Do Tamboril à Braúna: Conversas com Quem Gosta de Árvores

Enterolobium contortisiliquum, Da coleção de: Instituto Inhotim
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O tamboril, árvore ícone do Inhotim e admirada particularmente por seu tamanho majestoso e sua copa frondosa, observa a criação e desenvolvimento do nosso Instituto ao longo dos anos, abrigando e inspirando plantas, animais, funcionários e visitantes. As árvores possuem a capacidade de alterar o ambiente ao redor, através da adição de matéria orgânica no solo pela queda de folhas, ou pela ação da sombra que aumenta a umidade em seu entorno e diminui a temperatura. Com o tamboril não é diferente: sua sombra é local de descanso e seu tronco é morada para dezenas de outras plantas que são conhecidas como epífitas por viverem em cima de árvores. Quando seus frutos estão amadurecendo, é a vez das maritacas fazerem algazarra ao comer as sementes ainda tenras dentro de seus característicos frutos negros e contorcidos em forma de meia lua. Já deu para perceber que as árvores são seres fantásticos, cheias de funções ecológicas e histórias para contar. Sim, esse não é um atributo exclusivo do tamboril, e por isso a exposição “Do tamboril á braúna: conversas com quem gosta de árvores” busca reunir saberes de algumas das árvores mais preciosas do acervo botânico do Inhotim, para que, conhecendo mais desses seres majestosos possamos contribuir com a sua conservação.

Cecropia hololeucaInstituto Inhotim

As folhas prateadas dessa espécie de embaúba se destacam em qualquer floresta. Há alguns anos, essa característica desperta grande interesse do paisagista do Inhotim, Pedro Nehring, que em 2020 passou a inclui-la no Jardim Sombra e Água Fresca. Há um esforço por parte da equipe do Jardim Botânico Inhotim em coletar sementes e produzir mudas dessa árvore nativa e endêmica da Mata Atlântica, esforço que começa pelo monitoramento das árvores matrizes espalhadas pela área do Instituto para coletar frutos.

Cecropia hololeuca (folhas)Instituto Inhotim

O próximo passo acontece dentro do Laboratório de Botânica do Inhotim, onde as sementes são extraídas e passam por tratamento ácido. Esse procedimento simula o que acontece na natureza: quando os frutos da embaúba são consumidos por pássaros, morcegos e primatas, os sucos gástricos desses animais "acordam” as sementes dormentes. Após germinar, as sementes seguem para a estufa berçário, onde são mantidas até serem transferidas para os jardins. Esse foi o processo vivido pela embaúba da foto – uma árvore de apenas um ano e de 1,5 m de altura.

Cecropia hololeuca (detalhe)Instituto Inhotim

Assim como outras de sua espécie, essa jovem embaúba crescerá. Seu tronco longo e oco poderá ser a casa de uma colônia formiga azteca, numa das relações ecológicas de cooperação mais famosas: uma árvore que oferece abrigo e formigas que protegem contra ataques de herbívoros.

Cariniana estrellensisInstituto Inhotim

Esse gigante pode ultrapassar 45 metros em florestas bem preservadas. Uma árvore desse porte é capaz de bombear do solo e transpirar cerca de 1000 litros de água em um único dia. As raízes das árvores são sugadores sofisticados e extremamente inteligentes. Já seus troncos funcionam como tubos que ajudam a bombear água para as folhas. Ao transpirar, as árvores tornam o ar mais úmido, transformando o clima ao redor e aumentando o conforto ambiental.

Cariniana estrellensis (detalhe)Instituto Inhotim

Por isso, uma árvore pode ser considerada um ar-condicionado da natureza e uma floresta é capaz de produzir rios aéreos. Uma grande árvore como essa ainda pode ser a casa de muitos animais, como o pássaro joão-graveto ou joão-de-pau, que encontrou nesse jequitibá um lugar para instalar sua moradia.

Cedrela fissilisInstituto Inhotim

No Jardim Sombra e Água Fresca, o cedro é uma relíquia de um passado florestal talvez um pouco distante. Em um passado recente, a floresta deu lugar a uma pastagem e a pastagem deu lugar ao jardim. A história do Inhotim está alicerçada na transformação da paisagem, que no decorrer dos anos fomentou uma trajetória de múltiplos objetivos e usos. Hoje, o cedro e o Inhotim se encontram, onde um oferece o encantamento e a imponência e o outro oferece um lugar seguro para viver.

Plinia caulifloraInstituto Inhotim

“Atrás do grupo-escolar ficam as jabuticabeiras.
Estudar, a gente estuda. Mas depois,
ei pessoal: furtar jabuticaba.
Jabuticaba chupa-se no pé.(...)”
Carlos Drummond de Andrade (Fruta-furto)


As travessuras de infância contadas pelo poeta mineiro também são memórias de muitos brasileiros. A jabuticabeira é uma das árvores nativas mais populares nos quintais domésticos do Brasil, em várias épocas e regiões. Nativa da Mata Atlântica, o consumo dessa fruta é uma herança dos povos indígenas.

Plinia cauliflora (detalhe)Instituto Inhotim

Além disso, a jabuticaba ocupa um lugar especial na mesa dos mineiros. Além do consumo 𝘪𝘯 𝘯𝘢𝘵𝘶𝘳𝘢, a fruta é base para geléias, molhos, licores, sucos e outras preparações. À uma hora e meia de Inhotim, está a terra da jabuticaba – o município de Sabará (MG). Sabará produz jabuticabas desde o período colonial e a cidade é famosa pela antiga prática de alugar pés de jabuticaba para visitantes. Pagando um determinado valor ao proprietário, você pode consumir o quanto quiser e até levar para casa, se desejar.

Mangifera indicaInstituto Inhotim

A mangueira foi introduzida na cidade de Belém (PA) em 1780 pelo arquiteto e naturalista italiano Antônio Landi. Frente à situação da sociedade na época, havia a busca por uma “política paisagística” no espaço urbano da cidade. Por essa razão a cidade ficou conhecida como “cidade das mangueiras”, e a cultura local apelidou o seu estádio de futebol de “Mangueirão”. A mangueira também é famosa nos quintais por sua árvore ser bastante ornamental, produtora de sombra e de frutos saborosos.

Mangifera indica (detalhe)Instituto Inhotim

Manga-espada, manga-coco, manga-rosa, manguito, manga Tommy Atkins, essas só são algumas das mais de 1500 variedades de manga. A manga é uma das culturas comerciais mais importantes do mundo em termos de produção, marketing e consumo. O Brasil está entre os principais países produtores, no qual a maior parte da produção é para consumo interno. As mangas podem ser consumidas 𝘪𝘯 𝘯𝘢𝘵𝘶𝘳𝘢 ou em sorvetes e doces.

Bixa orellanaInstituto Inhotim

O urucum é uma planta famosa por fornecer sementes amplamente utilizadas por comunidades indígenas. Esse uso é descrito por Pero Vaz de Caminha na sua carta redigida em abril de 1500: “Traziam alguns deles uns ouriços verdes, de árvores, que, na cor, queriam parecer de castanheiros, embora mais e mais pequenos. E eram aqueles cheios duns grãos vermelhos pequenos, que, esmagados entre os dedos, faziam tintura vermelha, de que eles andavam tintos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam”.

Bixa orellana (detalhe)Instituto Inhotim

O pigmento contido no interior dos frutos é muito apreciado por ter a cor vermelha. A pintura dos corpos para danças, ritos, ou festas é uma prática recorrente entre as diversas etnias. A tinta do urucum também é importante para proteger a pele contra o sol e contra insetos.

Crescentia cujeteInstituto Inhotim

O nome coité vem do tupi que significa “vasilha” ou “panela”. Isso porque o coité possui um fruto com uma casca bem dura que é muito utilizado como vasilhame. Os frutos verdes podem ser consumidos cozidos ou em sopas; já dos frutos maduros só se utiliza a casca para fazer artesanato e vasilhames para cozinha.

Crescentia cujete (detalhe)Instituto Inhotim

Calycophyllum spruceanumInstituto Inhotim

De crescimento rápido, o pau-mulato é utilizado para postes, lenha e carvão. Mas é no paisagismo que essa espécie amazônica se destaca. Seu tronco liso e de cor bronze faz sucesso na formação de alamedas (árvores dispostas lado a lado, em fileira), muito utilizada no paisagismo do Inhotim. À medida que troca a casca durante o ano, apresenta variadas colorações, aumentando ainda mais seu valor ornamental. É uma boa opção para arborização de canteiros centrais, desde que não haja fiação elétrica acima da planta.

Calycophyllum spruceanum (detalhe)Instituto Inhotim

Dalbergia nigraInstituto Inhotim

A qualidade da madeira da 𝘋𝘢𝘭𝘣𝘦𝘳𝘨𝘪𝘢 𝘯𝘪𝘨𝘳𝘢 vem desde o seu nome popular. Jacarandá vem do termo tupi iakarandá, que significa “o que tem a cabeça dura”. Esse nome é comum a diversas plantas que fornecem excelente madeira para móveis ou outras obras finas de marcenaria. A madeira de grande beleza do jacarandá-preto é usada na marcenaria de luxo e em instrumentos musicais, como pianos. Conhecida comercialmente há mais de trezentos anos, essa é uma das mais valiosas espécies madeireiras que ocorrem no Brasil.

Dalbergia nigra (detalhe)Instituto Inhotim

Paubrasilia echinataInstituto Inhotim

Objeto de exportação desde os tempos coloniais, o intenso e desordenado processo de exploração extrativista causou um grande declínio populacional dessa espécie, que atualmente se encontra ameaçada de extinção. Essa é uma realidade de diversas espécies de madeira nobre, portanto a exploração sustentável, o manejo adequado e ações efetivas de conservação são essenciais para a proteção dessas espécies. Apesar de amplamente cultivada e ser a árvore símbolo do Brasil ainda é pouco conhecida pelos brasileiros.

Paubrasilia echinata (detalhe)Instituto Inhotim

Planos de ações para a conservação do pau-brasil devem ainda considerar cenários de mudanças climáticas. Um estudo de 2019 indicou uma redução gradual na área climaticamente adequada dentro e fora de áreas protegidas. Não só o pau-brasil irá sofrer com as mudanças climáticas, portanto, a nossa sociedade precisa repensar sua forma de produzir e consumir para que possamos manter o máximo de biodiversidade e a viabilidade da própria espécie humana.

Zeyheria tuberculosaInstituto Inhotim

Zeyheria tuberculosa (detalhe)Instituto Inhotim

Zeyheria tuberculosa (detalhe)Instituto Inhotim

Outra forma de proteger espécies é através de coleções 𝘦𝘹 𝘴𝘪𝘵𝘶. Coleções 𝘦𝘹 𝘴𝘪𝘵𝘶 conservam o germoplasma de espécies, que no caso das árvores, pode ser o indivíduo vivo, um pedaço de tecido ou uma semente. No Laboratório de Botânica do Inhotim, duas câmaras frias armazenam sementes de árvores nativas, entre elas, sementes de ipê-felpudo. Apesar de ser uma espécie pioneira bastante rústica, está ameaçada de extinção pela intensa exploração. Assim, para garantir sua proteção é essencial conservá-la em coleções como essa.

Melanoxylon braunaInstituto Inhotim

Dominar o conhecimento sobre a produção de uma espécie vegetal também é uma forma de garantir sua proteção. Estudos nesse sentido são desenvolvidos no Inhotim para contribuir com a conservação da braúna. Essa árvore da Mata Atlântica é conhecida pela qualidade e durabilidade da sua madeira e pela sua belíssima floração. Raramente tem sido registrada na natureza, fato que a coloca em risco de extinção. Conhecer a melhor forma de propagar essa espécie é um caminho para protegê-la e utilizá-la de modo sustentável.

Melanoxylon brauna (muda)Instituto Inhotim

Melanoxylon brauna (muda)Instituto Inhotim

Créditos: história

INHOTIM

Antonio Grassi – Presidente Institucional

Henrique Cunha – Vice Presidente Executivo
Allan Schwartzman - Diretor Artístico
Felipe Paz - Gerente Executivo
Lorena Vicini - Gerente de Comunicação
César Timóteo - Gerente de Educação
Andreza Marinho - Gerente de Financeiro
Arthur Castro - Gerente de Jardim Botânico
Cristiano Maciel - Gerente de Operações
Eduardo Silva - Gerente de Compras
Paulo Soares - Gerente Técnico
Raquel Murad - Gerente de RH


EXPOSIÇÃO NO GOOGLE ARTS AND CULTURE

Paisagista: Pedro Nehring
Curador Botânico: Juliano Borin
Gerente de Jardim Botânico: Arthur Castro
Coordenadora do Jardim Botânico: Sabrina Carmo
Bióloga do Jardim Botânico: Nayara Mota
Analista Ambiental: Bárbara Sales
Projeto: Juliano Borin, Sabrina Carmo, Nayara Mota e Bárbara Sales
Fotos: João Marcos Rosa
Textos: Nayara Mota, Juliano Borin, Bárbara Sales e Sabrina Carmo
Áudios: Harri Lorenzi – Engenheiro Agrônomo, autor de uma série de livros sobre Botânica e fundador do Instituto Plantarum
Arthur Castro – Gerente do Jardim Botânico do Inhotim
Juliano Borin - Curador Botânico do Instituto Inhotim
Laís Diniz Silva - Educadora do Instituto Inhotim
Walter Silva - Viveirista
Pedro Nehring - Paisagista do Instituto Inhotim
Projeto Digital: Pedro Dillan


COMUNICAÇÃO INHOTIM

Lorena Vicini
Wendell Silva
Ricardo Lopes
Pedro Dillan
Biba Habka
Brendon Campos
Luana Dornas
Izabela Ventura
Marcelo Martins

Créditos: todas as mídias
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