Do Instituto Gilberto Gil
Redação: Marco Konopacki*, cientista político
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Jorge Mautner e Nelson Jacobina na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
“Encantamento é o fluxo para um mundo mágico que só a arte e cultura podem proporcionar. É sair da brutalidade da coisificação de tudo e de todos. O Cultura Viva é uma política pública de mobilização e encantamento social."
Gilberto Gil em evento de indicação do frevo como Patrimônio Imaterial do Brasil (2006-02-20)Instituto Gilberto Gil
"O mundo está desencantado, artificializado, as pessoas ficaram duras. É preciso reencantar o mundo. A magia do Gil o faz um encantador natural".
Célio Turino, Secretário de Programas e Projetos do
Ministério da Cultura (2004 - 2010)
O então ministro da Cultura Gilberto Gil na cerimônia de posse da equipe do seu Ministério (2003-01-15)Instituto Gilberto Gil
O do-in antropológico
Em seu discurso de posse como ministro da Cultura, Gilberto Gil utilizou uma alegoria para representar a proposta de trabalho que marcaria a sua gestão como ministro: o "do-in antropológico". O do-in é uma técnica oriental de massagem corporal:
Gilberto Gil como ministro da Cultura abraça membro do Bloco Afro Ijexá Filhos de Gandhy na posse do presidente Lula (2003-01-01)Instituto Gilberto Gil
A técnica consiste em pressionar pontos do corpo, estimulando-os para fazer fluir a energia represada, trazendo harmonia e equilíbrio. Para Gil, a diversidade cultural do país tinha limitações a serem acessadas e era fundamental fazer com que o Brasil se conhecesse melhor.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e integrante de maracatu na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
Conhecimento para repensar a sua própria identidade naquele momento de profundas transformações que o país estava vivendo. Os Pontos de Cultura foram a expressão mais marcante na transformação das políticas públicas de cultura conduzidas na gestão Gilberto Gil.
Ministro da Cultura Gilberto Gil recebe homenagem de artista na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
Cultura Viva
Criado em 2004, o projeto era parte do programa Cultura Viva, conduzido pela Secretaria de Projetos Culturais do Ministério da Cultura (MinC) sob a gestão de Célio Turino. Os Pontos eram o reconhecimento pelo Estado de organizações da sociedade civil dedicadas à cultura:
Ministro da Cultura Gilberto Gil e representante indígena em visita oficial a Belém (2008-05-06)Instituto Gilberto Gil
Grupos culturais, organizações de comunidades quilombolas, indígenas, de ritmos e danças tradicionais e populares, como escolas de samba, maracatus, cirandas, quadrilhas, capoeira, ou manifestações de caráter cultural e religioso.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Célio Turino, secretário da Cidadania Cultural MinC, e Chico Simões, do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, e público durante visita ao Ponto de Cultura 100 Dimensão (2006-03-23)Instituto Gilberto Gil
Direcionado a essas organizações, o MinC abriu editais de transferência direta de recursos para o financiamento de suas atividades e a compra de equipamentos para documentação e promoção de suas atividades.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e artistas de carimbó em Belém (2008-05-06)Instituto Gilberto Gil
Em 2010, o programa Cultura Viva havia beneficiado direta e indiretamente em torno de nove milhões de brasileiros através de 3.500 Pontos de Cultura em 1.100 municípios em todas as regiões do país.
Gilberto Gil, então Ministro da Cultura, fala na Feira Literária Internacional de Paraty
Ministro da Cultura Gilberto Gil e Célio Turino, secretário da Cidadania Cultural MinC durante visita ao Ponto de Cultura 100 Dimensão (2006-03-23)Instituto Gilberto Gil
Política pública em movimento
A construção do programa Cultura Viva dependeu do trabalho articulado entre o Ministro Gilberto Gil e Célio Turino, que assumiu a então Secretaria de Programas e Projetos e conduziu a implementação das Bases de Apoio à Cultura (BACs).
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Célio Turino e José do Nascimento Júnior na inauguração do Museu da Maré (2006-05-08)Instituto Gilberto Gil
As BACs já eram consideradas a espinha dorsal da política de cultura do Ministério naquele momento, mas problemas na sua implementação, no primeiro ano da gestão de Gilberto Gil, desencadearam uma crise que quase levou à sua saída do Ministério.
Gilberto Gil e Juca Ferreira em visita a exposição O Brasil de Aguilar (2005-08-25)Instituto Gilberto Gil
Numa conversa entre o ministro, o secretário-executivo do MinC, Juca Ferreira, e o assessor especial, Manoel Rangel, no gabinete do ministro, Rangel sugeriu um nome para a secretaria: Célio Turino. Célio havido sido secretário de Cultura de Campinas entre 1990 e 1992.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Eliana Sousa Silva e Célio Turino na inauguração do Museu da Maré (2006-05-08)Instituto Gilberto Gil
E lá implementou uma política muito parecida com a que pretendia Gilberto Gil com as BACs, as Casas de Cultura. Entre a entrevista de Célio Turino até sua nomeação foram dois meses, de março a maio de 2004. O próprio Célio achava que “não ia rolar”.
Gilberto Gil, Juca Ferreira, Célio Turino, Emanoel Araújo e outras autoridades na abertura de exposição comemorativa dos dois anos do Museu Afro Brasil (2006-10-23)Instituto Gilberto Gil
Até Juca Ferreira, numa reunião na Pinacoteca de São Paulo, anunciar que ele seria o novo secretário e que tinha dois dias para se apresentar em Brasília. Turino, até então, não conhecia Gilberto Gil e todos os trâmites da escolha haviam sido intermediados por Juca.
Gilberto Gil e Célio Turino no lançamento do projeto Teia 2007, que aconteceu em Belo Horizonte (2007-08-28)Instituto Gilberto Gil
Ao chegar na secretaria, Célio se viu compelido a repensar o programa como ele estava desenhado. As BACs seriam estruturas físicas construídas pelo Ministério nas periferias das grandes cidades brasileiras. Sua maior preocupação era como seria a ocupação dessas estruturas.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e secretário Célio Turino em coletiva sobre o lançamento do evento TEIA - A Rede de Cultura do Brasil (2006-03-27)Instituto Gilberto Gil
Quem iria pagar a conta de luz? Quem iria gerir? Não era possível imaginar que a simples construção de uma casa como essa seria suficiente para que as pessoas se apropriassem daquele aparato.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Célio Turino, secretário da Cidadania Cultural MinC, e Chico Simões, do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, e público durante visita ao Ponto de Cultura 100 Dimensão (2006-03-23)Instituto Gilberto Gil
Para Célio, era mais importante olhar para o "software" (as pessoas) do que para o "hardware" (estruturas). O secretário, então com a ajuda de Sérgio Xavier, Isaura Botelho, Maristela Delbenest, Paulo Miguez, Letícia Schwartz, Emília Nascimento e Cláudio Prado...
Ministro da Cultura Gilberto Gil na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
...reformulou o projeto com enfoque na rede de agentes culturais. Nascia ali o programa Cultura Viva.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e secretário Célio Turino em coletiva sobre o lançamento do evento TEIA - A Rede de Cultura do Brasil (2006-03-27)Instituto Gilberto Gil
De Gil a Lula
Com a nova proposta debaixo do braço, Célio Turino foi finalmente apresentado a Gilberto Gil. Gil havia lido a proposta e gostou muito. Depois de longa conversa com Célio, Gil disse: "Interessante! No lugar de olhar para a estrutura, você olhou para o fluxo. E fluxo é vida".
A então primeira-dama Marisa Letícia, o então presidente Lula e o então ministro da Cultura Gilberto Gil em apresentação após a Conferência sobre Políticas Sociais do Brasil e de Moçambique (2003-05-11)Instituto Gilberto Gil
Após a proposta ter conquistado Gil, ele e Célio apresentaram o programa para o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que o transformou em uma das prioridades da sua gestão. A única observação de Lula foi:
A então primeira-dama Marisa Letícia, o então presidente Lula e o então ministro da Cultura Gilberto Gil em apresentação após a Conferência sobre Políticas Sociais do Brasil e de Moçambique (2003-05-11)Instituto Gilberto Gil
Pedir que o programa fosse estendido a brasileiros residentes no exterior. Segundo o presidente, ele, como migrante, sabia a tristeza que é estar longe da sua terra. Os Pontos de Cultura seriam o contato para esses brasileiros distantes de casa se reconectarem.
Gilberto Gil, Eleonora Santa Rosa, Juca Ferreira, Antonio Anastasia, Fernando Pimentel e Célio Turino no lançamento do projeto Teia 2007, que aconteceu em Belo Horizonte (2007-08-28)Instituto Gilberto Gil
Nos anos seguintes, o Cultura Viva seria o único da área da cultura na lista de programas presidenciais – além de se tornar parte da estratégia de governo e ser incluído no Plano Plurianual (PPA).
Ministro da Cultura Gilberto Gil, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, o secretário estadual de Cultura, Edílson Moura, e indígena em visita oficial a Belém (2008-05-06)Instituto Gilberto Gil
A poesia da gestão
Após receber o sinal verde para implementar o Programa Cultura Viva, Turino e sua equipe prepararam o primeiro edital de Pontos de Cultura em 2004. Foram selecionadas 170 unidades nessa primeira etapa. O orçamento da secretaria era de pouco mais de 11 milhões de reais.
Gilberto Gil durante inauguração de Ponto de Cultura em Cuiabá (2005-09-23)Instituto Gilberto Gil
Pouco para um órgão federal. Antes do MinC, Célio foi diretor do Departamento de Programas de Lazer na Secretaria de Esportes de São Paulo. O valor gerenciado por ele lá era o mesmo que o da Secretaria, só que um era o orçamento de uma cidade e o outro de um país inteiro.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e artistas de carimbó em Belém (2008-05-06)Instituto Gilberto Gil
Para o ano seguinte, Turino convenceu parlamentares da Comissão da Educação da Câmara de Deputados a apresentarem uma emenda orçamentária que adicionou 55 milhões, ampliando o orçamento da secretaria para 66 milhões.
Ministro da Cultura Gilberto Gil na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
Em 2005, um novo edital de Pontos de Cultura recebeu 2.500 projetos e selecionou mais 600 entre eles. Os desafios para executar um programa como o Cultura Viva eram enormes. A falta de estrutura numa pasta com pouco prestígio na Esplanada dos Ministérios exigiu:
Os organizadores do Brasília Music Festival 2003 com o então presidente Lula e Gilberto Gil como ministro da Cultura (2003-10-09)Instituto Gilberto Gil
Criatividade, carisma e muita habilidade de gestão de Gil e Célio. Turino lembra que conseguir a emenda parlamentar foi a parte fácil. O desafio mesmo foi executar aquele orçamento. Na administração federal, dinheiro disponível nem sempre é totalmente gasto.
Gilberto Gil e Cássio Cunha Lima na Paraíba durante o Primeiro Encontro Nacional de Rappers e Repentistas (2007-10-26)Instituto Gilberto Gil
Por se tratar de recurso público, existem regras administrativas para garantir a legalidade dos pagamentos. Nesse sentido, a gestão do MinC tinha condições únicas que levaram ao sucesso daquelas iniciativas. Gilberto Gil é administrador de formação.
Ministro da Cultura Gilberto Gil em homenagem da Liga da Defesa Nacional (2006-04-20)Instituto Gilberto Gil
E usava essas habilidades para aplicar métodos de gestão arrojados. Célio Turino, com sua experiência no serviço público, sabia dos procedimentos e regras administrativas para executar o orçamento.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e indígenas durante visita ao projeto de uma nova aldeia para os índios Bororo (2004-04-15)Instituto Gilberto Gil
Contudo, se tanto Gil quanto Célio tinham a formação para serem tecnocratas do direito administrativo, por outro lado também continham em si a poesia, a filosofia e sensibilidade para os temas de cultura.
Gilberto Gil e o grupo de dança folclórica Alpino Germânico durante lançamento nacional do projeto Roteiros de Imigração (2007-08-27)Instituto Gilberto Gil
Célio e Gil “hackearam” os aparatos pesados e quadrados do Estado, para inovar na gestão pública como até então nunca se havia tentado. Célio lembra que o maior talento de Gil era a sua capacidade de agregar pessoas, construir identidade e cumplicidade com um propósito.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e a sambista Tia Surica durante visita oficial ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela (2004-12-13)Instituto Gilberto Gil
No Ministério da Cultura, Gil reuniu a equipe mais heterogênea da Esplanada dos Ministérios, dos tropicalistas “maluco beleza” até os verdes ambientalistas, petistas, comunistas, todos num amplo espectro ideológico e político.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, Bono Vox, presidente Lula e Marisa Letícia Lula da Silva (2006-02-19)Instituto Gilberto Gil
Foi essa diversidade que elevou o MinC a um dos ministérios mais reconhecidos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O então ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o presidente Lula condecoram os representantes do grupo maranhense Companhia Barrica, na 10ª cerimônia da Ordem do Mérito Cultural (2004-11-09)Instituto Gilberto Gil
Andar com fé eu vou
Célio e Gil construíram a sua relação durante o tempo em que o programa foi se consolidando. A proximidade se dava também pelo afeto que Gil tinha pelo Cultura Viva, o que o levou a viajar para dar voz a brasileiros e brasileiras nos mais diversos cantos do Brasil e do mundo.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e TC Silva na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
Gil visitou muitos Pontos de Cultura durante a sua gestão. Para os Pontos que recebiam a sua visita, era a plena realização de poderem ser ouvidos e reconhecidos na sua importância para a matriz cultural brasileira.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, o cacique Paulo Miriecuréu, imprensa e indígenas durante visita ao projeto de uma nova aldeia para os índios Bororo (2004-04-15)Instituto Gilberto Gil
Numa dessas viagens, Célio e Gil viajaram para visitar o Ponto de Cultura dos índios Ashaninka, no município de Marechal Thaumaturgo, estado do Acre, quase fronteira com o Peru. Para chegar até lá, foi uma epopeia.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e indígenas durante visita ao projeto de uma nova aldeia para os índios Bororo (2004-04-15)Instituto Gilberto Gil
Célio conta que foram três aviões e mais algumas horas de "voadeira", um pequeno barco a motor que os levaram pelo rio Amazônia até a aldeia. Além de visitar as instalações do projeto, a equipe do Ministério da Cultura também participou de uma confraternização na aldeia.
Ministro da Cultura Gilberto Gil com o cacique Paulo Miriecuréu, políticos, e representantes indígenas, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) durante visita ao projeto de uma nova aldeia para os índios Bororo (2004-04-15)Instituto Gilberto Gil
Na ocasião Gil foi homenageado com uma cantiga indígena cantada pelo cacique Antônio Ashaninka. Gil então retribuiu a homenagem tocando a música Banda Larga Cordel.
Ministro da Cultura Gilberto Gil na inauguração de Pontos de Cultura nos Estados Unidos (2006-01-16)Instituto Gilberto Gil
Em 2005, Gil e Turino viajaram juntos para acompanhar a implantação dos Pontos de Cultura nos Estados Unidos. Na ocasião, eles visitaram associações de cultura brasileira, dentre elas a Cultura Abadá-Capoeira de São Francisco.
Ministro da Cultura Gilberto Gil na inauguração de Pontos de Cultura nos Estados Unidos (2006-01-16)Instituto Gilberto Gil
Nessa mesma viagem, Célio e Gil visitaram a cidade de Danbury no estado de Connecticut, que conta com 20% da sua população formada por brasileiros.
Ministro da Cultura Gilberto Gil na inauguração de Pontos de Cultura nos Estados Unidos (2006-01-16)Instituto Gilberto Gil
Além dos Pontos de Cultura, Célio e Gil participaram de uma série de eventos e conferências nas universidades de Berkeley, Columbia e Harvard sobre políticas públicas sobre Cultura Brasileira Contemporânea e sobre Políticas Culturais e Inclusão Social no Brasil.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e Célio Turino na abertura do evento Teia de Cultura e Cidadania, Mostra de Cultura do Brasil e Economia Solidária (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
A agenda de viagens que movia uma paixão comum contribuía para aumentar a cumplicidade e afeto entre Gil e Célio.
Ministro da Cultura Gilberto Gil fotografado pelas lentes do jornalista e poeta TT Catalão (2006)Instituto Gilberto Gil
A magia do programa
O programa Cultura Viva só se tornou único na sua essência porque apostou na construção de uma visão de cultura emancipatória, que se constituiu em três pilares fundamentais: autonomia, protagonismo e empoderamento. Foi uma política pública construída de baixo para cima.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, a atriz e dançarina Quitéria Chagas e passista durante visita ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano (2004-12-13)Instituto Gilberto Gil
Na qual o MinC se posicionou como ouvinte das vozes que ecoavam pelo Brasil afora. Ao reconhecer as iniciativas culturais que aconteciam pelo país, dando a elas estrutura para fluírem, sem impor a sua própria visão de cultura, o MinC fortaleceu a autonomia dessas organizações
Ministro da Cultura Gilberto Gil, a atriz e dançarina Quitéria Chagas e passista durante visita ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano (2004-12-13)Instituto Gilberto Gil
O protagonismo e o empoderamento, em parte, foram frutos dessa autonomia, mas ganharam ainda mais força ao conectar essas diversas iniciativas num gigantesco processo de articulação em rede. O Programa Cultura Viva tinha cinco ações estratégicas:
Ministro da Cultura Gilberto Gil participa do lançamento da Rede Olhar Brasil (2006-12-04)Instituto Gilberto Gil
Os Pontos de Cultura, Agentes Cultura Viva, Escola Viva, a ação Griô e a Cultura Digital. Os Pontos de Cultura eram os elos da rede por onde os diferentes atores fluem e colidem para produzir novas iniciativas.
Ministro da Cultura Gilberto Gil, o secretário do Audiovisual do Ministério Orlando Senna e o prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira participam da solenidade de lançamento da Rede Olhar Brasil (2006-12-04)Instituto Gilberto Gil
Os Agentes Cultura Viva eram jovens que recebiam uma bolsa de residência artística nos Pontos de Cultura. A Escola Viva era a conexão entre os Pontos de Cultura e as escolas. A ação Griô reconhecia mestres da sabedoria popular os quais, também através dos Pontos de Cultura...
Ministro da Cultura Gilberto Gil, o secretário do Audiovisual do Ministério Orlando Senna e o prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira participam da solenidade de lançamento da Rede Olhar Brasil (2006-12-04)Instituto Gilberto Gil
...podiam transmitir seus conhecimentos ancestrais aos mais jovens. Por fim, a Cultura Digital oferecia uma plataforma de ferramentas para documentação e promoção dos conhecimentos que circulavam entre as diferentes ações estratégicas.
Ministro da Cultura Gilberto Gil e Danilo Santos de Miranda no Seminário Cultura Viva na Teia (2006-04-05)Instituto Gilberto Gil
Conforme nota Célio Turino, “a Cultura Viva era a macro rede que conectava as micro redes dos Pontos”. A Cultura Digital era a ação do Cultura Viva que trazia consigo não só as novas tecnologias para serem apropriadas pelos Pontos.
Gilberto Gil e o jornalista Luis Nassif, da revista CartaCapital, no 34º Fórum de Debates do Projeto Brasil (2006-09-13)Instituto Gilberto Gil
Mas também a filosofia de conhecimentos livres para articulação em rede. Idealizada por Claudio Prado, amigo de Gil dos tempos dos festivais da Ilha de Wight (Londres) e de Águas Claras (Iacanga - SP), a Cultura Digital foi o fluido da utopia de uma nova forma de ver a cultura.
Gilberto Gil, então ministro da Cultura, ao lado do presidente Lula e do vice-presidente José Alencar em lançamento do Programa Brasileiro de Cinema e Audiovisual (2003-10-13)Instituto Gilberto Gil
A materialização da ação se dava através do Kit Multimídia para produção audiovisual que cada Ponto de Cultura recebia ao entrar para a rede. Com o uso de software livre para edição e publicação de conteúdo, a Cultura Digital era a ignição de uma relação até então improvável:
O ministro da Cultura Gilberto Gil na inauguração de terminais multimídia no Palácio Capanema, no Centro do Rio de Janeiro (2007-04-13)Instituto Gilberto Gil
A fusão da alta tecnologia com os saberes de povos tradicionais. Essa ideia foi genial, pois o suporte audiovisual era a melhor ferramenta para documentar o conhecimento tradicional, baseado na oralidade.
Gilberto Gil no palco do show de lançamento da nova versão de sua música Pela Internet, 21 anos depois (2018-01-30)Instituto Gilberto Gil
Gil já havia cantado esse tema em suas canções Pela Internet e Banda Larga Cordel. O Programa Cultura Viva deu materialidade àquela utopia lírica. De fato, Gilberto Gil pode ser considerado um encantador da cultura brasileira.
Ministro da Cultura Gilberto Gil com alunos e professores da Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha na inauguração do Museu da Maré (2006-05-08)Instituto Gilberto Gil
Suas ações à frente do Ministério da Cultura transformaram a vida cultural do país, mesmo com as limitações de recursos que a pasta historicamente sempre enfrentou. Gil demonstrou, com criatividade e muita brasilidade, como se pode superar a escassez de recursos.
O então ministro da Cultura Gilberto Gil, o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (30/07/1935 - 20/11/2014) e o cantor Netinho de Paula na inauguração do Parque dos Brinquedos, em São Paulo (2004-11-20)Instituto Gilberto Gil
Ou melhor, que ideias transformadoras nem sempre demandam enormes recursos. É surpreendente a grandeza de Gil nesse sentido. Mesmo sendo um artista de palco de renome internacional, que fez a sua carreira vendendo o seu trabalho como músico...
Gilberto Gil na inauguração do Parque Nacional Quilombo dos Palmares (2007-11-19)Instituto Gilberto Gil
...ele entendeu que a cultura não é um produto de prateleira, mas um processo de encantamento social. No lançamento do Programa de Pontos de Cultura, Gil disse:
“O que acontece quando se solta uma mola comprimida, quando se liberta um pássaro, quando se abrem as comportas de uma represa? Veremos”.
Gilberto Gil
Ministro da Cultura Gilberto Gil e secretário Célio Turino em coletiva sobre o lançamento do evento TEIA - A Rede de Cultura do Brasil (2006-03-27)Instituto Gilberto Gil
Dois anos depois, na Teia, que ocorreu no pavilhão da Bienal de Artes de São Paulo com o tema “Venha Se Ver e Ser Visto”, ao ver toda a diversidade de Pontos de Cultura recolorindo um espaço tão elitizado como era a Bienal, Gil chorou de emoção durante a coletiva de imprensa.
Ministro da Cultura Gilberto Gil em coletiva sobre o lançamento do evento TEIA - A Rede de Cultura do Brasil (2006-03-27)Instituto Gilberto Gil
Talvez nem o encantador poderia saber quão potente tinha sido o seu encanto. A utopia havia se transformado em realidade, e aquilo mudaria para sempre o nosso entendimento sobre a identidade, ou as identidades culturais brasileiras.
Créditos da exposição
Redação e pesquisa: Marco Konopacki (*cientista político e membro do coletivo Soylocoporti, foi gestor do Pontão de Cultura Kuai Tema entre 2008 e 2010)
Montagem: Isabela Marinho
Agradecimentos: Célio Turino, Juca Ferreira, Luis Turiba, Maria de Nazaré Pedroza, Adair Rocha e Sérgio Xavier
Créditos gerais
Edição e curadoria: Chris Fuscaldo / Garota FM Edições
Pesquisa do conteúdo musical: Ceci Alves, Chris Fuscaldo, Laura Zandonadi e Ricardo Schott
Pesquisa do conteúdo MinC: Carla Peixoto, Ceci Alves e Chris Fuscaldo
Legendas das fotos: Anna Durão, Carla Peixoto, Chris Fuscaldo, Daniel Malafaia, Fernanda Pimentel, Gilberto Porcidonio, Kamille Viola, Laura Zandonadi, Lucas Vieira, Luciana Azevedo, Patrícia Sá Rêgo, Pedro Felitte, Ricardo Schott, Roni Filgueiras e Tito Guedes
Edição de dados: Isabela Marinho e Marco Konopacki
Revisão Gege Produções: Cristina Doria
Agradecimentos: Gege Produções, Gilberto Gil, Flora Gil, Gilda Mattoso, Fafá Giordano, Maria Gil, Meny Lopes, Nelci Frangipani, Cristina Doria, Daniella Bartolini e todos os autores das fotos e personagens da história
Todas as mídias: Instituto Gilberto Gil
*Todos os esforços foram feitos para creditar as imagens, áudios e vídeos e contar corretamente os episódios narrados nas exposições. Caso encontre erros e/ou omissões, favor entrar em contato pelo e-mail atendimentogil@gege.com.br
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