Lee Miller, em carta endereçada a seu irmão Eric, sem data, mas provavelmente de 1929, relata que estava trabalhando na câmara escura com Man Ray, quando se descobriu o procedimento aqui utilizado, a solarização. “Algo roçou minha perna [...]. Eu gritei e acendi a luz bruscamente. Não descobri o que era, talvez fosse um camundongo. Mas percebi que o filme fora exposto. Na tina de revelação, havia uma dúzia de negativos revelados de um nu sobre um fundo negro. Man Ray os pegou, mergulhou-os na tina com hipossulfito e observou o resultado. A parte não exposta do negativo – o fundo negro – havia sido, sob o efeito da luz da lâmpada, modificada até a borda do corpo nu e branco”. Além dessa breve narrativa, bem no espírito de Man Ray, deve-se reter que ele, nas próprias palavras de Lee Miller, fez disso um artifício “que aprendeu a dominar totalmente, a fim de obter o efeito que a cada vez desejava”. A solarização, efeito técnico bem conhecido pelos fotógrafos sob o nome de “efeito Sabatier”, define-se tecnicamente como “a inversão parcial de valores numa fotografia”, acompanhada por um debrum negro que lhe é característico. Pode ser realizada durante a impressão sobre o positivo ou diretamente sobre o negativo. Man Ray a realizava essencialmente sobre o negativo, o que lhe permitia trabalhar posteriormente essa imagem como outra imagem, em especial ao reenquadrá-la. Os críticos não deixaram de aproximar esse efeito ao desenho de Ingres, pois dava à escrita fotográfica uma de suas características: o traço.
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