A Longa Viagem de Baco

Mosaico das Musas. Mosaico das Musas. Painel X (Triunfo de Baco) (Século IV d.C.)Museu Nacional de Arqueologia

São conhecidas múltiplas representações de Baco, desde a ocupação romana do território atualmente português, destacando-se o célebre «Mosaico das Musas», proveniente da villa romana de Torre de Palma, Monforte, onde se representa «o Triunfo Indiano de Baco».

O Triunfo Indiano de Baco

Na Mitologia é conhecida essa grande viagem percorrida por Baco no Oriente, até à Índia.
De regresso, vitorioso, faz-se acompanhar por um séquito, onde participam Sileno; Bacantes; Ninfas; Sátiros e mesmo o deus Pã.

Baco, o homólogo do deus grego Dioniso, foi uma das divindades que mais expressão teve na Lusitânia romana.

Coche do Infante D. FranciscoMuseu Nacional dos Coches

A Lusitânia e os Lusos

Em Camões, o grande poeta humanista do século XVI, nos Lusíadas, Baco é o deus contrário à viagem dos portugueses, encarregado de semear obstáculos no seu caminho. No entanto, os filhos ou companheiros de Baco são dados como os progenitores da Lusitânia, equivalendo ao atual Portugal.

Camões (estudo para Camões e as Tágides) (1893/1894) de Columbano Bordalo PinheiroCasa-Museu Anastácio Gonçalves

"Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros».

(Camões, Os Lusíadas, Canto III)

Coche do Infante D. FranciscoMuseu Nacional dos Coches

A Mitologia e os Coches

Os temas mitológicos e báquicos e suas alegorias serão uma constante em elementos decorativos, quer nos palácios, monumentos, e jardins portugueses, bem como nos coches e berlindas, ricamente ornadas com pinturas e esculturas nos seus painéis e alçados. Um tema recorrente nos Coches são as Quatro Estações do Ano, cada uma delas com a sua simbologia característica, sendo o Outono a personificação de Baco ou dos seus atributos. Sileno, o tutor de Baco, é também uma presença constante.

Coches da Embaixada Coches da EmbaixadaMuseu Nacional dos Coches

Baco e Sileno

Sileno, o tutor de Baco, é também uma presença constante nos motivos decorativos, quer apresentando-se no séquito de Baco, quer individualmente.

Normalmente é reconhecido por ser mais velho do que os sátiros, sendo também identificado por ter os atributos de um cavalo em vez de uma cabra como os sátiros

Coche das InfantasMuseu Nacional dos Coches

Baco e Vénus

O Coche das Infantas trata-se de uma viatura de aparato, datada de meados do século XVIII, utilizada pelas quatro infantas filhas de D. José I: D. Maria Francisca, futura rainha D. Maria I, D. Maria Ana Francisca Josefa, D. Maria Francisca Doroteia e D. Maria Francisca Benedita. Ricamente decorado com motivos rocaille, nele estão representadas muitas figuras mitológicas como Vénus. Segundo a epopeia de Camões, Vénus será uma das divindades que apoia os portugueses no caminho marítimo para a Índia.

Coche das InfantasMuseu Nacional dos Coches

Vénus e o Coche das Infantas

Vénus, a deusa da beleza e do amor, é a homóloga romana da divindade grega Afrodite, aceitando-se que nasceu da espuma das águas.

É natural, portanto, que ela tome partido pelos portugueses na epopeia de Camões. A sua representação é muito comum no território atualmente português, desde épocas remotas. No poema Os Lusíadas,simboliza não apenas a divindade pagã, mas a protetora em toda a viagem marítima dos portugueses.

No Coche das Infantas surge-nos acompanhada dos seus filhos Erotes ou Cupidos.

Triumph of the Marine Venus (about 1713) de Sebastiano RicciThe J. Paul Getty Museum

A Bela Vénus

"Sustentava contra ele Vénus bela,
afeiçoada à gente Lusitana
por quantas qualidades via nela
da antiga, tão amada, sua Romana;
nos fortes corações, na grande estrela
que mostraram na terra Tingitana,
e na língua, na qual quando imagina,
com pouca corrupção crê que é a Latina".

Os Lusíadas, Canto I, O Consílio dos Deuses

Bacchus and Ariadne (1520-3) de TitianThe National Gallery, London

Baco e Ariadne

Ariadne, filha de Minos, rei da ilha de Creta, era uma jovem de uma beleza exuberante, mas sem qualquer pretendente.

Ficou conhecida na mitologia por ter ajudado Teseu a matar o minotauro com um novelo de lã, que permitiu ao herói regressar do labirinto.

Teseu comprometeu a desposá-la, após a sua fuga da ilha de Creta, no entanto não cumpriu.

Durante a fuga, pararam na ilha de Naxos, onde se entregou a Teseu que, aproveitando o seu sono, fugiu.

Desolada, andou por toda ilha, à procura de um lugar onde se pudesse matar. À noitinha, já cansada, adormeceu. Em sonho, a deusa Afrodite apareceu, e anunciou-lhe que tinha reservado para ela algo de mais fantástico. De facto, o deus Baco apareceu na ilha, e Ariadne acordou com ele ao seu lado.

Coche das Infantas, Da coleção de: Museu Nacional dos Coches
Mostrar menosLer mais

Sátiros ou Faunos no Coche das InfantasNo mesmo painel onde está representado Baco e Ariadne, podemos identificar os Sátiros ou Faunos, essas entidades da Natureza que acompanham Baco.

Coche das InfantasMuseu Nacional dos Coches

Os Sátiros ou os Faunos em Camões

Também no Coche das Infantas, no painel de Baco e Ariadne, se identificam Sátiros ou Faunos, entidades da Natureza que acompanham Baco. "Vós, semicapros deoses do alto monte, Faunos longevos, Satyros, Sylvanos; E vós, deosas do bosque e clara fonte, e dos troncos que vivem largos anos; Se tendes prompta um pouco a sacra fronte A nossos versos rusticos e humanos, Ou me dai ja a capella de loureiro, Ou penda a minha lyra d'um pinheiro".

(Obras Completas de Luis de Camões, Tomo II, 1843).

http://www.gutenberg.org/files/31509/31509-h/31509-h.htm

Pormenor decorativo do Coche de D. João V (Século XX, 1º quartel) de Faria, EduardoMuseu Nacional dos Coches

«Façam pois, esta nova Viagem, pela mão de Baco, entre Camões e os Coches!»

Créditos: história

CRÉDITOS

Coordenação: Silvana Bessone
Conceção: Teresa Abreu
Conteúdos: Filomena Barata; Rosinda Palma; Teresa Abreu
Fotografias: DGPC-DDF-MNCoches (Pedro Beltrão; Nuno Augusto)
Tradução: Luis Ramos Pinto
Apoio Informático: Luís Ramos Pinto

Bibliografia Sumária:
BESSONE, Silvana, «De passeio com deuses e heróis» in Actas do Colóquio Internacional, Mytos»
BOTTO, J. M. Pereira, «Prontuário Analítico dos Carros Nobres da Casa Real Portuguesa e das Carruagens de Gala», Imprensa Nacional, tomo I, Lisboa, 1909
PEREIRA, João Castel-Branco, «Tronos Rolantes da Monarquia Portuguesa», in Oceanos, nº 3, Lisboa, 1990.

Créditos: todos os meios
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes, podendo nem sempre refletir as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
Explore mais
Página Inicial
Descobrir
Reproduzir
Próximo
Favoritos