Ao completar 70 anos de existência, o Estádio do Maracanã ressurge do passado nos dias atuais como um símbolo do futebol e dos esportes em geral por ter se fixado na memória dos brasileiros e ter reconhecimento mundial. De fato, o futebol fez do Maracanã um lugar mítico desde suas origens bem como seu formato circular, capaz de acolher grandes públicos tornou-o um lugar de encontro, criando uma relação comunitária e inclusiva com a cidade que o abriga, o Rio de Janeiro.
Assim, concordando com o historiador francês Paul Veyne, narrar a totalidade dos fatos no campo histórico seria uma tarefa das mais árduas, já que um caminho deve ser escolhido, e este não pode passar por todo lugar. Contudo, nenhum desses caminhos é o único ou verdadeiro e nem muito menos reflete na totalidade a história. Por isso, falar sobre o Maracanã é um grande desafio, pois sua história se confunde com o ethos esportivo e social do Rio de Janeiro e do Brasil.
Neste sentido, sendo originariamente uma obra arquitetônica gigante, planejada em 1950 para receber 150 mil assistentes, o estádio e seus anexos transformaram-se em um monumento, e daí progressivamente projetaram-se como um símbolo da sua cidade em semelhança com o Cristo Redentor e com o Pão de Açúcar. Nessas condições, não é surpreendente que os torcedores de futebol e os habitantes do Rio de Janeiro tenham passado a interpretar o Maracanã como sua casa e um lugar de encontro e de amizades. Há então um reforço à mitologia do Maracanã com significados cultural e social além de esportivo, seu sentido fundador antigo de 70 anos.
Esta abrangência de três significados permite incluir o Maracanã entre os espaços monumentais identificados pelos historiadores – sobretudo de origem francesa - pelo nexo de “lugar de memória”. Esta expressão trata de referências que identificam manifestações ocorridas em locais que se tornam típicos e de reconhecimento popular e comunitário.
Portanto, os “lugares de memória” podem ter uma representação original mas assumem com o passar do tempo um significados de maior amplitude. Exemplos desta transformação geralmente citados são a Torre Eiffel (França) e a cidade de Olympia (Grécia). Ou seja, no primeiro caso uma torre de homenagem à tecnologia do século 19 passou a símbolo da cidade de Paris e no segundo, um sítio religioso da Grécia Antiga hoje é um ponto de encontro de todos os esportistas do mundo.
Diante dessas rememorações, cabe homenagear os 70 anos do Estádio do Maracanã dando-lhe enfim os devidos créditos que têm se definido na inclusão tanto no esporte, como na cultura ou na sociedade.
Veyne (1998) que explica que um acontecimento só tem sentido dentro de uma série, o número de séries é indefinido, elas não seguem um padrão geométrico na qual a lógica sirva para esclarecer definitivamente o acontecido. A ideia de história é um limite inacessível, a mesma é subjetiva e reflete a projeção de nossos valores nas respostas às perguntas que decidimos por bem fazer. Descrever a totalidade dos fatos no campo histórico seria uma tarefa das mais difíceis, já que um caminho deve ser escolhido, e o mesmo não pode passar por toda parte. Contudo, nenhum desses caminhos é o único ou verdadeiro e nem muito menos reflete na totalidade a história. A história está no conjunto de informações nos cruzamentos dos itinerários possíveis e principalmente nos objetivos da pesquisa.