O projeto para a pintura do teto da Igreja de São Roque foi aprovado pelo rei Filipe I de Portugal em 1588, consistindo inicialmente apenas nas arquiteturas fingidas pintadas em perspectiva sobre uma superfície plana, simulando um tecto abobadado com três cúpulas.
Church of Sao Roque - view of the Main AltarMuseu de São Roque
Os jesuítas encomendaram ao arquiteto Afonso Álvares uma igreja ampla, estilo salão, algo pouco comum na primeira metade do século XVI em Portugal onde as igrejas eram geralmente divididas por colunas e encimadas por tetos em abóbada. No final da obra existiu grande dificuldade em encontrar um teto que se adequasse àquela estrutura arquitetónica.
Tecto da Igreja de S. Roque (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Finalmente, optou-se pela construção de um teto de madeira oriunda da Prússia. A pintura do teto foi realizada entre 1584 e 1590 e nela participaram dois pintores: Francisco Venegas, numa primeira fase e Amaro do Vale, numa segunda etapa, na qual foram sobretudo acrescentados elementos narrativos e decorativos.
Francisco Venegas foi o responsável pela pintura dos detalhes arquitetónicos fingidos pintados em perspectiva sob a superficie plana do teto.
Numa das abóbadas o autor provavelmente fez-se representar a si próprio, eventualmente para acentuar a noção de perspetiva ou para deixar a sua marca autoral.
Amaro do Vale, posteriormente, seria responsável pela pintura do medalhão central assim como pelos vários episódios bíblicos representados ao longo do perímetro.
Detalhe do medalhao central (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
O conjunto central tem como tema a Exaltação da Santa Cruz e os Instrumentos da Paixão de Cristo. A sua posição de destaque prende-se com a própria importância da Cruz e da Paixão enquanto símbolo e momento-chave do Cristianismo.
À volta do medalhão está o tetramorfo, o conjunto dos símbolos dos quatro Evangelistas. Numa das extremidades: a águia e o Homem, representando os evangelhos de João e Mateus respetivamente.
Detalhe do medalhao central. Outro lado. (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Na outra extremidade: o touro e o leão: representando Lucas e Marcos, respetivamente.
Church of Sao Roque - view of the Main AltarMuseu de São Roque
Os quatro evangelistas surgem ainda esculpidos no centro da igreja, situados no lado correspondente à localização pintada no teto.
Detalhe do Tecto (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Painel de entrada. Cristo é recebido na casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Este episódio é apenas descrito no evangelho de Lucas, aqui interpretado como um antecedente da Última Ceia, que está representada no painel que se encontra defronte.
Outro detalhe do Tecto (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Painel do Altar-Mor. A última ceia. O momento de instituição da Eucaristia que surge precisamente sobre o local onde a mesma é celebrada. O pão e o cálice com vinho são os dois elementos centrais, representando o corpo e o sangue de Cristo.
Tecto da Igreja de S. Roque (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Ainda no perímetro encontramos, do lado do evangelho (lado esquerdo do templo a partir da entrada principal) tres cenas ladeadas por duas grisalhas cada: 1. O encontro de Melquisedeque com Abraão; 2.O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes; 3. O sacrifício de Isaac.
Aqui o encontro de Melquisedeque com Abraão, no qual o primeiro consagra o pão e vinho oferecidos por Abraão. A pintura é ladeada de duas grisalhas representando, à esquerda, a arvore de vida e, à direita, as uvas gigantes de Canaã.
O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, no qual Jesus com apenas 5 pães e 2 peixes alimentou 5000 pessoas. Ladeado por duas grisalhas, à esquerda, Moisés constrói um altar para a aliança com Deus, e, à direita, a Moisés concebendo uma mesa para a oferenda.
O sacrifício de Isaac, episódio no qual Abraão se prepara para sacrificar o seu único filho pensando ser esta a vontade de Deus. Ladeado por duas grisalhas representando, à esquerda, a arca onde se guardava algum maná para memória futura e, à direita, a fuga de Elias para o deserto, onde é alimentado por um anjo.
Vista alternada do tecto da Igreja de Sao Roque (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
No lado da epistola (lado direito do templo a partir da entrada principal) mais tres cenas ladeadas por duas grisalhas cada: 1. A recolha do Maná; 2. A ceia em Emaús; 3.A Páscoa dos Judeus.
Aqui o episódio da recolha do Maná, que caiu do céu para alimentar o povo de Israel. Ladeado por duas grisalhas representando, à esquerda, Moisés de joelhos perante de Deus, com o povo ao longe, e, à direita, Moisés e Araão, preparam-se para o Êxodo.
A ceia em Emaús. Que representa a ceia entre dois discípulos e um estranho no dia da Ressurreição, durante a qual, o desconhecido pronuncia a bênção e reparte o pão, revelando-se assim como Cristo. Ladeado por duas grisalhas, à esquerda, Deus adverte Moisés da morte dos primogénitos no Egipto e, à direita, a visão de Ezequiel do Templo.
Páscoa dos Judeus. Segundo a tradição, os judeus deveriam comer carne assada no fogo, de pé, com as sandálias calçadas e cajado na mão, como se estivessem para sair de viagem. à esquerda, Elias evocando o poder divino através do sacrificio e, à direita, a Arca de Noé, durante o diluvio.
Tecto da Igreja de S. Roque (1584-1590) de Francisco Venegas & Amaro do ValeMuseu de São Roque
Este belo teto quinhentista é o único, dos vários tetos pintados existentes em Lisboa no século XVI, que ainda hoje perdura, e pode ser visitado na Igreja São Roque.
CURADORIA VIRTUAL
Gonçalo de Carvalho Amaro
Museu de São Roque