A obra representa um grupo de cinco crianças ocupadas na pesca perto de um riacho inserido em paisagem ensolarada e arejada, de uma serenidade atemporal, como a da própria infância, típica do gênero pastoril. No entanto, o clima festivo é interrompido pelos gritos de dor e de susto de um dos meninos sendo mordido por um caranguejo. A divagação engraçada tem certamente um significado moral lembrando a presença do mal em todos os momentos da vida humana. Numa árvore aparece uma colmeia de abelhas, símbolo da laboriosidade, mas também da necessidade de buscar o prazer sem descuidar de conhecer as suas insídias. A utilização da alegoria na representação da natureza e as referências à tradição da poesia clássica são elementos característicos da cultura romana do século XVII. Com efeito, o desenho de Giovanni Francesco Romanelli conduz o espectador diretamente para o esplendsor da Roma do papa Urbano VIII Barberini, mecenas dos grandes criadores do Barroco como Bernini, Borromini, Andréa Sacchi, Pietro da Cortona. Trata-se de um cartone, um esboço preparatório para uma série de tapeçarias que seria realizada pela manifatura fundada, em 1627, pelo sobrinho do pontífice, o cardeal Francesco Barberini. Romanelli foi eleito príncipe, isto é, presidente da Academia de San Luca, o grêmio dos artistas romanos, em 1638,, sendo considerado já um artista de primeiríssimo plano com menos de trinta anos de idade, sendo também chamado á Paris pelo cardeal Mazarino, todo-poderoso ministro do rei Luís XIV, e influenciando os desdobramentos da arte francesa, sobretudo as grandes decorações de Lebrun para o palácio real de Versailles. Desde suas primeiras obras na capela do Palácio Barberini, o pintor revelou a influência decisiva do seu mestre Pietro da Cortona para traduzir depois essas premissas num estilo mas pacato e numa palheta mais clara, caracteres marcados pelos exemplos de Sacchi e de seus colaboradores Camassei e Germiniani. A obra da Casa Museu Eva Klabin relaciona-se com a série de vinte tapeçarias com jogos de crianças idealizadas por Rafael e tecida em Bruxelas para os aposentos do papa Leão X no Vaticano, hoje perdidas e conhecidas apenas por gravuras. No entanto, a composição é mais simples, o número das figuras sendo limitado a cincp, e suas características deixam perceber o conhecimento das tapeçarias desenhadas por Rubens que marcaram toda a produção deste gênero no século XVII. As fisionomias das crianças derivam de Pietro da Cortona, assim como a luz dourada da paisagem, que lembra a dos afrescos do mestre no Palazzo Pitti, em Florença, mas a equilibrada encenação revela a inspiração das obras de Domenichino e, sobretudo, de Francisco Albani, artista emiliano renomado por esse tipo de representação da infância. Sabe-se que o próprio papa Urbano VIII encomendou a Romanelli desenhos para tapeçarias com este tema antes de 1639, e um dos cartões para essa série é conservado na Villa Lante em Bagnaia, perto de Viterbo, enquanto outra tapeçaria, figurando crianças caçando pássaros, com desenho do pintor, encontra-se no Museo di Palazzo Venezia, em Roma. É possível que formassem um conjunto alusivo aos quatro elementos da física aristotélica: terra, ar, água e fogo, e aos temperamentos humanos.
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