É impressionante como as plantas se adaptaram às mais adversas condições. Mesmo em regiões áridas, semiáridas, rochosas, salinas, com pouca água e com muito calor, existem alguns grupos vegetais bem adaptados. É interessante observar como espécies de famílias botânicas diferentes e em continentes distintos convergiram para formas similares diante de um mesmo desafio de sobrevivência: a falta de água. Ao mesmo tempo, plantas de diferentes partes do mundo demonstram que há muitas soluções biológicas singulares para esse desafio. O Jardim Desértico do Inhotim exibe algumas dessas espécies, distribuídas de forma única e harmônica pelo paisagista Pedro Nehring. O jardim de 2.590m² foi inaugurado em 2014 e possui cerca de 120 espécies e mais de 1.000 indivíduos, principalmente cactáceas, crassuláceas e euforbiáceas. Juntas, essas plantas são um convite à percepção da beleza que há na diversidade de adaptações e à valorização de conhecimentos tradicionais que unem plantas e humanos.
Adaptações
Caules verdes, espinhos, pouca ou nenhuma folha, acúmulo extremo de água e trocas gasosas noturnas são algumas das adaptações que essas campeãs da evolução apresentam. Tais adaptações confirmam as conclusões de Darwin de que a natureza preserva as variações que permitem a sobrevivência em um ambiente.
Euphorbia ingens Euphorbia ingensInstituto Inhotim
Euphorbia ingens (detalhe)Instituto Inhotim
Possuem folhas modificadas em espinhos, acúmula água dentro do caule que é verde e apropriado para fotossíntese. A Euphorbia ingens lembra muito um cacto, não é? Mas trata-se de uma espécie africana da família Euphorbiaceae, a mesma da mandioca. Uma característica comum nessa família é a presença de látex, que é ausente nos cactos. Na história evolutiva, as cactáceas, das Américas, e alguns gêneros das euforbiáceas, da África, apresentam soluções similares para o mesmo desafio: sobreviver com pouca água.
Cereus jamacaru Cereus jamacaruInstituto Inhotim
Cereus jamacaru (detalhe)Instituto Inhotim
Por sua resistência e beleza, o mandacaru é uma forte representação da Caatinga e da vida no sertão. O mandacaru está no imaginário popular brasileiro como “quem floresce com a chegada das chuvas”. Em tupi-guarani, mandacaru pode significar “árvore com espinhos com frutos que se comem” ou “espinhos agrupados danosos”. Os espinhos são folhas modificadas que evitam a perda de água por transpiração e protegem a planta de animais herbívoros, que a procuram para matar a sede com a água do cacto.
Euphorbia tirucalliInstituto Inhotim
A ausência de folhas é uma característica comum em espécies de ambientes áridos. A avelós é tolerante e resistente a condições de seca e alta salinidade. Quando a falta de água é extrema, os galhos são eliminados como uma estratégia de sobrevivência. Como a maioria das euforbiáceas, a avelós possui látex tóxico como uma forma de se proteger de animais herbívoros. Povos tradicionais costumam usar essa planta no tratamento de uma série de enfermidades, como verrugas, tumores, reumatismo e asma.
Kalanchoe laetivirens Kalanchoe laetivirensInstituto Inhotim
Kalanchoe laetivirens (detalhe)Instituto Inhotim
Usos
Cactos podem ser utilizados em expressões religiosas devido à presença de componentes psicoativos. Algumas espécies são importantes na alimentação humana, tanto seus frutos como suas partes vegetativas, por exemplo, caules. Outras plantas, como as agaváceas, podem ser utilizadas para a produção de fibras ou bebidas alcoólicas. Os povos tradicionais sabem como tirar o melhor proveito em um ambiente com poucos recursos e o conhecimento sobre a flora é essencial para a sobrevivência em ambientes aparentemente hostis.
Pereskia grandifoliaInstituto Inhotim
Um dos poucos cactos que possuem folhas comuns, o ora-pro-nobis se distribui vastamente pelo Brasil, do Nordeste ao Rio Grande do Sul. Suas folhas suculentas são ótimas fontes de fibra, proteínas e vitaminas. Em Minas Gerais, a combinação mais tradicional é com frango ou com angu, mas também aparece no feijão, na polenta e no recheio de massas e salgados. O ora-pro-nóbis também é útil para o funcionamento intestinal, o tratamento de erupções cutâneas e o fortalecimento do sistema imunológico.
Nopalea cochenillifera Nopalea cochenilliferaInstituto Inhotim
Nopalea cochenillifera (detalhe)Instituto Inhotim
Nopalea cochenillifera (fruto)Instituto Inhotim
A palma é um cacto nativo do México, muito cultivada no Brasil. É facilmente encontrado em cercas-vivas e jardins pelo seu aspecto ornamental. A palma é cultivada desde a época pré-colombiana pelos astecas, que utilizavam seus frutos na alimentação. Na medicina tradicional, é usada como chá para aliviar dores nos rins e dor de garganta. No Brasil, é conhecida como Planta Alimentícia Não Convencional (PANC). Para ingerir os brotos, eles devem ser descascados e seus espinhos eliminados.
Aloe succotrina Aloe succotrinaInstituto Inhotim
Aloe succotrina é endêmica do Cabo da Boa Esperança na África do Sul, com clima mediterrâneo. Resistente a queimadas recorrentes. Os aloés possuem folhas suculentas adaptadas à vida em regiões áridas. A partir delas, são obtidos dois compostos para produtos medicinais: o látex e o gel. O látex é uma substância amarga retirada da casca, abaixo da epiderme das folhas. É um composto secretado para defesa da própria planta contra predadores. O gel corresponde a polpa gelatinosa transparente.
Aloe succotrina (fauna)Instituto Inhotim
Paisagismo e bem estar
É interessante notar como habitantes da selva urbana estão apreciando cada vez mais o cultivo de plantas suculentas. A difusão dessa prática se explica pela própria beleza dessas plantas, mas também por seu fácil cultivo. Já no paisagismo de maior escala, plantas de climas áridos dão um charme especial ao espaço devido a sua forma arquitetural pronunciada.
Opuntia microdasys (detalhe)Instituto Inhotim
Yucca aloifoliaInstituto Inhotim
As iucas têm sido amplamente utilizadas no paisagismo pela sua forma e arquitetura. Além disso, a baixa demanda hídrica dessa espécie nos permite dizer que ela é uma boa alternativa para os jardins de agora e do futuro, porque trazem bem estar de forma simples e sustentável.
Bryophyllum daigremontanum Bryophyllum daigremontanumInstituto Inhotim
Bryophyllum daigremontanum (detalhe)Instituto Inhotim
Plantas crassuláceas, como a famosa kalanchoe, são facilmente encontradas em floriculturas e feirinhas e muito comuns em pequenos jardins domésticos e apartamentos. A popularidade das crassuláceas só aumenta por serem plantas de fácil cultivo e propagação. Cada vez mais, encantam pessoas de todas as idades com suas folhas sempre brilhantes e carnosas. Porém, muitos ainda não sabem que, além de belas folhas, também possuem florações surpreendentes.
Echinopsis calochloraInstituto Inhotim
A forma e a resistência dos cactos também despertam o bem-estar de quem cuida dessas plantas. Os cactos estão cada vez mais presentes nas casas, devido sua utilização na decoração, contribuindo para um ambiente aconchegante. Mas, não é só por isso que são escolhidos. Eles não exigem quase nenhuma manutenção, podem ser regados ocasionalmente quando ficam dentro de casa. O cacto ouriço-do-mar ainda possui valor para a conservação, pois é uma espécie endêmica de campos rupestres ferruginosos e ameaçada de extinção.
Beaucarnea recurvataInstituto Inhotim
Toque para explorar
INHOTIM
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Antonio Grassi - Diretor Presidente
Felipe Paz - Gerente Executivo
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Andreza Marinho - Gerente de Financeiro
Arthur Castro - Gerente de Jardim Botânico
Cristiano Maciel - Gerente de Operações
Eduardo Silva - Gerente de Compras
Paulo Soares - Gerente Técnico
Raquel Murad - Gerente de RH
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EXPOSIÇÃO NO GOOGLE ARTS AND CULTURE
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Paisagista: Pedro Nehring
Curador Botânico: Juliano Borin
Gerente de Jardim Botânico: Arthur Castro
Coordenadora do Jardim Botânico: Sabrina Carmo
Bióloga do Jardim Botânico: Nayara Mota
Assistente Ambiental: Bárbara Sales
Projeto: Lucas Sigefredo, Juliano Borin, Sabrina
Carmo, Nayara Mota e Bárbara Sales
Fotos: João Marcos Rosa
Textos: Juliano Borin, Nayara Mota, Bárbara Sales e Sabrina Carmo
Projeto digital: Pedro Dillan
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COMUNICAÇÃO INHOTIM
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Pedro Dillan
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