Portinari pintando o painel da ONU (1955)Projeto Portinari
A coruscante trajetória artística de Portinari começa em um humilde povoado perdido nas imensas plantações de café do Estado de São Paulo. Após legar ao país um retrato emocionado e grandioso, em mais de 5 mil obras, do povo, da vida e da alma brasileira, ela vai atingir o seu ápice nos monumentais painéis Guerra e Paz, presente do Brasil à Organização das Nações Unidas.
Portinari no Grupo Escolar (1915)Projeto Portinari
Portinari recebe apenas a instrução primária. Desde criança manifesta sua vocação artística. Começa a pintar aos 9 anos. E – do cafezal às Nações Unidas – ele se torna um dos maiores pintores do seu tempo.
Colegas de Portinari na ENBA (1924)Projeto Portinari
Em 1920, conseguiu matricular-se na Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA). Encontrou ali um ambiente contraditório e tenso, marcado por normas rígidas de academia. Aluno livre, como explica o crítico de arte Quirino Campofiorito, "era gente mais humilde a quem não se perguntava nem se sabia ler ou escrever. Apenas se exigia uma prova desenho para saber se sabia desenhar".
Portinari e sua obra (1926)Projeto Portinari
O ano de 1928 foi decisivo na carreira de Portinari: o pintor participou da XXXV Exposição Geral de Belas Artes e ganhou o Prêmio de Viagem de Estudos à Europa, na época a mais alta distinção concedida a um artista no Brasil.
Portinari partiu para a Europa em 1929, instalando-se em Paris, provisoriamente em Montparnasse, reduto dos artistas da época; logo em seguida mudou-se para o Hôtel du Dragon, próximo ao Boulevard.Saint-Germain, e decidiu não frequentar a Académie Julien, como era praxe entre os premiados da ENBA.
Autorretrato (1930), de Candido PortinariProjeto Portinari
O período em que viveu na Europa foi decisivo para seu percurso artístico. Pintou pouco e passou os dias nos museus, como descreveu a um amigo:
“Comecei a trabalhar, mas somente no meu quarto, porque não consigo encontrar um ateliê nos limites de meus recursos (...). No entanto não estou triste, porque não estou perdendo meu tempo: de manhã vou ao Louvre ver essa gente de perto, e de noite estudo. Não tenho a intenção de pintar, por enquanto. Sinto-me cada vez mais arcaico; frente às exposições que são inauguradas todos os dias e às coisas do Louvre, quem não é tolo e ama mais a Arte do que o sucesso, só pode pender para este último. Aprendo mais olhando um Ticiano, um Rafael, do que visitando todos os ‘Salon d'Automne’...”
CorrespondênciaProjeto Portinari
Portinari sentia-se desterrado e, em uma carta enviada a uma colega da ENBA, conhecida hoje como "Carta do Palaninho" – uma verdadeira declaração de intenções que ele seguiria até seu último sopro –, encontramos descritas as bases de seu projeto artístico: pintar a vida, a alma e o povo brasileiro.
Palaninho (1930), de Candido PortinariProjeto Portinari
"…Palaninho é da minha terra, de Brodowski. …Vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visto tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada… Aí no Brasil eu nunca pensei no Palaninho… Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada… Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor..."
Os Despejados (1934), de Candido PortinariProjeto Portinari
Ao voltar ao Brasil, em 1931, o artista recomeçou a pintar intensamente. O ano de 1934 foi particularmente importante. Portinari pintou Os Despejados, sua primeira obra com temática social.
Mestiço (1934), de Candido PortinariProjeto Portinari
Sua tela Mestiço foi adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, a primeira instituição pública a incluir uma obra de Portinari em seu acervo.
Café (1935), de Candido PortinariProjeto Portinari
A partir dos anos 1930 e até o fim de sua vida, Portinari experimentaria um período de intenso reconhecimento internacional. Em 1935, participou da exposição do Instituto Carnegie, em Pittsburgh, apresentando sua tela Café, e conquistando com ela a Segunda Menção Honrosa da exposição (esse mesmo prêmio havia sido atribuído no ano anterior a Kokoschka, e um ano depois a Salvador Dalí).
Exposição Portinari no MoMA (1940-10)Projeto Portinari
Em 1940, apresentou a exposição individual Portinari of Brazil, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
Candido Portinari at Museum of Modern Art Candido Portinari at Museum of Modern Art (1940-10-13)Projeto Portinari
Exposição Portinari no MoMA (1940-10), de Paul NonesProjeto Portinari
Exposição Portinari no MoMA (1940-10), de Paul NonesProjeto Portinari
Exposição Portinari no MoMA (1940-10), de Paul NonesProjeto Portinari
Exposição Portinari no MoMA (1940-10), de Paul NonesProjeto Portinari
Sra. Eleanor Roosevelt na Exposição Portinari (1944-10)Projeto Portinari
Em 1941, a Universidade de Chicago publicou o álbum Portinari, His Life and Art, a primeira biografia do artista. No mesmo ano, Portinari apresentou uma exposição na Galeria de Arte da Howard University, em Washington (no vernissage, a primeira visitante foi a então Primeira-Dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt).
Correspondência Correspondência (1945-01-25), de Alonzo J. AdenProjeto Portinari
Portinari na Biblioteca do Congresso (1941)Projeto Portinari
Esse intenso trabalho e sua repercussão trouxeram-lhe um convite para pintar os murais da Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, inaugurada em 1942.
Portinari no Partido Comunista (1946-04)Projeto Portinari
A temática social, a visão humanística do seu trabalho e seu compromisso com a vida cultural e política brasileira motivaram-no, em 1945, a filiar-se ao Partido Comunista Brasileiro, ao lado de um grande número de intelectuais e artistas de seu país.
Exposição Portinari na Galeria Charpentier (1946-10)Projeto Portinari
Em 1946, Portinari foi convidado por Germain Bazin, então curador do Museu do Louvre, admirador e amigo do pintor, para realizar uma exposição na Galerie Charpentier.
Portinari, a exposição na Galeria Charpentier Portinari, a exposição na Galeria Charpentier (1946-12)Projeto Portinari
Exposição Portinari na Galeria Charpentier (1946-10)Projeto Portinari
Portinari apresentou 84 trabalhos, entre os quais a Série Retirantes, com obras que denunciavam de forma extremamente comovente e marcante as desigualdades, a pobreza e a injustiça social que atingiam as populações do Nordeste brasileiro expulsas pela seca, em direção ao sul.
Essa exposição teve grande repercussão na França, marcada pelo trauma da Segunda Guerra Mundial e pelo contexto do pós-guerra. A dimensão social e humanística das obras apresentadas emocionou profundamente o público e foi objeto de acaloradas discussões entre os artistas e intelectuais do período, como Louis Aragon, René Huyghe, Germain Bazin, Jean Cassou, Michel Florisoone, Pierre Seghers, Roger Garaudy, entre outros.
Exposição Portinari na Galeria Charpentier (1946-10)Projeto Portinari
O poeta Louis Aragon pronunciou o discurso de abertura da exposição:
“Aqui, Portinari não é considerado um estrangeiro; Portinari é um grande pintor que fala a mesma linguagem que nós, essa linguagem que engrandece franceses, brasileiros, homens; essa grande linguagem que nada pode calar, nem as considerações escolásticas, e que, no entanto, é rica em ensinamentos dos mestres modernos da grande tradição da pintura.”
Chorinho (1942), de Candido PortinariProjeto Portinari
Jean Cassou, então Diretor do Museu de Arte Moderna de Paris, escreveu:
“A exposição de suas obras, apresentadas neste momento em Paris, mostra a diversidade, a liberdade e o poder de sua genialidade. Portinari é certamente o maior pintor da América Latina e um dos maiores pintores contemporâneos...”
Enterro na Rede (1944), de Candido PortinariProjeto Portinari
Germain Bazin declarou:
“… Eis um artista que pinta não apenas pelo prazer de pintar, mas para liberar o impulso lírico e dramático que carrega com ele. Seu trabalho não é uma especulação de ‘ateliê’ para ser objeto de discussões estéticas intermináveis por parte de amadores e de críticos. Da mesma forma como os mestres do passado, Portinari, nos seus andaimes, pinta para os outros em afrescos ou têmpera, grandes conjuntos laicos ou religiosos de seu país ou dos Estados Unidos. Esses conjuntos não são de forma alguma ‘decorativos’, porque nessas obras vivem seres humanos associados não a gestos gratuitos, geradores de arabescos e de harmonias, mas ao drama humano...
...Sozinho e do outro lado do mundo, este pintor brasileiro abraçou espontaneamente esta atitude social, uma inquietude que apenas começou a surgir na França. Todas as forças da expressão confrontam-se em sua obra, como se seu coração guardasse toda a virgindade de um mundo. Ao lado de telas matizadas de doçura, há outras de um pungente expressionismo, cuja violência sem medidas irá talvez surpreender este ambiente parisiense, acostumado a ver respeitados, mesmo nas maiores manifestações de audácia, os cânones elaborados durante mais de trinta anos de especulações plásticas que constituem o ‘bom tom’...”
A Legião de Honra para Portinari A Legião de Honra para Portinari (1946-10-23)Projeto Portinari
Por ocasião dessa exposição, o governo francês concedeu a Portinari a Medalha de Cavalheiro da Legião de Honra, ao que René Huyghe declarou:
“… sinto-me feliz de ver que Paris o tenha posto no lugar que é o seu, entre os grandes pintores do nosso tempo, feliz de ver que o governo tenha ratificado por este gesto a escolha da opinião pública...”
Correspondência Correspondência (1947-04-25), de Antonio ChiavettiProjeto Portinari
Em 1947, partiu para a Argentina, onde apresentou uma exposição na Galeria Peuser, precedida de várias reuniões com artistas e intelectuais argentinos. É neste momento que Portinari profere a sua importante conferência "O Sentido Social da Arte", para artistas e intelectuais argentinos. Essa viagem coincidiu com a exposição Portinari do Brasil, na Pan American Union, em Washington. Essa seria sua última exibição nos Estados Unidos durante 12 anos. Esta ausência da cena americana refletia o conflito entre as posições políticas de Portinari e o "Macartismo" que reinava na América naquele momento. Estava-se em plena Guerra Fria.
Obra profunda y vital es la de Candido Portinari Obra profunda y vital es la de Candido Portinari (1947-07-18)Projeto Portinari
A Primeira Missa no Brasil (1948), de Candido PortinariProjeto Portinari
A repressão aos comunistas no Brasil durante o governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra levou Portinari a exilar-se no Uruguai, em fins de 1947, onde permaneceu até o fim de 1948, tendo nesta ocasião pintado a tela "Primeira Missa no Brasil".
Os comunistas têm delegados demais na Conferência Pró-Paz Os comunistas têm delegados demais na Conferência Pró-Paz (1949-03-23)Projeto Portinari
Em 1949, o artista foi convidado a participar, em Nova York, da Conferência Cultural e Científica pela Paz Mundial, mas a embaixada dos Estados Unidos negou-lhe o visto, em razão de sua vinculação com o Partido Comunista. Impossibilitado de comparecer, ele enviou sua mensagem por telegrama.
“A luta pela paz é uma decisiva e urgente tarefa. É uma campanha de esclarecimento e de alerta que exige determinação e coragem. Devemos organizar a luta pela Paz, ampliar cada vez mais a nossa frente antiguerreira, trazendo para ela todos os homens de boa vontade, sem distinção de crenças ou de raças, para assim unidos, os povos do mundo inteiro, não somente com palavras mas com ações, levar até a vitória final a grande causa da Paz, da Cultura, do Progresso e da Fraternidade entre os povos.”
Tiradentes (1948), de Candido PortinariProjeto Portinari
Em 1950, recebeu a Medalha de Ouro Internacional da Paz pela obra Tiradentes, concedida pelo Conselho Mundial da Paz, presidido por Frédéric Joliot-Curie, Prêmio Nobel da Paz. Recebeu também a Medalha de Ouro outorgada pelo International Fine Arts Council (IFAC) de Nova York, como o melhor pintor do ano.
Um brasileiro construirá a sede da ONU Um brasileiro construirá a sede da ONU (1947-03-05)Projeto Portinari
Em 1952, Portinari foi convidado pelo Governo Brasileiro a pintar os painéis "Guerra e Paz", cujo histórico é apresentada nesta exposição.
CorrespondênciaProjeto Portinari
Árabe e Israelita (1956), de Candido PortinariProjeto Portinari
Em 1956, ele foi o primeiro pintor não judeu a ser convidado pelo Presidente do Estado de Israel, Ben Zvi, para apresentar uma exposição itinerante que resultaria no livro Israel, publicado na Itália.
Lago Tiberíade (1956), de Candido PortinariProjeto Portinari
Roda (1956), de Candido PortinariProjeto Portinari
Menino e Meninas (1956), de Candido PortinariProjeto Portinari
Portinari com o presidente Juscelino (1956-02)Projeto Portinari
Portinari entrega Guerra e Paz. Os painéis, de 14m x 10m cada um, foram realizados a óleo sobre madeira compensada naval, durante nove meses, com a ajuda de Enrico Bianco e Rosalina Leão. Antes de seguirem para a sede da ONU, em Nova York, o Presidente da República, Juscelino Kubitschek, inaugura a exposição dos painéis no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi a primeira e única vez que Portinari viu Guerra e Paz erguidos. Na inauguração da exposição, o Presidente Kubitschek entrega a Portinari a Medalha de Ouro concedida pelo Internacional Fine Arts Council, em 1955.
Portinari do Museu de Arte de São Paulo na exposição de Bruxelas Portinari do Museu de Arte de São Paulo na exposição de Bruxelas (1958-04-02)Projeto Portinari
No ano seguinte, Portinari expôs novamente em Paris, na Maison de la Pensée Française. Em abril de 1958, a Exposição Universal de Bruxelas recebeu a retrospectiva 50 Anos de Arte Moderna. Portinari foi o único pintor da América Latina convidado a participar da exposição. Sua obra Enterro na rede, uma pintura da Série Retirantes, foi escolhida para figurar entre as cem obras-primas do século.
Repercussão internacional da obra de Portinari Repercussão internacional da obra de Portinari (1958-04-20)Projeto Portinari
Terá o México sua Bienal de Arte Terá o México sua Bienal de Arte (1958-02-17)Projeto Portinari
Nesse mesmo ano, Portinari foi o único artista estrangeiro especialmente convidado à Primeira Bienal Interamericana de Pintura e Gravura do Museu de Artes de Plásticas do México. O salão VIP foi reservado a suas obras, e ele fez parte do júri.
O critico Enrique Fernandez G. consagrou um volumoso artigo a Portinari:
"...Neste momento, em 1958, este homem está no México, no Museu Nacional de Artes Plásticas, onde ele ocupa o salão de honra que lhe é oferecido por um país de pintores ... Da ternura à fúria, é Portinari por inteiro..."
Painéis de Portinari na ONU (1957-09-06)Projeto Portinari
Em 1957, são doados à ONU, em cerimônia oficial, os painéis Guerra e Paz. Portinari não é convidado a comparecer à cerimônia, em virtude do seu envolvimento com o Partido Comunista, sendo representado pelo embaixador Cyro de Freitas-Valle.
"… a mais importante obra de arte monumental doada à ONU.", declara Dag Hammarskjold, Secretário-Geral da ONU, 1957
Graham Greene e Portinari Graham Greene e Portinari (1960-06-11)Projeto Portinari
Em 1959, Portinari foi convidado pela Editora Gallimard para ilustrar obras de André Maurois (romances), de Graham Greene (O Poder e a Glória) e de Ferreira de Castro (Floresta Virgem).
Exposição Portinari na Itália (1963-04)Projeto Portinari
Em 1963, um ano após sua morte, foi organizada a primeira exposição póstuma de Portinari, no Palazzo Reale, em Milão, organizada por seu amigo Eugenio Luraghi, poeta, crítico de arte e então presidente mundial da Alfa Romeo e da Pirelli, que escreveu:
“A primeira vez que se encontra esse homem de pequena estatura, e de aparência bastante modesta, se nós olharmos dentro de seus olhos azuis e se ficarmos ouvindo-o falar, de forma simples como uma criança, às crianças que ele ama acima de tudo, dificilmente acreditaríamos que estamos diante do mais terrível e mais trágico pintor do nosso tempo...”
Exposição Portinari na Itália (1963-04)Projeto Portinari
Exposição Portinari na Itália (1963-04)Projeto Portinari
In Palazzo Reale a Milano mostra del pittore brasiliano Portinari In Palazzo Reale a Milano mostra del pittore brasiliano Portinari (1963-04)Projeto Portinari
Direção Geral: João Candido Portinari
Curadoria e Pesquisa: Maria Duarte
Textos: Projeto Portinari
Copyright Projeto Portinari
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