A estatueta foi realizada a partir de modelo do escultor belga Jean de Boulogne, que a partir de 1561 se instalou em Florença e se estabeleceu como artista da corte dos Médici, italianizando seu nome em Giambologna. A maquete foi realizada entre 1565 e 1570, mas a fusão, na opinião dos estudiosos, só se concretizou em 1577, por obra de Domenico Portigiani, um dos maiores colaboradores do artista. A escultura, pensada para ser vista livre no espaço, permite ao espectador perceber como o artista utiliza os traços do rosto e a pose da figura para traduzir a prontidão e a determinação marcial que caracterizam o deus da guerra. Todos os músculos da vigorosa anatomia estão tensos e os olhos fitam o inimigo, mas Marte detém o seu ímpeto e torce com força o corpo e o braço armado para trás, se preparando para o ataque. O seu outro braço se estende e se curva para frente de modo a equilibrar a torção, enquanto a mão se estende numa postura de comando. A pose aberta das pernas reforça a sensação dinâmica, traduzindo a ousadia de um desafio. O repertório dos atos lembra a estilização do movimento humano para alcançar a expressão de um temperamento elevado e sublime, que caracteriza o balé e o melodrama da época: mas ao figurar o seu Marte pronto para o ataque, Giambologna representa também a encarnação do heroísmo viril, ideal de comportamento da aristocracia, o que determinou o sucesso dessa figura nas coleções de muitos príncipes da época. O Marte de Giambologna evidencia a habilidade do escultor na representação do movimento e seu domínio perfeito da anatomia sugerido de forma sutil, mas muito precisa e rebuscada, no nu. A combinação entre o extremado refinamento da técnica e o naturalismo da imagem é ainda mais surpreendente quando consideramos que a estatueta mede pouco mais de quarenta centímetros de altura. Mas essa concentração de desafios técnicos e expressivos está sempre presente na produção de estatuetas de bronze de Giambologna, que deveriam passar pelas mãos de numerosos amadores aristocráticos, visando provocar em primeiro lugar a admiração e o prazer da maravilha em relação às considerações expressivas e estilísticas concebidas pelo artista, já parte, nessa época, da sociedade da corte. Conhecem-se outros exemplares da estatueta, por exemplo, na Frick Collection de Nova Iorque e no Cleveland Art Museum. A peça da Casa Museu Eva Klabin apresenta algum dano no braço direito. As dimensões levemente maiores em relação a outros exemplares conhecidos poderiam sugerir a hipótese de uma fundição mais tardia, talvez do século XVII.
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