“No Mercado de São Joaquim em Salvador, encontramos uma enormidade de boxes fechados durante a noite por pesadas cortinas metálicas, ou então cobertos por grandes lonas verdes, cinzas e amarelas. Durante o dia, lá são as vendidas ervas para rituais, frutas, ovos de uma branco imaculado, Ogum, Omolú, Oxalá, Iemanjá, Obaluaiê – os deuses do Candomblé - mas também diabos vermelhos, santos de gesso pintados, galinhas para oferendas, objetos de culto, peixes, panelas, tecidos, flores, carne, colares de proteção, música... Rituais e comida se misturam. Cada vendedor e seus fregueses fiéis formam, assim, uma micro-comunidade. A convite da Bienal da Bahia e do projeto Feira de Arte Livre, instalei a cada manhã meu estúdio de filmagem temporário em um dos corredores do mercado que leva aos banheiros. Durante três dias, graças a duas cobertas, este local tão precário me deu um certo tipo de intimidade. O burburinho se espalhou. Eu era a estrangeira que tinha vindo trocar “imagens”. As condições das filmagens eram as seguintes: chegar com um objeto de seu box e posar diante de um tecido com motivos em verde e dourado”.