Octávio Araújo

Auto-Retrato, 1949

Auto-retrato (1949), de Octávio AraújoPinacoteca de São Paulo

Esse autorretrato, de 1949, é representativo da produção inicial de Octávio Araújo. O artista tinha, então, 20 e poucos anos, estudara pintura na Escola Profissional Masculina do Brás e começava a expor em mostras coletivas, muitas delas organizadas pelos próprios participantes. Naquele momento, Araújo encontrava-se às vésperas de sua primeira viagem à Europa, para estudar gravura em Paris, na França. De volta para o Brasil, em 1951, o artista decide estabelecer residência no Rio de Janeiro e, por um breve período, trabalha como assistente do pintor Candido Portinari.

Depois dessa experiência é que a produção de Octávio Araújo instituiria as particularidades de seu vocabulário visual, aparentado cada vez mais com o do surrealismo. Aos poucos, suas gravuras e pinturas são povoados de criaturas híbridas e corpos humanos fragmentados, que surgem entre ruínas arquitetônicas, uma natureza estranha, exagerada, e diversas referências emprestadas da arte ocidental desde o Renascimento. Suas obras passam a organizar, assim, reuniões entre seres, objetos, espaços e imagens que são incongruentes entre si e com o real.

O modo como Octávio Araújo se retrata nessa pintura pertencente ao acervo da Pinacoteca é, em comparação com seu trabalho posterior, mais áspero, sujo e expressivo, com manchas de cor e distorções na figuração, sobretudo em sua metade inferior.

Essa área da imagem é dominada pela camisa do artista. Mais precisamente, pela camisa usada pelo artista durante sessões de pintura, daí as marcas de tinta nas cores vermelha e amarela, quase como chamas. Nesse sentido, parece tratar-se de um exercício de metalinguagem, em que as cores surgem como aquilo que são de fato (manchas de tinta) e para a representação de manchas de tinta.

As pinceladas, aliás, encontram-se em evidência nessa pintura. Na maior parte da tela, é possível acompanhar o percurso dos pinceis determinado pelo artista. Também a materialidade espessa e pastosa da tinta a óleo se apresenta franca e às claras, por exemplo, no tecido amassado de sua camisa.

Já a aparência absorta de Octávio Araújo contrasta com o ímpeto e a rapidez das pinceladas que dão forma a seu rosto, a marcas de expressão facial e a um jogo sutil de luz (à esquerda)...

...e sombra (à direita).

Ainda na metade superior do quadro, o estado aparentemente atento, calmo e pensativo de Araújo contrapõe-se ao fundo vermelho, vibrante e descontínuo.

Em sua intensidade, esse fundo exerce papel decisivo e reforça o “calor” da imagem, feita para representar seu autor em plena atividade ou imediatamente após o trabalho.

O que se vê aqui, de qualquer modo, é um jovem Octávio Araújo com sinais da labuta ainda quentes, impressos na roupa que veste.

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