Rita Lee: "Gil me mostrou como ser uma artista livre e louca"

Me lembro dele cantando Procissão no programa Fino da Bossa, e achei bacana. Pessoalmente, o encontrei no estúdio quando os Mutantes estavam gravando backing vocal na música Bom Dia, de Gil, cantada por Nana Caymmi para o festival da Record em 1967.  

Gil sempre me tratou como “protegida”. Era um irmão mais velho que me mostrou um Brasil colorido que eu pouco conhecia. Foi com ele que aprendi que era proibido proibir.

Gil era um cavalheiro generoso que me mostrou como compor em português. Ele transformava um papo em uma letra de música e adaptava uma melodia dedilhando o violão, e eu lá do lado, babando de emoção.

Depois que Gil e Caetano foram exilados, meio que perdemos o contato. Uma vez, fui visitá-lo em Londres e foi emocionante vê-lo brincando com seu filhinho, Pedro.

Ambos tínhamos sido presos. Gil havia batizado o meu primeiro filho, Beto Lee. Nada melhor para dois compadres do que juntar as bandas (Refavela e Tutti Frutti) e ir para a estrada.

Na época, Gil fazia macrobiótica, e eu era menos “comportada”. As duas bandas se entrosaram perfeitamente e demos o nome de Refafrutti e Tutti Vela, porque nossos trabalhos anteriores foram Refavela e Arrombou a Festa. Foi uma farra inesquecível no palco.

Gil, como compositor, é um mestre. Ele nunca teve pudores em misturar baião com rock com disco com samba. Ele brilha em todas as avenidas musicais que se propõe a percorrer.  

Refazenda!

Gil é um Merlin da música planetária.

Diria que tirei a sorte grande de ter tido um mestre e amigo que me mostrou o caminho de como ser uma artista livre e louca.