Chuteiras: a evolução do futebol na ponta dos pés

Chuteiras usadas nos anos 1900. (1900), de FIFAMuseu do Futebol

Primeiros passos

O início da prática do futebol foi marcado pela adaptação das vestimentas às necessidades do novo esporte. Entre o final do século XIX e início do XX, tanto homens como mulheres jogavam com botas de couro, calçado de uso comum na rotina social e de trabalho.

As condições climáticas de frio e chuva nas terras britânicas, porém, não colaboravam para o uso das tradicionais botas durante o jogo: o couro encharcava e o solado liso propiciava escorregões.

Par de pretas chuteiras vitorianas usada por mulheres futebolistas. (1890)Museu do Futebol

Botas femininas usadas para jogar futebol no final do século XIX.

Foto original em sépia do time Horrow Footer (1871)Museu do Futebol

Facsimile do livro Minuta da Associação de Futebol da Inglaterra (1863), de Football AssociationMuseu do Futebol

AS REGRAS E O VESTUÁRIO OFICIAL

Desde a primeira reunião oficial da Football Association, em 1863, foram consolidadas regras para organizar e difundir a prática do futebol no país e fora dele.

Nesse documento, ficou acordado o uso obrigatório de calçados e proibiu-se o uso de pregos nas solas, a não ser que estivessem revestidos de couro.

Chuteiras (1930), de FIFAMuseu do Futebol

Novos modelos

Anos depois, na década de 1920, os irmãos alemães Adolf e Rudolf Dassler criaram modelos próximos àquilo que hoje conhecemos como chuteiras. De couro, bico de aço e pregos na sola, o acessório ficou mais leve (de 1 para 0,5 quilos) e com o cano mais curto. O modelo também tinha travas intercambiáveis conforme o tipo do campo.

Propaganda da Casa Sportman (1913), de Fon Fon NewspaperMuseu do Futebol

AS CASAS DE ARTIGOS ESPORTIVOS

O futebol ganhou popularidade no Brasil no início do século XX, e a imprensa brasileira logo passaria a anunciar a venda de acessórios esportivos, como os da Casa Clark e da Sportman no Rio de Janeiro, e da Casa Fuchs em São Paulo.

Propaganda da "Shooteiras" Marcos da Casa Sportman (1915)Museu do Futebol

Virou moda homenagear os craques da época com modelos de chuteiras. Por exemplo, as "shooteiras à Marcos", para o goleiro Marcos Carneiro de Mendonça do Fluminense Football Club. Mário Filho, escritor e jornalista e um dos principais entusiastas do futebol na primeira metade do século XX, registrou o costume em seus textos.

Réplica de Chuteira (1930), de Museu do FutebolMuseu do Futebol

Marcos Carneiro de Mendonça, o primeiro goleiro da Seleção Brasileira (1921)Museu do Futebol

O ESTILO DOS JOGADORES DITANDO A MODA

As chuteiras personalizadas com os nomes do jogadores utilizavam de seus atributos futebolísticos para propagandear as qualidades dos acessórios.

Carta sobre o lançamento das ''shooteiras' Friedenreich (1919), de Pequeno Jornal NewspaperMuseu do Futebol

Seguindo a moda carioca, em 1917, foi lançada a chuteira de um "crack" paulista: Arthur Friedenreich do Club Athletico Paulistano foi o homenageado da vez.

Chuteiras dos jogadores do Flamengo (1945), de Sport Ilustrado NewspaperMuseu do Futebol

Depois do tricampeonato carioca, a revista Sport Ilustrado trouxe em suas páginas as chuteiras dos jogadores do Clube de Regatas do Flamengo de 1945.

Réplica de chuteira (1950), de Museu do FutebolMuseu do Futebol

Pelé comemorando o Tricampeonato na Copa do Mundo de 1970 (1970), de Lemyr Martins/Placar/Dedoc AbrilMuseu do Futebol

As marcas calçam os pés

Durante a Copa do Mundo FIFA de 1970, no México, as empresas Adidas e Puma, duas gigantes no ramo de materiais esportivos, acordaram em não realizar ações de marketing com o jogador brasileiro Pelé, a estrela daquele torneio. A Puma, contudo, não cumpriu o combinado.

Notícia sobre o uso de materiais esportivos da Adidas (1970), de Revista do Esporte MagazineMuseu do Futebol

Ao apostar as suas fichas na popularidade do jogador da Seleção Brasileira, a empresa Puma realizou uma ação de divulgação de suas chuteiras, driblando dessa forma, a alemã Adidas, fornecedora de materiais esportivos da Confederação Brasileira de Desportos, a CBD.

Notícia sobre a assinatura de contrato entre Pelé e a empresa Puma (1970)Museu do Futebol

Primeiro gol na final da Copa de 1970 (1970)Museu do Futebol

Antes da partida entre Brasil e Peru, válida pelas quartas de final do torneio, Pelé pediu ao árbitro para adiar em alguns segundos o início do jogo para que amarrasse suas chuteiras. Dessa forma, o mundo todo assistiu, pela televisão, ao Rei do Futebol amarrando suas chuteiras Puma, naquela que foi a primeira Copa do Mundo transmitida mundialmente ao vivo e a cores pela TV. Estava consolidada a disputa entre marcas esportivas nos campos de futebol.

Chuteira Tiempo Premier (1994), de NikeMuseu do Futebol

Pretinho básico

A Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, em 1994, marcou definitivamente a entrada da empresa americana Nike no ramo do futebol. O Brasil, ao sagrar-se tetracampeão do torneio, transformou-se em alvo de novo patrocínio estratégico, assinando o maior contrato entre uma empresa de material esportivo e uma seleção para o período. Os jogadores brasileiros ajudaram a popularizar um modelo de chuteira que se tornou "um clássico": a preta e branca Tiempo. Em 1994, foi a última final de Copa do Mundo em que todos os jogadores calçaram somente chuteiras pretas.

Chuteira modelo Predator (2008), de Museu do FutebolMuseu do Futebol

A
era das cores

Pouco exploradas até meados dos anos 1990, as chuteiras multicoloridas deram o tom dali em diante. A origem das chuteiras coloridas está associada a um acontecimento de 1970: o meio-campista inglês Alan Ball, representando o Everton Football Club, entrou em campo contra o Chelsea com chuteiras brancas como parte de uma jogada de marketing da empresa Hummel. O gesto de Ball foi imitado em terras brasileiras pelo jogador corintiano Carlos Casagrande, mas sem muita adesão entre torcedores e jogadores.

Visibilidade para o Futebol Feminino (2015-07-13), de Foto Minas Panagiotakis | Getty ImagesMuseu do Futebol

A partir dos anos 2000, ingressamos na era dourada (e também prateada, esverdeada...) das chuteiras coloridas.

Chuteira Hypervenom Phanton (2013), de NikeMuseu do Futebol

Super-chuteiras

 As tecnologias de materiais e produção de chuteiras estão em constante evolução. Os recentes modelos com cano mais alto, por exemplo, oferecem mais estabilidade ao atleta. O processo de inovação é contínuo e conta com a participação dos jogadores para o aperfeiçoamento do acessório. Os testes de amostras e protótipos são realizados tando com garotos que jogam nas ruas e quadras escolares quanto com os craques mundiais. 

Chuteira Messi Adidas (2016), de AdidasMuseu do Futebol

As chuteiras numa era global

No século XXI, a tecnologia e o marketing põem, em escala global, um costume que fora moda no início do século XX no Brasil: personalizar chuteiras com o nome dos craques! Guardadas as devidas proporções dessa história, a ideia permanece: vestir uma chuteira de um grande ídolo é sonhar em jogar, quem sabe um dia, igual a ele!

Créditos: história

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador | Geraldo Alckmin
Secretário de Estado da Cultura | José Luiz Penna
Secretário Adjunto de Estado da Cultura | Romildo Campello
Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico | Regina Ponte

IDBrasil Cultura, Educação e Esporte
Organização Social de Cultura gestora do Museu do Futebol
Conselho de Administração
Presidente – Carlos Antonio Luque
Vice Presidente – Clara de Assunção Azevedo
Diretor Executivo – Luiz Laurent Bloch
Diretora Administrativa e Financeira – Vitória Boldrin
Diretora Técnica do Museu do Futebol – Daniela Alfonsi

Exposição virtual “Chuteiras - a evolução do futebol na ponta dos pés”


Curadoria, pesquisa e textos – Aira Bonfim e Fernando Breda
Apoio à seleção de imagens – Camila Aderaldo e Julia Terin
Edição de imagens – Rafael Lumazini
Edição final – Daniela Alfonsi

Realização do Núcleo do Centro de Referência do Futebol Brasileiro – CRFB – do Museu do Futebol
Coordenação – Camila Chagas Aderaldo
Pesquisadora – Aira Bonfim
Assistente de Pesquisa – Fernando Breda
Bibliotecário – Ademir Takara
Assistentes de Documentação – Julia Terin e Dóris Régis
Estagiária – Ligia Dona

Créditos: todas as mídias
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