Do Instituto Gilberto Gil
Redação: Ricardo Schott, escritor, jornalista e pesquisador musical
Gilberto Gil e Marília Medalha no III Festival da Música Popular Brasileira (1967-10-21)Instituto Gilberto Gil
Prêmio tropicalista
Para muitos fãs, Gilberto Gil já chegou ganhando prêmios. Em 1967, ao participar do lendário III Festival de Música Popular da Record, emplacou sua composição Domingo no Parque em segundo lugar, ganhando como troféu a quantia de 16 mil cruzeiros novos.
Prêmio Para Domingo no Parque - Melhor Música (1967)Instituto Gilberto Gil
Gilberto Gil e Nana Caymmi durante apresentação no III Festival da Canção da Record (1967)Instituto Gilberto Gil
Os festivais, nos anos 1960 eram a maior vitrine para cantores e compositores populares, e o que aparecia neles, acabava – para usar um termo que se tornou popular décadas depois – "viralizando".
Gilberto Gil e o conjunto Os Mutantes durante apresentação no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record (Outubro de 1967)Instituto Gilberto Gil
E ainda conseguiu o prêmio de melhor arranjo, que valia 1,5 mil cruzeiros novos. A canção vencedora foi Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, interpretado pelo primeiro e por Marília Medalha.
Gilberto Gil no III Festival da Música Popular Brasileira (1967)Instituto Gilberto Gil
As canções tocavam no rádio, os artistas davam cada vez mais shows, entravam num circuito de apresentações na televisão e acabavam contratados pela TV Record para mais aparições na casa.
Gilberto Gil e Os Mutantes em ensaio para o III Festival da Música Popular Brasileira (1967)Instituto Gilberto Gil
Gil participou de outros festivais, mas Domingo no Parque, que ele cantou acompanhado da banda Os Mutantes, acabou sendo considerado o marco zero do tropicalismo, num evento que gerou imagens inesquecíveis.
Gilberto Gil e Sandra Gadelha durante o exílio do artista baiano (1970)Instituto Gilberto Gil
Rejeito + aceito = rejeito
Em 1970, já exilado em Londres, Gilberto Gil recebeu a notícia de que seu último sucesso no Brasil, Aquele Abraço, havia ganhado o prêmio Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro.
Gilberto Gil se apresenta na rádio francesa Europe 1, na França (1970)Instituto Gilberto Gil
Gil recusou o prêmio, por meio do texto intitulado “Rejeito + aceito = rejeito”, publicado no Pasquim, tabloide carioca que apoiava a contracultura e impulsionava as críticas à ditadura militar vigente no Brasil entre 1964 a 1985.
Gilberto Gil no filme O Demiurgo, gravado durante seu exílio em Londres (1972)Instituto Gilberto Gil
No dia 25 de agosto de 1970, o jornal publicou as palavras do artista. No artigo, acusava os jurados do Conselho Superior de MPB, presidido pelo então diretor do MIS, Ricardo Cravo Albin, de conservadores e apresentava suas justificativas:
Trecho manuscrito da música Aquele Abraço, de Gilberto Gil (1969)Instituto Gilberto Gil
“Porque não acredito, como pensam meu pai e amigos do Brasil, que o Golfinho me tenha sido concedido por aqueles que reconhecem meu trabalho, que realmente gostam de mim e não pelos que me menosprezam e ignoram. Ingenuidade...
“... Embora muita gente possa mesmo respeitar o que fiz no Brasil (talvez até mesmo gente do museu), acho muito difícil que esse museu venha premiar a quem, claramente, sempre esteve contra a paternalização cultural asfixiante, moralista, estúpida e reacionária...
“... que ele faz com relação à música brasileira”, escreveu. “Se ele (MIS) pensa que com Aquele Abraço eu estava querendo pedir perdão pelo que fizera antes, se enganou...
“... E eu não tenho dúvida de que o museu realmente pensa que Aquele Abraço é samba de penitência pelos pecados cometidos contra a ‘sagrada música brasileira’...
Gilberto Gil no programa Discoteca do Chacrinha (1981)Instituto Gilberto Gil
"... Os pronunciamentos de alguns de seus membros e as cartas que recebi demonstram isso claramente. O museu continua sendo o mesmo de janeiro, fevereiro e março: tutor do folclore de verão carioca...
Gilberto Gil no programa de TV Buzina do Chacrinha na divulgação do álbum A Gente Precisa Ver o Luar (1981)Instituto Gilberto Gil
"... Eu não tenho porque não recusar o prêmio dado para um samba que eles supõem ter sido feito zelando pela ‘pureza’ da música popular brasileira (…)
Gilberto Gil e o cantor Zeca Pagodinho cantam Aquele Abraço no show Gil +10, realizado em comemoração aos 10 anos da rádio carioca MPB FM (2010-10-13)Instituto Gilberto Gil
"... E que fique claro para os que cortaram minha onda e minha barba que Aquele Abraço não significa que eu tenha me ‘regenerado’, que eu tenha me tornado ‘bom crioulo puxador de samba’ como eles querem que sejam todos os negros que realmente ‘sabem qual é seu lugar’...
Gilberto Gil durante apresentação da turnê Gilbertos Samba (2014-04-05)Instituto Gilberto Gil
"... Eu não sei qual é o meu e não estou em lugar nenhum; não estou mais servindo a mesa dos senhores brancos e nem estou mais triste na senzala em que eles estão transformando o Brasil”.
Gilberto Gil e músicos durante a gravação do show Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo (2012-05-28)Instituto Gilberto Gil
Em 1986, com o MIS sob outra direção, Gil recebeu novamente o Golfinho de Ouro, concedido pelo Governo do Estado do Rio. Em outra fase da vida, ele aceitou o prêmio.
Gilberto Gil nos bastidores do Prêmio Shell de música brasileira (1990)Instituto Gilberto Gil
Prêmios musicais
Em 1990, Gil foi o grande homenageado da décima edição do Prêmio Shell de Música. Na época, recebeu um troféu e um prêmio de US$ 10 mil.
Gilberto Gil recebe o Prêmio Shell de música brasileira (1990)Instituto Gilberto Gil
Na premiação, ocorrida no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, fez um show com sua banda, que incluía de hits antigos como Super-Homem - A Canção, a novidades como O Eterno Deus Mu Dança. Na época, deu entrevista ao jornal O Globo avaliando sua obra.
Público do Prêmio Shell de música brasileira (1990)Instituto Gilberto Gil
“O prêmio está ligado à acumulação histórica e artística do meu trabalho”, contou. “Minha obra é profusa. Ela tem quantidade e relativa qualidade...
Cartaz do Prêmio Shell em homenagem a Gilberto Gil (1990)Instituto Gilberto Gil
"... Ela é muito representativa do que tem sido a trajetória da minha geração de classe média pequeno-burguesa, com ligações populares e raízes na riqueza étnica do Brasil”.
Gilberto Gil com Rita Lee no 11° Prêmio Sharp da Música Brasileira (1998-05)Instituto Gilberto Gil
Já em 1994, Gil foi o homenageado na sétima edição do Prêmio Sharp de Música no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quando recebeu de Dorival Caymmi uma retribuição por sua importância para a música nacional.
8o Prêmio Sharp de Música - Ano Elis Regina (1994)Instituto Gilberto Gil
Gilberto Gil com Rita Lee no 11° Prêmio Sharp da Música Brasileira (1998-05)Instituto Gilberto Gil
No ano seguinte, ganhou o mesmo prêmio, nas categorias Melhor Cantor de MPB e Melhor Canção de MPB (com A Novidade, parceria dele com a banda Os Paralamas do Sucesso). O prêmio mudou de patrocinador, ganhou outros nomes e Gil continuou sendo lembrado.
Gilberto Gil no 11° Prêmio Sharp da Música Brasileira (1998-05)Instituto Gilberto Gil
O prêmio mudou de patrocinador, ganhou outros nomes e Gil continuou sendo lembrado.
Gilberto Gil, Zeca Pagodinho e Lenine nos bastidores do Prêmio Tim de Música (2007-05-15)Instituto Gilberto Gil
Em 2002, época em que a premiação se chamou Prêmio Tim de Música, ele foi escolhido Melhor Cantor pelo voto popular, e ganhou também os prêmios de Melhor Álbum Regional (por São João Vivo) e Melhor Cantor Regional.
Gilberto Gil e Caetano Veloso durante apresentação no Prêmio Multishow de 2015 (2015-09-01)Instituto Gilberto Gil
Em 2006, o artista ganhou o Prêmio Multishow de Música Brasileira, na categoria Música, por Vamos Fugir. Em 2015, seu DVD ao vivo Gilberto Sambas ao Vivo ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor DVD Especial.
Gilberto Gil, Maria Gadu e Caetano Veloso nos bastidores do Prêmio Multishow de Música Brasileira (2015-09-01)Instituto Gilberto Gil
No ano seguinte, seu CD Dois Amigos, um Século de Música, feito em parceria com Caetano Veloso recebeu o 27º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Álbum de MPB.
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Pesquisa e redação: Ricardo Schott (colaborou Carla Peixoto)
Montagem: Isabela Marinho
Créditos gerais
Edição e curadoria: Chris Fuscaldo / Garota FM Edições
Pesquisa do conteúdo musical: Ceci Alves, Chris Fuscaldo, Laura Zandonadi e Ricardo Schott
Pesquisa do conteúdo MinC: Carla Peixoto, Ceci Alves e Chris Fuscaldo
Legendas das fotos: Anna Durão, Carla Peixoto, Chris Fuscaldo, Daniel Malafaia, Fernanda Pimentel, Gilberto Porcidonio, Kamille Viola, Laura Zandonadi, Lucas Vieira, Luciana Azevedo, Patrícia Sá Rêgo, Pedro Felitte, Ricardo Schott, Roni Filgueiras e Tito Guedes
Edição de dados: Isabela Marinho e Marco Konopacki
Revisão Gege Produções: Cristina Doria
Agradecimentos: Gege Produções, Gilberto Gil, Flora Gil, Gilda Mattoso, Fafá Giordano, Maria Gil, Meny Lopes, Nelci Frangipani, Cristina Doria, Daniella Bartolini e todos os autores das fotos e personagens da história
Todas as mídias: Instituto Gilberto Gil
*Todos os esforços foram feitos para creditar as imagens, áudios e vídeos e contar corretamente os episódios narrados nas exposições. Caso encontre erros e/ou omissões, favor entrar em contato pelo e-mail atendimentogil@gege.com.br
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