Natureza Morta (1888), de Estevão SilvaPinacoteca de São Paulo
Estevão Silva é considerado o primeiro artista negro a se destacar no quadro de alunos da Academia Imperial de Belas Artes, instituição na qual ingressou em 1884.
Das informações biográficas disponíveis a seu respeito, deduz-se que Estevão Silva seja filho de escravos ou de ex-escravos africanos e que tenha nascido livre ou obtido alforria ainda bastante jovem.
De qualquer modo, relatos de contemporâneos seus descrevem o enfrentamento por ele de uma "situação bastante precária".
A obra de Estevão Silva chama a atenção principalmente por sua habilidade com as naturezas mortas: por pintar “frutos saborosíssimos" e, assim, “desafiar o paladar” do observador, como escreveu, no final da década de 1880, Luiz Gonzaga Duque Estrada, um dos mais importantes críticos de arte em atividade no país naquele momento.
A propósito, esta natureza morta pertencente ao acervo da Pinacoteca é daquele período, mais precisamente de 1888.
Talvez o primeiro aspecto que sobressai dessa composição é a abundância de figuras que preenche a superfície do quadro.
Também por isso, não há ponto central ou privilegiado na estrutura da imagem, uma característica desse tipo de pintura naquela altura...
...em especial com pratarias, frutas abertas...
...animais superexpostos ou arranjos florais.
A despeito também da sugestão de fartura pela quantidade de itens, ave, frutas e tubérculos formam, aqui, uma cena que inspira, antes, simplicidade, dispostos em estado bruto, como se estivessem recém-colhidos...
...ainda presos a galhos e raízes, em reunião aparentemente espontânea, sem uma organização planejada demais, ou que sugerisse algum tipo de esplendor material.
A alternância de áreas claras e escuras confere pulsação à obra. De um lado, a iluminação imprime vivacidade aos componentes e, de outro, as sombras suavizam as formas.
Já a pouca profundidade do espaço pictórico, ou a proximidade entre a parede (o fundo da imagem) e a superfície da pintura, acaba por colocar tudo à disposição – da visão, mas virtualmente também do olfato, do tato e do paladar – de quem encara a tela.