Esta placa com Cristo morto na cruz, ladeado pela Virgem e S. João, teria servido como painel central de um tríptico, destinado à devoção privada e posteriormente adaptado a placa de encadernação. Embora a prática de fixar placas de marfim em encadernações fosse desconhecida em Bizâncio, muitas destas placas eram enviadas para o Ocidente como presentes diplomáticos e aí desempenhavam novas funções ao serem incorporadas nas encadernações de luxo de preciosos manuscritos.
A tipologia das figuras e a composição da placa é declaradamente bizantina, mostrando, todavia, influências helenísticas e, em menor grau, das culturas asiáticas. O abdómen saliente do Cristo, é, por exemplo, uma herança anatómica dos gregos, enquanto a anatomia do tórax, com peitorais, externo e costelas salientes provém dos assírios. O rosto de Cristo, com barba e cabeleira de longas madeixas que caem sobre os ombros, é herança síria, tal como a presença da lua e do sol nos lados da cruz.
A afinidade desta placa com muitas outras da mesma época, explica-se pela produção em série dos mesmos motivos, feita por artesãos e não por artistas, e destinada a uma clientela abastada mas pouco exigente em termos de originalidade.