As Irmandades de Misericórdia
A origem das Santas Casas está na fundação da Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia em Lisboa, Portugal, aprovada em 1498 pelo papa Alexandre VI sob tutela da Rainha D. Leonor. Tinha por missão cuidar e sustentar enfermos e necessitados, assim como assistir os expostos.
As diretrizes da Instituição foram baseadas no Compromisso da Misericórdia de Lisboa e, com o tempo, a associação foi assumindo a administração de vários hospitais. A instituição cresceu com ajuda de doações e pelo prestígio que ganhava com o desenvolvimento econômico português.
Santas Casas de São Paulo
As Santas Casas da Misericórdia constituíam-se no principal instrumento de caridade da Monarquia Portuguesa e a sua criação acompanhou o estabelecimento dos primeiros e novos poderes e estruturas governamentais. Com a colonização, este modelo migrou para a colônia brasileira, sendo a primeira datada de 1543 na cidade de Santos.
CAMINHO DE PIRATININGA (1873 - 1927), de Benedito CalixtoMuseu Imperial
Santos
A Santa Casa de Santos foi inaugurada em novembro de 1543 pelo português Brás Cubas. O segundo prédio do hospital foi aberto em 1665 e, em 4 de setembro de 1836, uma nova sede foi inaugurada, porém o local acabou parcialmente destruído por um deslizamento de terra no ano de 1928. A atual sede foi inaugurada em 1945 em evento que contou com a presença do então presidente Getúlio Vargas.
São Paulo
A Irmandade de Misericórdia de São Paulo foi fundada por volta de 1560, sendo a mais antiga instituição assistencial e hospitalar em funcionamento na cidade. Já esteve alojada no Largo da Misericórdia, na Chácara dos Ingleses e na Rua da Glória e, desde 1884, o edifício construído na região central no distrito da Consolação tornou-se a sede da entidade. A trajetória do local está intimamente ligada ao desenvolvimento da capital paulista e passou por inúmeras mudanças em sua estrutura, como quando tornou-se sede da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas em 1963, atual Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Sorocaba
A Irmandade da Misericórdia foi fundada em 1803 e sua sede iniciada no mesmo ano. Após a conclusão e devido à falta de profissionais, a associação foi extinta em 1811, sendo restaurada em 1845. Em 1899, o hospital mudou-se de prédio para um espaço na região da atual Av. São Paulo. Após a crise de febre amarela de 1899 a 1900, Sorocaba recebeu recursos para a construção de novos pavilhões. Um deles, inclusive, tornou-se referência para o tratamento de tuberculose no início do século XX.
Bragança Paulista
A instituição foi fundada pela ação da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, constituída em 31 de agosto de 1874. Em 1900 foi inaugurado o novo edifício que até hoje sedia a instituição, iniciado em 1896. De 1905 a 1974, o hospital contou com a ação das freiras da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada da Conceição. Desde 1988 passou a funcionar com verba pública com a criação do Sistema Único de Saúde.
Tietê
No ano de 1898 foi fundada a Sociedade Beneficente de Tietê, mantenedora da Santa Casa, criada em 21 de junho do mesmo ano. Inicialmente em um prédio alugado, em 1914 foi inaugurada a nova sede do hospital, um imponente edifício em estilo neoclássico na Rua Tenente Gelás. Ao longo dos anos foram adicionados novos setores e alas, como de operações em 1923, de pediatria e maternidade, além de uma ala de apartamentos destinada a doentes pensionistas.
Itapira
A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Itapira foi fundada em 24 de dezembro de 1899 com o intuito de atender aos moradores do local. Em 1908 a primeira parte de sua sede foi entregue e, em 1915, novos pavilhões foram adicionados à sua estrutura original. Uma grande reforma foi realizada em 1961, na qual os antigos prédios foram demolidos com o intuito de aumentar o número de pavilhões.
Assis
A Santa Casa de Assis foi fundada em 7 de dezembro de 1919 e instalada em 8 de dezembro de 1920. Em 1930, constituiu-se como irmandade com o apoio do bispo Dom Antônio José dos Santos e, no ano de 1931, a instituição passou a ser dirigida pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Hoje é um dos complexos hospitalares mais completos da região.
A Santa Casa de Campinas
A década de 1870 foi marcada como uma fase importante do desenvolvimento econômico de Campinas. Isto por conta da expansão da economia cafeeira que gerou investimentos importantes para a melhoria da área urbana e atraiu novos moradores para o município, tanto migrantes como imigrantes.
Theatro e Vista Geral (1890), de UnidentifiedCentro de Memória-Unicamp
Com o crescimento urbano, em meados do século XIX a saúde passou a ser vista como uma das principais preocupações do poder público e da elite de Campinas. Para encontrar uma possível solução, os esforços vieram das esferas pública e privada em busca de tornar o espaço urbano mais seguro e agradável, tendo como responsabilidade os custos, execução e manutenção da limpeza da cidade.
No contexto dos surtos epidêmicos do século XIX, diversas iniciativas foram desenvolvidas, porém, voltadas a grupos mais abastados. Além disso, as pessoas preferiam tratamentos em casa por preconceito em relação aos hospitais, vistos como “casas da morte”. A assistência às populações carentes coube aos hospitais filantrópicos, tendo como destaque a Santa Casa de Misericórdia de Campinas.
A Santa Casa de Misericórdia de Campinas surgiu a partir dos ideais do Cônego Joaquim José Vieira (1836-1917) de fundar um hospital que pudesse amparar grupos de baixa renda, órfãos, indigentes e escravizados da cidade e região. A Irmandade foi fruto das transformações que caracterizavam o período e representou uma iniciativa importante para a saúde pública e para a prática assistencial.
As obras do hospital começaram em 1871 e foram inauguradas e entregues à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia pela Câmara Municipal em 6 de agosto de 1876. O edifício foi doado por Maria Felicíssima de Abreu Soares, viúva do Comendador Joaquim José Soares de Carvalho e uma das principais benfeitoras da instituição, contando também com o apoio da comunidade campineira.
Em 1º de outubro de 1876, a Santa Casa de Campinas foi aberta para o atendimento aos enfermos. O Dr. Cândido Barata Ribeiro (1843-1910) assumiu os serviços médico e cirúrgico, e a assistência religiosa ficou sob responsabilidade do Padre Francisco Quay Thevenon. Além disso, a administração do hospital de caridade foi entregue às irmãs da Congregação de São José de Chambery.
A Santa Casa fornecia assistência médica, cirúrgica e farmacêutica de forma gratuita nas enfermarias gerais para pessoas cuja condição fosse comprovada por atestados oficiais e para escravizados por intermédio de pagamento de seus senhores. No final da década de 1880, o hospital contava com uma seção para inválidos, uma enfermaria de cirurgia para mulheres e uma enfermaria especializada em crianças em situação de orfandade ou miserabilidade, além da construção do asilo para órfãs como um anexo ao hospital.
A Irmandade também oferecia aos parentes a possibilidade de enterrar os corpos dos falecidos no hospital. Já o Asilo de Órfãs passou a funcionar como internato, abrigando meninas órfãs devido à morte de familiares pela doença. Nas epidemias de febre amarela ocorridas nos anos 1890, o hospital continuou sendo referência no atendimento aos doentes.
O Asilo de Órfãs da Santa Casa de Misericórdia de Campinas, no que lhe concerne, tinha por finalidade acolher meninas órfãs de seis a quinze anos em situação de pobreza. Fundado em 15 de agosto de 1878, ainda como externato, o asilo buscou suprir a necessidade de um amparo institucional a estas crianças e criou uma estratégia educativa-social emergencial de formação e abrigo, abrangendo instrução de primeiras letras, trabalhos domésticos e manuais. Sua locação posteriormente foi transferida para a Praça Bento Quirino.
Toque para explorar
A Santa Casa de Campinas marcou a racionalização de recursos através da filantropia e do serviço à sociedade. Ainda hoje tem papel essencial na assistência aos enfermos da cidade e região e grande destaque no efetivo filantrópico. Localizado no bairro Cambuí, o prédio é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) desde 1998.
Direção Geral
André Luiz Paulilo
Direção Associada
Edivaldo Góis Júnior
Coordenação
Ana Cláudia Cermaria Berto
João Paulo Berto
Curadoria
Ana Julia Bacce Kuhl
Júlia Emanuele Barbosa
Mariana Utunomiya Artusi
Mahara Martins Prado de Sousa
Agradecimentos
João Lucas Moura e Souza
Realização
Centro de Memória-Unicamp
Junho de 2021
Você tem interesse em Design?
Receba atualizações com a Culture Weekly personalizada
Tudo pronto!
Sua primeira Culture Weekly vai chegar nesta semana.