Gravura em cuja legenda no original da mesma, publicado em 1596, pode ler-se: “Representação fiel da feira de Goa, com as suas lojas, mercadorias e comerciantes quotidianos. Por J. H. v. Linschoten”. Esta legenda é interessante por dois motivos: o primeiro, por remeter para o valor verista atribuído à imagem; o segundo, por ser fiel (não necessariamente à realidade, mas mais à representação dessa) à descrição que o mesmo autor fez do leilão de Goa: “Realiza-se todos os dias um ajuntamento, onde se reúnem tanto cidadãos locais como gente de todas as nações da Índia e regiões em redor, o qual se assemelha ao ajuntamento da bolsa de Antuérpia, embora seja diferente, porque ali se juntam tanto os fidalgos como os mercadores. E ali se vendem todas as mercadorias e produtos indianos, pelo que quase parece uma feira. […] Realiza-se na rua principal da cidade, chamada Rua Direita, e chama-se o leilão, que é uma espécie de venda pública. […]” (Linschoten, 1997, p. 148).
Quando em 1592 Jan Huygen van Linschoten (1563-1611) regressou aos Países Baixos levava já reunidos os dados documentais (escritos, desenhados e cartografados) com os quais iria escrever o seu Itinerário e assim dar resposta à europeia necessidade de tornar as exóticas paragens distantes em algo tangível, visto “tal como era”. A intenção seria a de mostrar a “representação fiel” do mercado de Goa, mas o “retrato” que vemos apresenta-se normalizado, mais adequado à identificação de um olhar neerlandês.
Carla Alferes Pinto in catálogo Presença Portuguesa na Ásia, Museu do Oriente, 2008, p. 28-29