A Coleção
A exposição virtual "Fotografia Modernista Brasileira" traz uma seleção de 70 obras de 25 artistas, com destaque para as icônicas imagens fotográficas pertencentes à "Coleção Itaú Cultural", que reúne 160 obras de 38 artistas no total. As imagens exibidas exemplificam a ruptura formal promovida pelo modernismo fotográfico, explorando temas e técnicas para além das tradicionais normas da época.
Miragem (ca. 1950) by José YalentiItaú Cultural
Apesar de um início considerado tardio, a modernidade brasileira não foi menos relevante no que diz respeito à sua importância estética. As obras a seguir refletem o olhar de fotógrafos e fotógrafas que mudaram conceitos ao observar as grandes cidades e as transformações do espaço urbano brasileiro, ilustrando de maneira ímpar a coerência do discurso estético amplamente difundido nos encontros e na rede desses artistas, sobretudo entre aqueles que frequentaram o Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), criado em 1939.
Nas imagens reunidas, com destaque para os trabalhos realizados entre as décadas de 1940 e 1970, trazemos alguns temas e conceitos para a compreensão do que foi o modernismo fotográfico brasileiro.
Trilhos (1950) by André CarneiroItaú Cultural
Composição Óbvia (1953) by José Oiticica FilhoItaú Cultural
Estudo de Sombras (ca. 1950) by Marcel GiróItaú Cultural
A exposição Moderna para Sempre - Fotografia Modernista na Coleção Itaú Cultural, com curadoria de Iatã Cannabrava, é uma das itinerâncias realizadas pelo Itaú Cultural com recortes do Acervo do Banco Itaú. A mostra traz um expressivo conjunto de obras fotográficas modernistas e percorre cidades do Brasil e da América Latina em parceria com instituições e museus contemplando, e é um dos recortes de maior circulação do Acervo.
Assista à entrevista com o curador Iatã Cannabrava, gravada em 2014, na ocasião da exposição que ocorreu na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.
O Foto Cine Clube Bandeirante
O desenvolvimento da indústria fotográfica do final do século XIX e início do século XX simplificou e barateou equipamentos e processos. A década de 1930 foi um período fértil para a difusão de informações sobre fotografia. O conhecimento de artistas importantes da Europa e dos Estados Unidos chegava por meio de publicações que circulavam entre associações e lojas de materiais e equipamentos fotográficos. As reuniões de amantes da fotografia que aconteciam numa dessas lojas especializadas deu origem ao Foto Clube Bandeirantes (FCB), fundado em 1939 no centro de São Paulo (SP).
Versão Arquitetônica (s.d) by Francisco AlbuquerqueItaú Cultural
O FCB funcionava como um local de encontro e pesquisa de fotógrafos profissionais e amadores interessados em fotografia. Nos anos 1940 já dispunha de laboratórios e estúdio para seus associados e contava com salas de leitura e biblioteca. Além disso, publicava boletins informativos, revistas e catálogos de exposições. Em 1945 foi criado o departamento de cinema do fotoclube, que passou a se chamar Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB). O caráter formativo do fotoclube e seu fomento a exposições e salões nacionais e internacionais possibilitaram a expansão das redes de intercâmbio entre os fotógrafos associados.
Confira aqui a entrevista com o pesquisador e crítico Rubens Fernandes Junior sobre o Foto Cine Clube Bandeirante.
Versão Arquitetônica (s.d) by Francisco AlbuquerqueItaú Cultural
Além das reuniões habituais, os associados participavam de salões de fotografia, começando a ocupar espaço nos novos museus da cidade.
Assista aqui ao vídeo em libras sobre o Foto Cine Clube Bandeirante.
Miro (s.d) by Marcel GiróItaú Cultural
A chamada Escola Paulista (COSTA, Helouise; SILVA, Renato R. da. A Fotografia Moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2004) surgiu nos anos 1950, quando o FCCB atinge um alto grau de organização e se torna protagonista do movimento fotoclubista nacional na realização de eventos.
Miro (s.d) by Marcel GiróItaú Cultural
Composição II (s.d) by Gertrudes AltschulItaú Cultural
Nos fotoclubes, os associados participavam também da publicação de catálogos e revistas, de intercâmbio com instituições nacionais e estrangeiras e de associações fotoclubistas, com o objetivo de representar o Brasil em congregações de fotoclubes no exterior.
Composição II by Gertrudes AltschulItaú Cultural
DOS FOTOCLUBES AOS MUSEUS
A produção fotográfica realizada entre as décadas de 1940 e 1950 é uma das mais férteis do FCCB, que se aperfeiçoou à medida que as exposições e publicações que promovia ganhavam importância nacional e circulação internacional. Os destaques foram fotógrafos que já não eram tão influenciados pelo pictorialismo, que buscavam a construção de uma nova linguagem. Geraldo de Barros e German Lorca são dois nomes importantes desse período.
Oca, Parque do Ibirapuera (1954/2005) by German LorcaItaú Cultural
Em 1950, Geraldo de Barros expõe Fotoformas no Masp; German Lorca e Ademar Manarini realizam exposições no MAM/SP em 1952 e 1954, respectivamente. A Bienal de São Paulo de 1953 montou uma sala dedicada a fotografias realizadas por associados do FCCB.
Curvas Concêntricas (1955) by German LorcaItaú Cultural
Em 2018 o Itaú Cultural realiza a exposição German Lorca: Mosaico do Tempo, 70 Anos de Fotografia . Veja aqui o catálogo .
Veja aqui a entrevista com o fotógrafo German Lorca.
Fotoforma, Estação da Luz (1950) by Geraldo de BarrosItaú Cultural
Para Geraldo de Barros a fotografia era mais um meio de expressão, que explorava praticamente como um processo de gravura. Ele raspava, recortava, pintava e sobrepunha seus negativos, propondo uma nova visualidade da fotografia ao interferir diretamente na matriz da imagem.
Confira entrevista com a artista Fabiana de Barros sobre o trabalho de seu pai, Geraldo de Barros.
As Mulheres no FCCB
As mulheres chegam ao Foto Cine Clube Bandeirante quase uma década após sua fundação, quando se cria um departamento feminino.
O crescimento econômico e o processo de urbanização do Brasil no início da década de 1950 impulsionam o ingresso da mulher no mercado de trabalho, principalmente em setores como o comércio e em fábricas.
Nesse contexto, o trabalho como laboratoristas e retocadoras funcionava não só como via de aprendizado, mas também como meio de acesso aos materiais, aos estúdios e ao próprio trânsito nas ruas da cidade. Esse foi o caso de Palmira Giró e Alice Kanji, duas das fotógrafas contempladas na exposição.
Casa Santa (1966) by Palmira GiróItaú Cultural
Gertrudes Altschul, também fotógrafa amadora, é hoje um dos nomes de destaque da fotografia modernista brasileira.
Contemporânea dela e também jornalista e poetisa, Dulce Carneiro colaborou com artigos publicados nos boletins do clube. Tornou-se fotógrafa profissional na década de 1970, dedicando-se sobretudo ao retrato e à fotografia industrial e de arquitetura.
O vaso de trevo (s.d.) by Dulce CarneiroItaú Cultural
O Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, de Boris Kossoy, faz um grande levantamento sobre a fotografia brasileira, abrangendo almanaques, jornais, revistas, livros, manuscritos e álbuns fotográficos publicados em todos os estados brasileiros de 1833 a 1910. Apenas oito mulheres aparecem direta ou indiretamente ligadas à fotografia.
Composição II (s.d) by Alice Assis KanjiItaú Cultural
Alice Kanji, esposa do fotógrafo Tufy Kanji, permaneceu no FCCB mesmo após a morte do marido, tendo atuado por mais de 30 anos.
Obelisco (1954-2019) by Gertrudes AltschulItaú Cultural
Em 2015, a mostra Uma Mulher Moderna – Fotografias de Gertrude Altschul reuniu fotografias realizadas nos últimos anos de vida da artista. Segundo a curadora da exposição, Isabel Amado, por meio da fotografia, Gertrude aplicou sua experiência do artesanal e se utilizou da câmera fotográfica como recurso de compreensão e ferramenta de transformação do que se pensava ser um caminho para a arte.
Estética modernista
De acordo com Costa e Silva (COSTA, Helouise; SILVA, Renato R. da. "A Fotografia Moderna no Brasil ". São Paulo: Cosac Naify, 2004), a fotografia moderna brasileira teve forte influência dos movimentos de vanguarda da Europa e dos Estados Unidos, com destaque para a corrente conhecida como Nova Fotografia da Alemanha, que foi a base para a fotografia subjetiva praticada por diversos fotoclubes nas décadas de 1930, 1940 e 1950.
Estrutura-Catedral (1954) by Paulo PiresItaú Cultural
No Brasil, a produção da vanguarda europeia chegou no pós-guerra, influenciando várias iniciativas no campo das artes, como a fotografia moderna e o movimento de arte concreta, que teve como um de seus precursores o Grupo Ruptura, fundado em 1952 por Geraldo de Barros e outros artistas.
Equilíbrio (ca. 1960) by Osmar PeçanhaItaú Cultural
Assim, o período foi marcado por grande reação à arte acadêmica, ao figurativismo e à estética do pictorialismo.
A fotografia passou por uma grande renovação, traduzida na construção de uma linguagem própria que valoriza características particulares ao meio fotográfico e se dissocia de modelos que a aproximavam da pintura.
Convergentes (ca. 1950) by José YalentiItaú Cultural
Em Mendes e Camargo (MENDES, Ricardo; CAMARGO, Mônica Junqueira. Fotografia, Cultura e Fotografia Paulistana no Século XX . São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992) definem duas fases dentro da produção fotográfica do FCCB.
A primeira é caracterizada pela fotografia arquitetônica, com destaque para as produções de José Yalenti, Eduardo Salvatore e Thomaz Farkas, que exploram linhas, planos e detalhes dos modernos edifícios da cidade, ressaltados por meio de recursos do alto contraste, da solarização e do uso de papel brilhante. A segunda fase se define pela exploração de elementos abstratos, gráficos e concretos, presentes nos trabalhos de Marcel Giró, Geraldo de Barros, Rubens Scavone e Ademar Manarini.
Formas
A fotografia moderna significou uma grande ruptura estética e expôs duas realidades antagônicas da imagem: seu caráter figurativo e seu caráter abstrato.
Em suas experimentações estéticas, os fotógrafos modernistas afastaram-se da fotografia tradicional ou realista, abrindo espaço para a experimentação.
In Extremis (ca. 1950) by Ademar ManariniItaú Cultural
Ao perder seu referencial – outrora tão importante na construção de retratos e paisagens –, as imagens conquistaram todo um potencial abstrato. Os objetos perderam sua característica real e passaram a ter características plásticas, destacando suas linhas, sombras e texturas.
Composição N (1960) by Georges RadóItaú Cultural
Sem título (1970) by Gunter E.G. SchroederItaú Cultural
Primor da Técnica
A experimentação de técnicas e materiais é uma forte característica da produção fotoclubista. Vários desses fotógrafos foram exímios laboratoristas, com domínio total dos equipamentos, dos filmes fotográficos e dos materiais de revelação.
Elos (ca. 1950) by Mario FioriItaú Cultural
Influenciados pelas vanguardas fotográficas europeias e seus principais expoentes, como László Moholy-Nagy, Man Ray e Alexander Rodchenko, os fotoclubistas exploraram técnicas diversas.
Entre elas, podemos citar a múltipla exposição, a alteração de velocidades, a exposição ou ampliação de alto contraste, os processos químicos alternativos, o uso de diferentes tipos de montagens fotográficas, recortes nos negativos e micro e macrofotografia, além da intervenção nas provas e nos negativos.
Homens Trabalhando (1950) by Paulo PiresItaú Cultural
Tatuapé (1948) by Geraldo de BarrosItaú Cultural
Nas obras de Geraldo de Barros, como podemos ver nesta imagem, é recorrente a sobreposição e manipulação de negativos.
Cemitério do Tatuapé (1949) by Geraldo de BarrosItaú Cultural
Sem título (1950) by Geraldo de BarrosItaú Cultural
O fotograma, caso desta imagem, é uma das manifestações do abstracionismo na fotografia. O processo dispensa o uso da câmera, a intervenção acontece diretamente sobre o material sensível (papel fotográfico) durante o processo de ampliação e revelação no laboratório. Consiste basicamente em dispor objetos sobre um papel fotográfico, submetê-lo à luz e revelar, obtendo assim uma imagem negativa desses objetos. Para conseguir uma imagem positiva é necessário submeter essa cópia negativa a um novo processamento.
Assista aqui ao vídeo em Libras sobre experimentações técnicas usadas pelos fotoclubistas.
Do objeto à subjetividade
O espaço urbano é o cenário em que se desenvolve a fotografia moderna em São Paulo. As grandes transformações da metrópole foram representadas por elementos recorrentes, como arranha-céus, chaminés, janelas, escadas, fios, trilhos, pontes, automóveis e transeuntes.
Na fotografia arquitetônica, podemos destacar a produção de José Yalenti, Eduardo Salvatore e Thomaz Farkas, que exploravam linhas, planos e detalhes dos modernos edifícios da cidade, ressaltados por meio de recursos do alto contraste, da solarização e do uso de papel brilhante.
Linhas (1993) by Osmar PeçanhaItaú Cultural
Há também a exploração de elementos abstratos e gráficos nos trabalhos de Marcel Giró, Geraldo de Barros, Rubens Scavone e Ademar Manarini, exemplificados ao longo de toda a exposição.
Apesar dessa influência do cenário urbano no repertório imagético dos fotógrafos modernos, notamos ainda outros temas menos conhecidos pelo grande público, mas que também foram tratados, como a natureza, em sua presença material, e a subjetividade da figura humana, apresentada de forma quase surrealista em algumas obras.
Palmas (1951) by Osmar PeçanhaItaú Cultural
Elisa e sua Mente (1965) by Tufi KanjiItaú Cultural
EXPOSIÇÂO VIRTUAL FOTOGRAFIA MODERNISTA
Concepção e realização Itaú Cultural
Curadoria Núcleo de Artes Visuais e Núcleo de Acervo
Pesquisa Humberto Pimentel (terceirizado)
ITAÚ CULTURAL
Presidente Alfredo Setubal
Diretor Eduardo Saron
NÚCLEO DE ACERVO
Gerência Fúlvia Sannuto
Coordenação Luciana Soares
Produção Naiade Margonar e Vânia Mamede
NÚCLEO DE ARTES VISUAIS
Gerência Sofia Fan
Coordenação Juliano Ferreira
Produção-executiva e produção de conteúdo Júlia Munhoz e Luciana Rocha
NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO
Gerência Ana de Fátima Sousa
Coordenação Carlos Costa
Edição e produção de conteúdo Duanne Ribeiro e Fernanda Castello Branco
Supervisão de revisão Polyana Lima
Revisão de texto Karina Hambra e Rachel Reis (terceirizadas)
Projeto gráfico Itaú Cultural
Produção editorial Luciana Araripe
Edição de fotografia André Seiti e Anna Carolina Bueno
Redes sociais Jullyanna Salles e Renato Corch
NÚCLEO DE INOVAÇÃO
Superintendente Administrativo e Financeiro Valéria Breslin
Coordenação de Inovação Fernando Oliveira
Analista de Inovação Tuany Pinheiro
JURÍDICO
Gerência Anna Paula Montini
Coordenação Daniel Lourenço da S. Junior
Equipe Ana Carolina Marossi e Carlos Nascimento Garcia
O Itaú Cultural realizou todos os esforços para encontrar os detentores dos direitos autorais
incidentes sobre as imagens/obras aqui expostas e publicadas, além das pessoas fotografadas. Caso
alguém se reconheça ou identifique algum registro de sua autoria, solicitamos o contato pelo e-mail
atendimento@itaucultural.org.br.
O Itaú Cultural (IC), em 2019, passou a integrar a Fundação Itaú para Educação e Cultura, com o
objetivo de garantir ainda mais perenidade às suas ações e o seu legado no mundo da cultura, ampliando e fortalecendo o seu propósito de inspirar o poder criativo para a transformação das pessoas.