificação, carregando um cálice que recolhe o sangue da ferida em seu peito—alusão ao rito cristão da eucaristia.

A apresentação frontal do corpo, com a musculatura aparente e o drapeado das vestes, remete às esculturas dos heróis da Antiguidade. Há uma hipótese de que a obra tenha sido feita para a fachada da Catedral de Milão, pois o mármore de Candoglia, com o qual a obra foi esculpida, era a matéria-prima mais utilizada na catedral.

A Virgem amamentando o Menino e são João Batista criança em adoração (1500 - 1520), de GiampietrinoMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Giampietrino
Giampietrino, nascido Giovanni Pietro Rizzoli, foi um dos expoentes da geração de pintores de Milão diretamente influenciada, no século 16, por Leonardo da Vinci (1452-1519), que passou longas temporadas na cidade. O primeiro conjunto de trabalhos de Giampietrino encontra-se em igrejas e museus na Lombardia, com temas religiosos (especialmente representações da Sagrada Família, de Madalena e da Paixão de Cristo), ou com temas profanos, como a Cleópatra, atualmente no Museu do Louvre.

Na obra do MASP, "A Virgem amamentando o Menino e são João Batista" criança em adoração, Giampietrino retomou uma iconografia tradicional sobre Maria. A cena remonta ao tema egípcio de Ísis amamentando Harpócrates, inserido na tradição cristã pelos coptas, egípcios cristianizados entre os séculos 4 e 7.

A referência à pintura de Da Vinci é clara: do fundo escuro saltam as figuras no sfumato, técnica que borra as linhas na pintura, conferindo-lhe um efeito esfumaçado; a paisagem que se vê da janela tem um ar fantástico e onírico.

A tradição da pintura do século 14 também está presente, no piso ladrilhado que cria profundidade e na janela que apresenta a paisagem em contraponto ao cenário da cortina, atrás das personagens. A coluna decorada com folhas de uva, no canto superior esquerdo, é um símbolo ligado ao rito católico da eucaristia, assim como a cruz abraçada por são João Batista, que alude à morte de Jesus.

Virgem com o Menino e São João Batista criança (1510 - 1515), de Francesco Francia e ateliêMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Francesco Francia e ateliê
Francesco Francia, nascido como Francesco Raibolini, foi ourives, joalheiro e pintor. Em 1506, ingressou na Accademia di Bologna, quando Michelangelo (1475-1564) realizava trabalhos na cidade. Como indica Giorgio Vasari (1511-1574), biógrafo e precursor da história da arte, ambos disputaram encomendas e tiveram conflitos pessoais. Francia entrou em contato com as obras de Pietro Perugino (1446-1524) e Rafael (1483-1520), de quem era amigo pessoal, que foram influências definitivas para que introduzisse em Bolonha as imagens equilibradas e idealizadas do classicismo. A obra do MASP, "Virgem com o menino Jesus e são João Batista criança", é uma pintura com forte luminosidade e cores vibrantes.

A composição triangular, muito comum em retratos, não é rígida; apresenta uma leveza reforçada pela curvatura da cabeça de Maria, pelas diagonais da cruz e pelos gestos e movimento dos meninos. A obra mostra uma cena recorrente na pintura italiana da Renascença—"Maria com Jesus menino"—, mas difere de outras representações do tema, como "A Virgem com o Menino de pé, abraçando a mãe" (Madonna Willys) (1480-90), de Giovanni Bellini (circa 1430/35-1516), também da coleção do MASP. Na pintura de Bellini há uma relação distante entre os retratados; já na de Francia, Maria acolhe os meninos de forma afetuosa e íntima.

Retrato de Alvise Contarini (?) (1525 - 1550), de Paris BordonMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Paris Bordon
Com formação inicial de músico, Paris Bordon frequentou o ateliê de Ticiano (1488/90-1576) por um período curto mas suficiente para gerar ciúme no mestre, que se recusou a ensinar-lhe suas técnicas, já que ele copiava seu estilo muito bem. Bordon é um dos nomes mais expressivos da pintura veneziana no século 16, tanto pelas figuras modeladas, com grande expressividade, como pela construção de arquiteturas cenográficas.

A obra do MASP, "Retrato de Alvise Contarini" (1525-50), quando chegou ao museu, foi atribuída a Ticiano. Acreditava-se que a pintura, que se encontrava originalmente no Palácio Contarini, em Veneza, era o retrato de Andrea Navagero (1483-1529), amigo de Ticiano. Com a atribuição da autoria a Bordon, surgiu a hipótese de tratar-se de um membro da família Contarini, que pertencia à aristocracia local, posição social que se evidencia nas vestes do retratado, de materiais nobres como veludo preto e peles de animais. Assim como na pintura de Ticiano da coleção do MASP, o relógio na obra de Bordon simboliza a efemeridade e fugacidade do tempo, do poder e da vida. A composição triangular, a iluminação proveniente de uma única fonte e o contraste entre cores fortes são características marcantes da pintura veneziana da época.

Retrato de um fidalgo florentino (Piero de Medici?) (Sem data/Undated), de Ateliê de Alessandro AlloriMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Ateliê de Alessandro Allori
Quando entrou para a coleção do MASP, a obra "Retrato de um fidalgo florentino (Piero de Medici)" foi atribuída a Bronzino (1503-1572). Em 1978, o historiador de arte Robert B. Simon, em correspondência com o então diretor do museu, Pietro Maria Bardi (1900-1999), apontou que a pintura fora produzida por Allori, com grande participação dos discípulos de seu ateliê. Para essa afirmação, Simon tomou como referência um retrato da mesma personagem, na mesma posição, assinado por Allori. Há também divergências sobre a identidade do retratado, como indica o título da obra. É possível que seja um membro da família Medici, levando em conta a semelhança com um retrato pintado por Bronzino, pertencente à Galeria Liechtenstein, de Viena.

De qualquer forma, a vestimenta da personagem, elaborada com veludo preto e tecidos estampados e complementada por uma gola ricamente bordada, indica que pertencia à aristocracia. O retratado aparece com um olhar enigmático, em um fundo liso, que pode evocar um ambiente decorativo e cenográfico. Embora tenha desenvolvido uma intensa atividade decorativa, o ateliê de Allori dedicava-se especialmente a pintar retratos da aristocracia florentina e a comercializar cópias em pequena escala de pinturas monumentais.

Ecce Homo ou Pilatos apresenta Cristo à multidão (1546 - 1547), de Jacopo TintorettoMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Jacopo Tintoretto
Tudo indica que Tintoretto frequentou o ateliê de Ticiano (1488/90-1576). O que o distinguia de seus contemporâneos era o uso intenso da cor, reforçado por pinceladas rápidas e duras, marcadas por interrupções abruptas.

Distorcia a perspectiva, desorganizava a anatomia e abusava das cores para dar vibração às sombras, buscando uma maior expressividade e dramaticidade. Interessava-se mais pela dimensão emocional por trás de cada cena do que pela fidelidade na representação.

O MASP tem duas pinturas bastante distintas de Tintoretto: uma de sua juventude e outra da maturidade. A obra "Ecce Homo ou Pilatos apresenta Cristo à multidão" (1546-47) alude à passagem bíblica em que Pilatos consulta a multidão sobre o destino de Cristo. Na composição triangular, onde se podem identificar também quadrados e retângulos, o público assiste à cena das personagens que decidem o destino de Cristo em gestos teatrais, como em um palco. O cachorro dá um toque de displicência à cena e pode ter sido pintado para resolver a composição.

Lamentação sobre o Cristo morto (ou Pietá) (1560 - 1565), de Jacopo TintorettoMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Já a tela "Lamentação sobre o Cristo morto (ou Pietà)" (1560-65) apresenta uma composição sinuosa, onde as figuras representadas se entrelaçam em um ambiente externo, porém intimista.

As cores são densas e ganham corpo com a linha espessa e sombreada que delimita as figuras.

A pintura é uma livre interpretação da iconografia cristã que narra os momentos após a crucificação de Jesus.

Deus Pai (circa 1530), de Girolamo SantacroceMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Girolamo Santacroce
Na juventude, Girolamo Santacroce teria abandonado o ofício de ourives para dedicar-se à escultura. Contribuiu com as obras da capela Caracciolo di Vico (1516), em Nápoles, feitas por dois escultores espanhóis que levaram o estilo escultórico romano à região e influenciaram Santacroce. Após essa experiência, o artista morou em Carrara por um ano, para terminar o monumento ao cardeal Cisneros que os espanhóis haviam deixado inacabado. Ao retornar a Nápoles, fez os altares da igreja de Santa Maria del Monte Oliveto (1524), bem como outros conjuntos escultóricos na cidade.

A escultura do MASP, "Deus Pai" (circa 1530), teria sido idealizada para integrar um conjunto arquitetônico, que poderia ser um altar ou a lateral de um monumento fúnebre. O olhar de Deus, dirigido para baixo, indica que a obra foi pensada para um local elevado. O movimento em espiral do drapeado das roupas sugere o efeito do vento, que parece renovar e energizar a anatomia frágil do velho Pai, curvado com o peso dos anos. A escultura tem perfurações na cabeça, indicando a possibilidade de ter sido ornada por uma auréola de madeira ou metal.

Retrato do cardeal Cristoforo Madruzzo (1552), de Ticiano [Titian]MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Ticiano
Nascido na região de Veneza, Ticiano Vecellio tornou-se em vida um dos mais reconhecidos pintores da Renascença. Na juventude, frequentou os ateliês de Giovanni Bellini (circa 1430/35-1516) e Giorgione (1477-1510). Ticiano foi um dos primeiros pintores a abdicar de esboços e desenhos primários, aplicando a tinta diretamente sobre a tela, o que deu à cor um papel extremamente relevante em sua produção. Suas pinturas são marcadas pelos grandes formatos e por cenas que buscam provocar emoções no espetador e não apenas narrar uma história.

Na pintura do MASP, o cardeal Cristoforo Madruzzo (1512-1578) foi retratado em pé e sem suas vestes religiosas. Madruzzo era bispo da cidade sede do Concílio de Trento (1545-63), na mesma época em que o retrato foi pintado, e participou ativamente das discussões que deram início à Contrarreforma, resposta da Igreja católica à Reforma protestante. Na pintura, o relógio sobre a mesa, à esquerda, é um elemento comum na iconografia veneziana da época, alusão à efemeridade e fugacidade do tempo e do poder. O retrato passou por diversos restauros desde o século 19, alguns deles mal executados.

Certos elementos da pintura, como as calças, o vermelho da base e os sapatos, não são originais. Em 1992 e 1995, a obra foi restaurada para corrigir uma mancha de quarenta centímetros localizada no centro do quadro.

Adoração dos pastores (1580 - 1590), de Jacopo da Ponte Bassano e ateliêMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Jacopo da Ponte Bassano e ateliê (Francesco il Giovane e Gerolamo Bassano)
Jacopo da Ponte, conhecido como Bassano, passou a maior parte da vida em sua cidade natal, Bassano del Grappa, na região do Vêneto. Esteve diversas vezes em Veneza, onde estabeleceu relações com outros pintores e com colecionadores.

Por meio de gravuras, manteve contato com a produção de artistas como Ticiano (1488/90-1576) e Albrecht Dürer (1471-1528). A opção por manter-se em seu povoado também correspondia ao temperamento reservado e ao interesse pelo estudo das escrituras religiosas, elementos de sua personalidade que transparecem na escolha de temas com grande inclinação moral. Seus quatro filhos também se tornaram pintores e contribuíram continuamente em suas encomendas. Os últimos dez anos de sua produção caracterizam-se pelas cenas noturnas, teatrais e obscuras.

A pintura do MASP, "Adoração dos pastores" (1580-90), parece estar inacabada, como sugerem os detalhes não finalizados do celeiro, no fundo, à esquerda. A única fonte de luz parece emanar de Jesus e de Maria, iluminando os pastores e a vaca e alcançando o homem acocorado e a cabra atrás dele. Os contrastes de luz e sombra substituem o cenário quase por completo, dominado por uma grande massa escura.

Marte e Vênus com uma roda de cupidos e paisagem (1605 - 1610), de Carlo SaraceniMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Carlo Saraceni
Nascido em Veneza, Carlo Saraceni mudou-se aos dezenove anos para Roma, onde estudou com um pintor pouco reconhecido, Camillo Mariani (1556-1611). As obras que produziu em Roma até 1610 refletem a influência de diferentes pintores com obras na cidade, como Ticiano (1488/90-1576) e Tintoretto (1518-1594), mas o legado do pintor germânico Adam Elsheimer (1578-1610) é o que mais se aproxima da produção de juventude de Saraceni.

Ambos criavam composições complexas, assimétricas, inclinadas, com diagonais marcadas e grande variação na escala das personagens e nos cenários ao fundo, como se pode ver na pintura do MASP, "Marte e Vênus", com uma roda de cupidos e paisagem (1605-10). Saraceni pintou diversas vezes sobre cobre, uma novidade na Roma da época, e, dada a dificuldade da técnica, suas obras são em geral pequenas.

Na obra do MASP, Marte, deus da guerra, é retratado desarmado e em cena íntima com Vênus, rodeados por cupidos, que usam a armadura de Marte como brinquedo. As cirandas de cupidos conferem grande movimento à pintura, suavizam os ângulos e as inclinações e trazem à composição um elemento lúdico, em oposição às simbologias da guerra que envolvem Marte. As personagens destacam-se em primeiro plano, teatralmente separadas do pano de fundo da paisagem, remetendo às pinturas dos mestres renascentistas que influenciaram o artista.

Cena Mitológica (Cronos admoesta Eros na presença de Vênus e Marte) (1624 - 1656), de Atribuído a GuercinoMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Atribuído a Guercino
Guercino, nascido como Giovanni Francesco Barbieri, foi aprendiz do artista Benedetto Gennari, o Velho (1563-1658), e trabalhou para a nobreza de Bolonha durante toda sua vida. Em 1621, chamado pelo papa Gregório XV (1554-1623), mudou-se para Roma e fez as pinturas da residência papal, além da obra O enterro de santa Petronilha (1623) para a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Retornou para Bolonha em 1623, após a morte do papa. A pintura "Cena mitológica (Cronos admoesta Eros na presença de Afrodite e Ares)" foi doada ao MASP em 2006 pela Receita Federal, após ser interceptada no porto de Santos, em São Paulo, por tratar-se de uma importação irregular.

A obra apresenta deuses da mitologia greco-romana, tema que Guercino retomou dos valores clássicos da Renascença italiana. Eros, ou Cupido, na figura de um bebê, é representado junto a seus pais, Vênus, deusa do amor, e Marte, deus da guerra.

Saturno, ou Cronos, deus do tempo, representado pelo velho que aponta o dedo para Eros, parece repreendê-lo.

A composição geométrica, marcada pela distribuição triangular das figuras, assim como a dinâmica dos gestos, o contraste entre luz e sombra, a iluminação proveniente de um mesmo ponto focal e a cor que se intensifica nas sombras são características da pintura barroca italiana, apontando para uma influência da obra de Caravaggio (1571-1610) sobre Guercino.

Adoração dos pastores (1630 - 1635), de Bartolomeo Passante ou Mestre da Anunciação aos PastoresMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Bartolomeo Passante, ou Mestre da Anunciação aos Pastores
Há divergências sobre a autoria da obra do MASP, "Adoração dos pastores" (circa 1630-35). Quando entrou para a coleção do museu, na década de 1950, foi atribuída ao pintor espanhol José de Ribera (1591-1652). Porém, após troca de correspondência entre Pietro Maria Bardi (1900-1999), então diretor do museu, e especialistas em arte italiana e espanhola, a autoria foi atribuída a Bartolomeo Passante, um aprendiz napolitano de Ribera. Divergindo dessa hipótese, alguns historiadores acreditavam que parte do conjunto de obras atribuído originalmente a Passante fora criada por um pintor anônimo de Nápoles, o Mestre da Anunciação aos Pastores, e o apontaram como autor da pintura do MASP. Em1969, Roberto Longhi (1890-1970), historiador de arte italiana, escreveu um artigo no qual afirmava que o conjunto todo pertence a Passante, mas a questão ainda permanece em aberto.

A obra do MASP é considerada uma das pinturas de maior qualidade do artista, na qual fez uso do tenebrismo, técnica do período barroco em que se utilizava apenas uma fonte de luz para destacar as sombras e agregar drama e tensão às pinturas, dominadas por tons escuros. Apesar da seriedade e gravidade da composição, a leveza dos anjos em torno de Jesus confere um ambiente íntimo e familiar à obra, que aproxima a cena de entonação divina ao âmbito da vida cotidiana.

Moisés e as filhas de Jetro (1660 - 1689), de Ciro FerriMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Ciro Ferri
Ciro Ferri foi discípulo do ateliê de Pietro da Cortona (1596-1669) por mais de dez anos. Em 1673, assumiu a frente da Academia dos Medici, que havia se estabelecido em Roma. A autoria da pintura do MASP, Moisés e as filhas de Jetro (1660-89), antes atribuída a Cortona, foi revista em1932, após a notícia da existência de uma gravura feita a partir dessa obra e assinada por Ferri.

A obra narra a passagem do Êxodo, livro do Antigo Testamento, em que Moisés, refugiado após matar um soldado egípcio, empunha uma lança e salva as filhas do sacerdote Jetro de um ataque.

A cena é dividida verticalmente em dois eixos contrastantes: o sereno universo feminino, com formas circulares, e a batalha entre os homens, dominada por angulações. As lanças apontam para várias direções, em tensão com os gestos abruptos dos homens; ao mesmo tempo, o círculo criado pelo poço é reforçado pelas curvas e pelos movimentos das mulheres, pelo caimento dos tecidos e pela fluidez da água despejada da jarra.

Há também um jogo de intenso diálogo entre as cores: do azul do céu e do vestido da mulher em primeiro plano com a brancura de sua pele; dos vermelhos do jarro e das vestes do homem caído à direita; do verde das roupas dos outros homens com o da vegetação.

Paisagem com pastores (1710 - 1730), de Alessandro MagnascoMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Alessandro Magnasco
Alessandro Magnasco, também conhecido como Il Lissandrino, foi um dos pintores genoveses mais importantes de sua época. Sua formação deu-se em Gênova, Milão (onde estudou em meados da década de 1680) e Florença (onde viveu na corte dos Medici e conheceu a pintura germânica e flamenga). A obra "Paisagem com pastores" (1710-30), da coleção do MASP, foi feita com pinceladas rápidas, indicando um processo intuitivo, e nela se veem poucas variações entre os tons de verde e marrom, em oposição ao contraste das cores do céu com as da vegetação.

A árvore inclinada no centro da pintura agrega drama e movimento à natureza; domina a cena e relega o grupo de pessoas no entorno ao papel de coadjuvantes.

O desenho dos galhos e das folhas da árvore mistura-se com o traçado das nuvens, que por sua vez se funde com os contornos das montanhas ao fundo. Magnasco inovou ao tratar a natureza como elemento central da pintura, não apenas como um fundo distante e subordinado às narrativas humanas, e parece antecipar a noção de sublime, presente no romantismo do século 19, que buscava o belo na grandiosidade e na violência da natureza.

Diana adormecida (1690 - 1700), de Giuseppe MazzuoliMASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Giuseppe Mazzuoli
Membro de uma família de artistas e arquitetos, Giuseppe Mazzuoli foi iniciado na escultura pelo irmão, Giovan Antonio, em Siena. No início da juventude, mudou-se para Roma, onde complementou sua formação no ateliê de Ercole Ferrata (1610-1686). Sua primeira encomenda, o "Cristo morto" (1671) do altar da igreja de Santa Maria della Scala, em Siena, chamou a atenção de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), com quem Mazzuoli trabalhou posteriormente em diversos projetos em Roma. Dentre os escultores dessa fase do barroco italiano, Mazzuoli foi o que mais assimilou as características de Bernini, em especial a figuração do movimento e da dramaticidade nas vestes.

A escultura do MASP, que chegou a ser atribuída a Bernini por alguns historiadores, foi produzida na maturidade de Mazzuoli para o Palácio Barberini, em Roma. "A Diana adormecida" (1690-1700) é uma variação de antigas imagens que mostravam uma ninfa adormecida ao lado de uma fonte, figura da mitologia greco-romana associada à inspiração e às artes.

Seu primeiro precedente seria a escultura Ariadne adormecida (1512), associada a um sarcófago que servia como fonte no Belvedere do Vaticano. A marca da meia-lua, o arco e flecha nas costas, presentes na escultura, acompanham toda a iconografia de Diana, divindade romana da caça e da lua.

Créditos: história

"Arte da Itália: de Rafael a Ticiano"
26.6 a 4.10.2015
Curadoria: Adriano Pedrosa, Eugênia Gorini Esmeraldo, Tomás Toledo

Créditos: todas as mídias
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