Gilberto Gil e Caetano Veloso: A história de uma amizade

Mentores do movimento tropicalista se conheceram ainda na Bahia e trilharam seus caminhos sempre se encontrando nos palcos, na prisão, no exílio e nos discos.

Do Instituto Gilberto Gil

Redação: Chris Fuscaldo, escritora, jornalista e pesquisadora musical

O início de uma amizade eterna

A amizade de Gilberto Gil e Caetano Veloso certamente seria reconhecida como patrimônio histórico e cultural brasileiro se relações de importância histórica e simbólica pudessem ser incluídas. Nascidos com menos de dois meses de diferença em 1942, os dois já tinham muito em comum antes de se conhecerem.

Toque para explorar

Bahia com H por Gilberto Gil e Caetano Veloso ao vivo
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Rua Chile

Em 1963, eles se conheceram na Rua Chile, localizada no centro de Salvador, e nunca mais se desgrudaram. Gil descia a rua com o produtor Roberto Sant'Ana, que avistou Caetano subindo e fez as apresentações.

Caetano Veloso e Gilberto Gil no show Barra 69, apresentado antes da partida para o exílio (1969-07-20)Instituto Gilberto Gil

Ali nascia uma amizade, que foi dos shows no Teatro Vila Velha, na capital baiana, à ida para os grandes centros, passando pela criação do tropicalismo, pelo companheirismo no exílio, em Londres, e por muitos projetos juntos. 

Letra da música Trovoada, apresentada por Gilberto Gil em 1965, em seu primeiro show individual, na Bahia (1965-08-19)Instituto Gilberto Gil

Caetano Veloso foi o produtor do primeiro show de Gil realizado em Salvador, em 1965, intitulado Inventário. Dessa noite, ficou para a história o papel com a letra, assinada por Gil, de uma canção inédita chamada Trovoada, cuja melodia foi esquecida pelos dois.

Guilherme Araújo, Gilberto Gil, Jorge Costa, Coelho Ribeiro, Maria Bethânia e Caetano Veloso na década de 1980 (1981)Instituto Gilberto Gil

A chegada no Sudeste

Gilberto Gil e Caetano Veloso foram para o Sudeste mais ou menos na mesma época. Caetano foi acompanhar sua irmã, Maria Bethânia, em suas apresentações no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro, em 1965. 

Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes na final paulista do III Festival Internacional da Canção Popular, no TUCA (1968-09-15)Instituto Gilberto Gil

No mesmo ano, Gilberto Gil chegou em São Paulo, para trabalhar na Gessy Lever. No ano seguinte, os dois já estavam se apresentando nos festivais da canção promovidos pelas emissoras de televisão.

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Sidney Miller e Elton Medeiros no Festival da Canção (1966)Instituto Gilberto Gil

Caetano Veloso e Gilberto Gil em apresentação nos anos 1960 (1968)Instituto Gilberto Gil

A Tropicália

Primeiramente sem planejar, os dois acabaram responsáveis pela criação do movimento mais revolucionário da história da música brasileira, a Tropicália.

Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Jorge Ben e os Mutantes (1968)Instituto Gilberto Gil

No início, eram apenas reuniões para compor, conversar, fazer um som com outros músicos e poetas. Depois de perceberem que, juntos, poderiam criar algo diferente, levaram as ideias inovadoras para os palcos dos festivais de música, que tinham enorme audiência. 

Gilberto Gil e Caetano Veloso à época do Tropicalismo (1968)Instituto Gilberto Gil

A influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, misturando manifestações tradicionais da cultura brasileira à inovações estéticas, logo chamaria atenção de todo o país e Caetano e Gil ficariam conhecidos como "tropicalistas".   

Gal Costa na estreia do programa Divino Maravilhoso (10/28/1968)Instituto Gilberto Gil

Junto à cantora Gal Costa, eles chegaram a ter um programa de televisão chamado Divino Maravilhoso - que era também o nome de uma canção de Caetano e de Gil.

Caetano Veloso na estreia do programa Divino Maravilhoso (10/28/1968)Instituto Gilberto Gil

O programa ficou no ar apenas três meses, pois os improvisos chocaram demais os diretores da TV Tupi, que temiam uma resposta da censura que vigorava nos tempos de regime militar. 

Gilberto Gil e Sérgio Dias em show realizado com Caetano Veloso na Boate Sucata (1968)Instituto Gilberto Gil

London, London, por Gilberto Gil e Caetano Veloso ao vivo
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A prisão, um show e o exílio

Depois de "escandalizarem" os militares em suas apresentações no Festival Internacional da Canção da TV Globo e na Boate Sucata, no Rio de Janeiro, ambos eventos ocorridos no segundo semestre de 1968, os dois acabaram presos.

Gilberto Gil no III Festival Internacional da Canção Popular (1968-09-14)Instituto Gilberto Gil

Acompanhado da banda argentina de rock Beat Boys, Gil apresentou a canção Questão de Ordem no evento realizado em 1968. Caetano Veloso levou a canção É Proibido Proibir ao palco, acompanhado de Os Mutantes. 

Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes em show na boate Sucata (Outubro de 1968)Instituto Gilberto Gil

Na Sucata, Caetano, Gil e Mutantes se arriscavam: no cenário, havia uma obra do artista plástico Hélio Oiticica com a imagem do bandido Cara de Cavalo (executado pela esquadrão de morte da polícia) e a inscrição: "Seja marginal, seja herói". 

Gilberto Gil Caetano Veloso na década de 1960 (1967)Instituto Gilberto Gil

Militares ouviram falar da tal “bandeira” junto com rumores de que o Hino Nacional havia sido cantado de forma profana. Em 27 de dezembro, os dois foram acordados e levados em um camburão para dois meses de prisão.

Caetano Veloso no show Barra 69, que apresentou com Gilberto Gil antes da partida para o exílio (1969-07-20)Instituto Gilberto Gil

Caetano e Gil ainda foram obrigados a ficar em prisão domiciliar, em Salvador. Depois de uma negociação com os militares, programaram um exílio na Europa. Para angariar fundos para a mudança para a Inglaterra, os dois apresentaram, em Salvador, o show, que ficaria conhecido como  Barra 69 depois do lançamento do álbum, em 1972.

Gilberto Gil e o Conjunto Folclórico Viva Bahia no show Barra 69, apresentado com Caetano Veloso antes do exílio (1969-07-20)Instituto Gilberto Gil

Gilberto Gil ao telefone no exílio (Década de 1970)Instituto Gilberto Gil

O retorno ao país e às apresentações

Gil e sua esposa de então, Sandra Gadelha, bem como Caetano e a mulher, Dedé Gadelha, ficaram em Londres até 1972, quando conseguiram finalmente negociar o retorno ao seu país.  

Gilberto Gil em apresentação no evento Phono 73 (1973)Instituto Gilberto Gil

Em 1973, os dois participaram do festival Phono 73, este organizado pela gravadora Phonogram e realizado em São Paulo.

Fachada da casa de espetáculos que recebeu a turnê Dois Amigos, Um Século de Música, de Gilberto Gil e Caetano Veloso (2015-07-01)Instituto Gilberto Gil

Na volta ao Brasil, Gil e Caetano mergulharam em novos projetos. Mesmo com a ditadura militar ainda determinando as músicas que podiam ser gravadas e apresentadas, eles seguiram investindo na carreira. 

Os Doces Bárbaros: Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso (Década de 1970)Instituto Gilberto Gil

Em 1976, juntaram-se às intérpretes baianas Gal Costa e Maria Bethânia e montaram o espetáculo Doces Bárbaros, que ganhou uma turnê pelo Brasil.

Gilberto Gil e Caetano Veloso no palco (1978)Instituto Gilberto Gil

Participação em shows

Nos anos seguintes, era normal ver um participando no show do outro. Durante as turnês de RefazendaRefavela e Realce, três álbuns fundamentais da discografia de Gil, Caetano estava sempre lá nos bastidores, bem como nos shows de discos como Luar (A Gente Precisa Ver o Luar).  

Gilberto Gil com o cantor Caetano Veloso no show comemorativo Gil: 20 Anos-luz (Novembro de 1985)Instituto Gilberto Gil

Em 1985, Caetano não faltou ao espetáculo Gil: 20 Anos-Luz, em que o amigo baiano comemorou duas décadas de carreira em um show realizado em São Paulo com muitos convidados.

Caetano Veloso no showmício da campanha de Gilberto Gil para vereador de Salvador (1988-09-16)Instituto Gilberto Gil

Amigos até na política

Em 1988, Gilberto Gil decidiu disputar a Câmara dos Vereadores de Salvador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e Caetano foi um dos que fizeram showmício na capital baiana durante a campanha. Gil foi eleito o vereador com o maior número de votos.  

Campanha de Gilberto Gil para vereador de Salvador (1988-09-03)Instituto Gilberto Gil

Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sting e Elton John em show beneficente no Carnegie Hall, em Nova Iorque (1991)Instituto Gilberto Gil

Juntos no ativismo

Em 1991, Gilberto Gil e Caetano Veloso se uniram ao cantor britânico Elton John, ao vocalista da banda britânica The Police, Sting, e ao maestro brasileiro e mestre da bossa nova Tom Jobim em Nova Iorque.

Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sting e Elton John em show beneficente no Carnegie Hall, em Nova Iorque (1991)Instituto Gilberto Gil

Juntos, eles realizaram um concerto beneficente no Carnegie Hall, com o objetivo era levantar recursos para a Fundação Mata Virgem. Mais uma vez, Gil e Caetano se mostraram inseparáveis, desta vez no ativismo ambiental. 

Gilberto Gil e Caetano Veloso na calçada da fama do Jazz à Juan (1994-07-22)Instituto Gilberto Gil

Calçada da fama

O Jazz à Juan é um festival de música realizado em Juan-les-Pins, na França. 

Em 1994, Gil e Caetano foram participar do evento e acabaram convidados a deixar suas mãos na Calçada da Fama. 

Gilberto Gil e Caetano Veloso na calçada da fama do Jazz à Juan (1994-07-22)Instituto Gilberto Gil

 Mais uma vez, eles realizaram algo juntos.  

Gilberto Gil e Caetano Veloso em show para o Festival Jazz à Vienne, da turnê europeia Dois Amigos, Um Século de Música (2015-07-03)Instituto Gilberto Gil

Um século de amizade

Em 2015, Gil e Caetano se juntaram em uma turnê que comemorou 50 anos da amizade dos dois: Dois Amigos, Um Século de Música foi um show que rodou o mundo e virou disco.

Gilberto Gil e Caetano Veloso no show Dois Amigos, Um Século de Música no Porto (2016-04-24)Instituto Gilberto Gil

Gilberto Gil e Caetano Veloso no show Tropicália Duo (1994)Instituto Gilberto Gil

Celebração tropicalista

Gil e Caetano decidiram celebrar os 30 anos de amizade e os 26 anos do tropicalismo em 1993 com a gravação do álbum Tropicália 2

Imagem ausente

Em julho daquele ano, Gil foi homenageado na noite brasileira do XXVII Festival Internacional de Jazz de Montreux, com um espetáculo chamado Gilberto Gil and Friends, do qual participaram os músicos Caetano, Gal Costa, Chico Buarque, Dominguinhos, além do Trio Esperança.

Rascunhos de shows de Gilberto Gil Esboço 2 do show Tropicália 2, de Gilberto Gil e Caetano Veloso (1993)Instituto Gilberto Gil

Lançado através da gravadora PolyGram, Tropicália 2 foi divulgado em alguns shows. O primeiro deles aconteceu na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, em 25 de setembro. Depois, houve um outro em 2 de outubro, no Pólo de Arte e Cultura do Anhembi, em São Paulo.  

Gilberto Gil e Caetano Veloso em show da turnê do álbum Tropicália 2 (1993)Instituto Gilberto Gil

No palco, a sintonia era a mesma do início da carreira.

Gilberto Gil e Caetano Veloso em show da turnê do álbum Tropicália 2 (1993)Instituto Gilberto Gil

Gilberto Gil e o cantor, compositor e parceiro Caetano Veloso nas gravações do álbum Tropicália 2 (Março de 1993)Instituto Gilberto Gil

Gilberto Gil e Caetano Veloso no camarim do show QuantaInstituto Gilberto Gil

Amizade que virou legado

Gilberto Gil e Caetano Veloso são amigos do peito, melhores amigos, amigos para a vida toda. O casamento desses dois baianos já completou bodas de ouro e ainda há muita história pela frente. 

Gilberto Gil, Caetano Veloso, André Midani e Hermano Vianna durante gravação da série André Midani - Do Vinil Ao DownloadInstituto Gilberto Gil

Eles se tornaram dois dos principais nomes da cena musical brasileira dentro do país e em diversos outros continentes. Com algumas canções compostas juntos - entre elas Panis et Circenses - eles vão deixar um legado enorme para a memória da música nacional.

Créditos: história

Redação, pesquisa e montagem: Chris Fuscaldo


Créditos gerais 
 
Edição e curadoria: Chris Fuscaldo / Garota FM Edições
Pesquisa do conteúdo musical: Ceci Alves, Chris Fuscaldo, Laura Zandonadi e Ricardo Schott 
Pesquisa do conteúdo MinC: Carla Peixoto, Ceci Alves e Chris Fuscaldo
Legendas das fotos: Anna Durão, Carla Peixoto, Chris Fuscaldo, Daniel Malafaia, Fernanda Pimentel, Gilberto Porcidonio, Kamille Viola, Laura Zandonadi, Lucas Vieira, Luciana Azevedo, Patrícia Sá Rêgo, Pedro Felitte, Ricardo Schott, Roni Filgueiras e Tito Guedes
Edição de dados: Isabela Marinho e Marco Konopacki
Revisão Gege Produções: Cristina Doria
Agradecimentos: Gege Produções, Gilberto Gil, Flora Gil, Gilda Mattoso, Fafá Giordano, Maria Gil, Meny Lopes, Nelci Frangipani, Cristina Doria, Daniella Bartolini e todos os autores das fotos e personagens da história
Todas as mídias: Instituto Gilberto Gil
 
*Todos os esforços foram feitos para creditar as imagens, áudios e vídeos e contar corretamente os episódios narrados nas exposições. Caso encontre erros e/ou omissões, favor entrar em contato pelo e-mail atendimentogil@gege.com.br

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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