“Inspirado por um livro do poeta René Crevel. Sobre uma bandeja recoberta de veludo vermelho estão dispostos uma faca e um garfo, bem como pérolas de madeira recobertas por uma rede presa em aros de um bastidor de bordado”. “A criança... pega uma faca, um garfo, corre para se esconder num canto de seu quarto e baixinho, apenas para ela, logo começa: A faca é o papai. O branco, que serve para cortar, sua camisa; o preto, que se tem nas mãos, sua calça. Se o branco fosse igual ao preto, se poderia dizer que ele está de pijama, mas infelizmente isso não é possível. O garfo é Cynthia. A bela Cynthia, a inglesa. O que serve para espetar as coisas que estão no prato são os cabelos de Cynthia. Ela tem um belo peito, que palpita, pois está ofegante. Papai está muito contente. Ele acaricia Cynthia e ri, porque acredita que ela prendeu dois pequenos pássaros em seu corpete, enquanto lhe faz esta declaração: ‘Cynthia, você sabe que eu amo você. Estou apaixonado por você... Assim, imagino uma viagem. Cada noite, teremos um novo quarto, mas sempre com camas de solteiro, o mais perto possível uma da outra, e falaremos bastante antes de dormir. Acordaremos tarde. Comeremos em vagões-restaurante e, para que ninguém nos reconheça, eu chamarei você de senhorita Garfo. Você, você me chamará de senhor Faca, e passaremos por espanhóis em lua de mel” (René Crevel, Babilônia, 1931).
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