Gal Costa: "Gil sempre foi atirado e eu, também"

Eu não sei qual foi o meu primeiro trabalho com o Gil. Pode ter sido algumas gravações em voz e violão de músicas do Torquato Neto. 

Pode ter sido quando ele voltou de Londres. Ele fez a produção musical do disco Índia, que eu adoro e que é muito bonito. E trabalhamos e fizemos muitas coisas juntos, além de eu gravar músicas dele.

Pelo Gil, embora tenha tido uma ligação musical maior com Caetano, mas com Gil, eu também tinha muito. Quando eu cantei o Divino, Maravilhoso naquela fase toda em que eu estava em um processo de transformação musical ... Até então eu era muito radical na coisa da bossa nova.

Era focada em João Gilberto, especificamente. Com Gil, eu compartilhei muito a audição de músicas de nomes como Jimmy Hendrix, muitas outras canções daquela época, como as dos Beatles. 

Então, a gente tem uma ligação, vamos dizer assim, uma certa cumplicidade. O Gil sempre foi muito atirado, ele tem uma personalidade muito atirada também. Eu acho que isso, eu acho, eu tenho também, e eu partilho disso com ele. Essa coisa de ser atirada, eu também sou.

Minha identificação com o candomblé é muito forte e a vida acabou me levando para esse caminho. Eu não converso sobre isso muito com o Gil, não. Sobre especificamente o candomblé. O Gil não foi muito de participar, ele não teve uma religião específica.  

E, agora, ele tá muito ligado ao Gantois, acho que muito por causa da Flora. Então, nesse aspecto, não tem uma afinidade. Eu tenho uma afinidade, sim, com o Gil, em outros assuntos. 

Já vivemos muitas coisas juntos: vimos discos voadores, fomos a reuniões espiritualistas, ou de ufologia. Por um período da nossa vida, a gente teve muito essa conexão. 

Primeiro, porque a música dele é de qualidade, sem sombra de dúvida. Ele é um compositor maravilhoso. Toda a parte rítmica do trabalho dele também é muito bacana. Eu particularmente gosto muito das coisas rítmicas que ele faz na maioria de suas músicas.  

Eu sou doce mesmo, eu me adapto às situações, e eu tenho uma capacidade de gostar de diversos estilos musicais, diversas coisas. Eu tenho essa coisa que é generosa. Então eu sou fácil de lidar, e Gil também.

No trabalho, ele não é nada difícil de lidar. E a gente se conhece. Ele conhece meu jeito, e eu conheço o dele. Então, é fácil trabalhar com o Gil. Nunca tive nenhum conflito nessa área profissional com o Gil. Ele é ótimo de se trabalhar.