“É o trem do diabo”
“A bagagem com que chegaram a São Paulo era feita de esperanças. Uns buscavam emprego, outros procuravam parentes engolidos pela cidade grande, outros sonhavam recuperar a saúde perdida. Todos queriam aquilo que para muitos não passou de desejo: uma vida melhor. E chegou a hora da volta para o interior: um lugarejo qualquer de Minas, uma cidadezinha no sertão da Bahia. Com uma trouxa de roupa e um passe de favor, embarcam nos vagões de madeira vermelha do ‘trem baiano’. Criaturas maltratadas pelo destino, retornam já sem esperanças. A viagem é longa, sofrida.” (reportagem publicada na revista Realidade em maio de 1969, com texto de Patricio Renato)
Entre fevereiro e março de 1969, Claudia embarcou sozinha na longa viagem de trem que ligava a estação Roosevelt (hoje, Brás), em São Paulo, a Salvador, na Bahia. A viagem durava 7 dias, e a maioria dos passageiros era composta de migrantes de outros estados que haviam tentado a sorte em São Paulo. Sem perspectivas na capital, iam parar no Departamento de Imigração e Colonização da Secretaria da Agricultura de São Paulo, que lhes dava um farnel e uma passagem de volta para casa. Claudia encarou a viagem extenuante e registrou os passageiros com uma empatia admirável.