Guerra (1952-1956)

Painel a óleo/madeira compensada, 1400 x 1058 cm.

Guerra (1952), de Candido PortinariProjeto Portinari

"Na representação da guerra, como tivesse relativa liberdade de criação, Portinari optou pelo tema intemporal dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Pareceu-lhe uma solução melhor do que pintar a guerra com um caráter realista, figurando os combates do século XX com o arsenal das armas contemporâneas. Tudo foi posto de lado, em favor de uma visão simbólica, diferente do que se vê nos murais dos pintores mexicanos, ou mesmo no Massacre da Coréia, de Picasso."

Antonio Bento

"A guerra seria representada através do sofrimento do povo, e não de soldados em combate. Os próprios cavalos não têm as cores do texto bíblico, no qual o primeiro é branco; o segundo, vermelho (cor de fogo); o terceiro, preto; e o quarto, amarelo ou baio. Essa diferença foi imposta pelas necessidades tonais da pintura, na qual os azuis dominam e até parecem cantar, sustentados pelos tons quentes dos laranjas."

Antonio Bento

"As proporções da obra permitiram um entrosamento mais sólido das cores, formas e massas, distribuídas em grupos de figuras martirizadas, reunidas numa estrutura de contraponto. O papel expressivo conferido aos azuis, profundos e intensos, seria uma das novidades do mural. Como no momento de sua realização eu lhe fizesse essa observação, Portinari disse: 'Sempre gostei enormemente dos azuis, pouco empregados outrora pelos pintores em face de sua raridade'."

Antonio Bento

"A tonalidade escolhida concorreu para que sobressaíssem os horrores da guerra. Os sofrimentos e provações que a luta armada sempre traz aos povos estão estampados nas faces e nos corpos dos homens, mulheres e crianças, em toda a extensão do mural. O pranto, as desgraças e o pavor provenientes do maior dos conflitos humanos mostram-se presentes nas posturas e gestos de numerosas figuras. São semelhantes a outras já pintadas em suas composições, referentes aos temas bíblicos ou às desventuras trazidas pelas calamidades da seca nordestina."

Antonio Bento

"(Portinari) Não identifica guerra alguma, como se afirmasse que em essência todas se equivalem no desencadeamento de horror e animalidade. Nenhuma arma identificável, em Portinari; a cavalgada apocalíptica que corta a cena em todas as direções com seu cortejo de conquista, guerra, fome e morte, não traz as cores bíblicas do fogo e do sangue, nem o preto, o branco ou o amarelo. É o azul que domina. Uma trágica e dorida sinfonia em azul, passando por toda sua escala. Os tons escuros, soturnos, ricos em variadas e profundas nuanças violáceas, desenham as cenas sobre fundo de claros azuis de reflexos verdátreos, tendentes aos leves citrinos."

Israel Pedrosa

"Contrastando com esse universo azulado, valorizando-o cromaticamente, em contraponto tonal, o cavalo manche- tado de carmim, a carnação de rostos, braços e pés saindo das vestes escuras, surgem em vibrantes alaranjados que vão das sombras trevosas violáceas, aos quase vermelhos e rosas de intensa crepitação luminosa. Nesse clima de violentos contrastes, de soturna féerie, o tropel ininterrupto liberta as feras que aterrorizam o mundo."

Israel Pedrosa

"Desses planos geometrizados, que interligam os grupos de figurantes, emerge a luminosidade, esboça-se o claro-escuro, as cenas se sucedem na trama das estruturas."

Clarival do Prado Valladares

"Para quem estuda a obra portinariana, a cada instante há o reencontro com outros quadros, de antes e de depois desses painéis. Em Guerra conta-se seis vezes a figura materna com o filho morto ao colo, naquela imaginária de Piedade, e entre os quase setenta figurantes acham-se as faces dos retirantes nordestinos."

Clarival do Prado Valladares

"'Menino Chorando', tela de 1957-1958, já se acha plasmada na trágica solidão representada em Guerra, através da quebra do pudor daquele menino que cobre o pranto com a camisola."

Clarival do Prado Valladares

"O grupo das hienas, metáfora judicativa através da qual Portinari vê e retrata o homem que faz a guerra, é de tal realidade – de tal realismo excessivo – que essas feras carniceiras, noturnas e covardes, aparecem de garras prontas para o banquete, nas vestes e padrões que a natureza lhes deu."

Clarival do Prado Valladares

Créditos: história

Direção Geral: João Candido Portinari
Curadoria e Pesquisa: Maria Duarte
Copyright Projeto Portinari

Textos:

Antonio Bento
Trechos originalmente publicados em Portinari, Antonio Bento. Rio de Janeiro: Léo Christiano, 1980.

Israel Pedrosa
Trecho do artigo Gênese da História dos Painéis Históricos assinado por Israel Pedrosa originalmente publicado em: PORTINARI, João Candido (org.).
Guerra e Paz – Portinari. Rio de Janeiro: Projeto Portinari, 2007.

Clarival do Prado Valladares
Trecho originalmente publicado em Análise Iconográfica da Pintura Monumental de Portinari nos Estados Unidos, Clarival do Prado Valladares. Apresentação ao Catálogo. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1975.

Créditos: todas as mídias
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