CO-5872
Borgerth, Oscar. [Carta, 1930 out.], Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Paris. 2 p. [manuscrito]
[Faltam as páginas iniciais, supondo-se serem duas]
Por aqui as coisas, no momento, andam negras; a revolução irrompeu violenta em vários pontos do país e o governo está seriamente atrapalhado para dominá-la.; o pior de tudo é que todos os reservistas já foram convocados, devendo se apresentar até o dia 15 deste mês e eu, [ilegível], não posso deixar de comparecer, estando arriscado a ter de seguir para a linha de operações; é o cúmulo, um artista ter que pegar em armas, e numa guerra civil!
A situação atual é terrível; não se sabe de nada ao certo, estado de sítio em todo o país, censura absoluta; onde iremos parar?
Esperemos que isto se resolva dentro em pouco. A mim, este estado de coisas, vem causando um prejuízo enorme, pois estava com um concerto marcado para o próximo dia 18, e para o qual, depois de intenso trabalho de preparação, antevia um resultado esplêndido. Agora, sabe Deus se irá tudo por água abaixo! Vicissitudes da vida, contra as quais ninguém pode!
O meu primeiro concerto, dado numa má [ilegível], quando estava no auge o Concurso de Beleza, não deu o resultado financeiro que eu esperava, se bem que o sucesso artístico tenha sido ótimo. Por aí, vês que não ando de muita sorte por aqui.
Estou aborrecidíssimo por não te ter ainda mandado o dinheiro que me emprestaste; no princípio, esperando melhor câmbio, que não chegava nunca, e quando ele começa a melhorar, tendo eu um restinho de dinheiro no Banco, zás! Vem a revolução e todos os Bancos fecham, em conseqüência do Decreto do Governo que estabelece feriado até o dia 21 do corrente; mas como julgo que terás necessidade dele, mandá-lo-ei antes de voltares para cá.
Caro Portinari, vou terminar aqui, fazendo todos os votos pela tua esplêndida saúde e felicidade. Recebe um apertado abraço do teu sempre muito amigo
Borgerth
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