D. Pedro d’Alcântara de Bragança (1798-1834), segundo filho varão de D. João VI e da infanta espanhola Carlota Joaquina de Bourbon, foi o grande protagonista de um dos períodos mais decisivos da história luso-brasileira. Em tempo de tensões e transformações em Portugal e no Brasil, as suas ações traçaram o destino do conflito entre absolutistas e liberais, desencadeando o fim do Antigo Regime em ambos os lados do Atlântico.
A prematura morte do seu irmão mais velho, D. António Pio, coloca-o na linha da frente para a sucessão do trono português, cujos direitos dinásticos iria reivindicar, anos depois, para a sua primogénita, contra o seu irmão D. Miguel, conseguindo manter uma atitude política coerente, mesmo quando confrontado com contradições, responsabilidades e afetos.
A sua apaixonante biografia começa e termina no Palácio Real de Queluz, no aposento de aparato cujos espelhos, ornamentos e pinturas – alusivas às aventuras do engenhoso fidalgo Don Quixote de La Mancha – presenciaram o seu nascimento e onde, quase trinta e seis anos depois, viveu os últimos momentos, rodeado de familiares e companheiros de batalha.
Poucos líderes da história oitocentista tiveram uma existência tão breve, intensa e gloriosa como a sua. Príncipe, Imperador, Rei e Soldado, antepôs os seus ideais a interesses pessoais – qual herói libertador e romântico –, agindo de forma comprometida em defesa de causas que considerou justas e necessárias. Paladino de duas “revoluções” e líder de duas monarquias constitucionais, no velho e no novo continente, abdicou dos seus direitos a duas Coroas a favor de uma liberdade que “assinou com a pluma e defendeu com a espada”.
O célebre Quarto D. Quixote em meados do século XIX.
Através de cerca de 50 peças, selecionadas pela sua qualidade e singularidade iconográfica, evocam-se as múltiplas facetas de um monarca dividido entre dois mundos, criando narrativas a partir das coleções do Palácio de Queluz.
14 obras convidadas, procedentes de prestigiosas instituições museológicas, complementam este passeio virtual e cronológico pela vida e época de D. Pedro IV de Portugal, Primeiro Imperador do Brasil.
Esta exposição de arte, produzida em ambiente virtual, oferece novas leituras das coleções, estabelece novos diálogos entre as peças expostas e recupera obras desconhecidas ou de difícil acesso para o grande público. Também o Quarto D. Quixote, onde nasceu e morreu D. Pedro, é recordado com uma aguarela de 1850 (Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum) e uma rara fotografia antiga (Arquivo Municipal de Lisboa), extraordinários documentos iconográficos anteriores ao incêndio de 4 de outubro de 1934 que afetou parte do Palácio.
Uma das fachadas do Quarto D. Quixote em 1844.
A fachada na atualidade.
"Paço Real de Queluz
Quarto D. Quixote
12 de outubro de 1798
Nasce às 6h30 da manhã"
Estudo do infante D. Pedro, bebé, para retrato coletivo da Família Real (c. 1798-1799).
"INFÂNCIA NO PALÁCIO DE QUELUZ
1798-1807"
“A Princesa N. S. tendo completado o termo da gravidez, deu felizmente à luz a 12 deste mês pelas 6 horas e meia da manhã um formoso infante.”
Gazeta de Lisboa, 16 de outubro de 1798.
“(...) as cenas que deparam os primeiros olhares esfumados e perdidos de D. Pedro criança foram... trechos da História do Cavaleiro da Triste Figura.”
Octávio Tarquínio de Sousa, “A Vida de D. Pedro I”, 1952.
Capela Real do Palácio de Queluz.
“A 19 do corrente de tarde na Capela do Real Palacio de Queluz administrou o Eminentíssimo Cardeal Patriarca o Sagrado Batismo ao Sr. Infante recém-nascido a quem se puseram os nomes de Pedro d’Alcântara, Francisco, António, João, Carlos, Xavier, de Paula, Miguel, Rafael, Joaquim, José, Gonzaga, Pascoal, Cypriano, Serafino.”
Gazeta de Lisboa, 23 de outubro de 1798.
Retrato póstumo do Príncipe D. António Pio, irmão mais velho de D. Pedro.
"DE INFANTE
A
PRÍNCIPE DA BEIRA
1801"
Retrato do Príncipe D. Pedro com cerca de 6 anos, pintado pela tia-avó, a princesa Maria Francisca Benedita (1804).
D. Maria Francisca Benedita de Bragança, conhecida popularmente como a Princesa Viúva.
“(…) Era um desordenado e rijo menino (…) Corado, com o sangue a rebentar nas faces boleadas, muito crescido para a idade, o farto cabelo ruivo encaracolando sobre a testa, levemente deprimida nas fontes, os lábios grossos do pai, os olhos vivos da mãe (…)”
Pedro Calmon,
“O Rei Cavalleiro”, 1933.
O Príncipe Regente D. João, pai de D. Pedro.
O Príncipe D. Pedro, com aproximadamente 9 anos.
"A FAMÍLIA REAL
E A CORTE
MUDAM-SE PARA O BRASIL
1807"
A Família Real embarca no Porto de Belém para o Rio de Janeiro, antes da iminente chegada das tropas napoleónicas.
“(...) e se forçado (...) de ceder por algum momento as suas possessões europeias aos inimigos (...) dos Governos, que deve ir fundar no Brasil um Império muito superior em grandeza e força a todos os que hoje existem na Europa.”
Rodrigo de Souza Coutinho, Ministro da Marinha e Domínios Ultramarinos, exorta o Príncipe Regente, D. João, para que preparasse a defesa de Portugal contra a pressão francesa.
9 de novembro de 1798.
“Tenho procurado por todos os meios possíveis conservar a Neutralidade, (…) e apesar (...) de todos os Sacrifícios a que me tenho sujeitado, (...) Tenho resolvido, em benefício dos meus vassalos, passar (...) para os Estados da América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até a Paz Geral.”
Decreto de D. João, Príncipe Regente, redigido no Palácio da Ajuda a 26 de novembro de 1807.
Em 1811-1812, um adolescente Príncipe D. Pedro é retratado no Rio de Janeiro, a nova sede do Império Ultramarino português.
A avó de D. Pedro, a rainha D. Maria I, morre no Brasil aos 81 anos.
1815
Brasil, antiga colónia de Portugal, é elevada à categoria de Reino e a sua capital, Rio de Janeiro, a sede do governo e Corte. É assim criado o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
1816
Após a morte de D. Maria I, o Príncipe Regente sobe ao trono como João VI, Rei de Portugal, Brasil e Algarves.
Durante o governo de D. João a cidade do Rio de Janeiro converte-se no grande centro cultural do Brasil. Assiste-se ao incentivo da música, letras, ciências e belas-artes e são fundadas as infraestruturas necessárias para o seu desenvolvimento. No caso concreto da academia de artes, projeto iniciado em 1816, a inauguração oficial dá-se dez anos depois com D. Pedro, sob o nome de Academia Imperial de Belas-Artes, criada por Decreto de 20 de novembro de 1820.
D. João VI em traje majestático (1817), por Debret e Pradier. Nesta imagem oficial enverga o manto com que seria aclamado rei em 1818.
A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA - 26 de março de 1816
D. Pedro ainda não tinha completado os 18 anos quando um grupo de franceses chega à Corte do Rio de Janeiro, incluindo pintores, escultores, gravadores, arquitetos, artesãos e especialistas de várias áreas. Sob a proteção de D. João VI, os artistas desta colónia definiram as bases de um sistema formal de ensino e prática artística na capital do Reino. Importantes figuras como o arquiteto Grandjean de Montigny, o escultor Auguste-Marie Taunay, o gravador Charles-Simon Pradier e os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay contribuíram ativamente para a renovação cultural do Brasil e para a fundação da sua primeira academia de arte, dirigida por Joachim Le Breton. Entre as funções desenvolvidas pelos membros da Missão encontrava-se a elaboração de cenários e ornamentos para as festas e eventos da Corte, a construção de edifícios públicos, a definição de imagens oficiais através de retratos régios e a execução de pinturas de afirmação política.
A morte de Le Breton em 1819 e a nomeação do pintor português Henrique José da Silva, em 1820, como novo diretor da Academia Real, provoca o regresso a França de alguns membros destacados da Missão Artística. É o caso de Nicolas Taunay (1821) e Debret (1831).
A Infanta D. Maria Isabel, irmã de D. Pedro e futura rainha de Espanha, é retratada em 1816 por N. Taunay.
D. João VI (1820), por H. J. da Silva.
A rainha D. Carlota Joaquina (1820), por H. J. da Silva.
"DE PRÍNCIPE DA BEIRA
A
PRÍNCIPE REAL
1817"
PRIMEIRO CASAMENTO
6 de novembro de 1817
D. Leopoldina, Arquiduquesa de Áustria (1797-1826)
► Unem-se de novo as Casas de Bragança e de Habsburgo
Pistolas oferecidas a D. Pedro.
“O Mundo acaba de ver aquilo que nunca vira:
uma Arquiduquesa de Áustria atravessando os mares para ir ao Brasil tentar o primeiro trono que alguma vez a América ofereceu a uma Princesa vinda da Europa:
a filha dos modernos Césares, transplantada para climas dos quais os primeiros Césares jamais suspeitaram a existência.”
De Pradt,
“Les Six derniers mois de l'Amérique et du Brésil”, 1817.
A Princesa Real, a arquiduquesa D. Leopoldina.
D. Pedro, a partir da pintura de Debret.
"D. PEDRO
PRÍNCIPE REGENTE DO BRASIL
1821"
“Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás-de respeitar (...)”
D. João VI a D. Pedro, antes de embarcar para Lisboa.
24 de abril de 1821.
“(...) SUA MAJESTADE confia o Governo do Reino do Brasil a S.A.R. o Príncipe Real, Mostrando (...) o Alto Conceito, que merecem as Singulares Virtudes deste Digno Herdeiro, mas também o Paternal Desvelo, que todos devemos a Tão Providente Soberano.”
Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro,
26 de abril de 1821.
Retrato de D. João VI (1821), pintado no Rio de Janeiro pouco antes de regressar a Portugal para jurar a Constituição.
"DE ALTEZA REAL
A
IMPERADOR
1822"
“Dignos representantes da nação brasileira. É hoje o dia maior, que o Brasil tem tido; dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao mundo, que é império, e império livre.”
D. Pedro I, Imperador Constitucional do Brasil,
Diário da Assembleia do Império do Brasil, Sessão de 3 de maio de 1823.
“Pelo Brasil dar a vida,
Manter a Constituição,
Sustentar a Independência;
É a nossa obrigação.”
S.M. O Imperador D. Pedro I,
Diário Fluminense, 14 de julho de 1824.
D. Pedro I com as vestes, adereços e insígnias com que apareceu no ato solene da sua aclamação como Imperador do Brasil.
"DEFENSOR DA CARTA CONSTITUCIONAL
Brasil - outorgada a 25 de março de 1824
Portugal - outorgada a 29 de abril de 1826"
“(..) é mais fácil arrancar-se uma estrela do firmamento
do que o espírito Constitucional
uma vez plantado no coração do homem.”
De Pradt, Diário da Assembleia Geral, Constituinte, e Legislativa do Império do Brasil, sessão de 15 de julho de 1824.
"IMPERADOR DO BRASIL
E
REI DE PORTUGAL
1826"
SEGUNDO CASAMENTO
17 de outubro de 1829
D. Amélia Beauharnais, Princesa de Leuchtenberg (1812-1873)
► A Casa de Bragança une-se à Casa de Leuchtenberg
D. Pedro I sucede a seu pai como rei de Portugal com o nome de D. Pedro IV. A infanta Isabel Maria, sua irmã, assegura a regência de Portugal durante a ausência do novo monarca.
A infanta D. Isabel Maria foi regente até à chegada de D. Miguel, seu irmão, em 1828.
Retrato de D. Miguel, pintado em 1827 durante o seu exílio na Corte de Viena.
Alegoria da chegada de D. Miguel a Portugal, em 1828.
"ABDICAÇÕES E REGRESSO A PORTUGAL
1826 - Maria da Glória aos 7 anos, D. Maria II de Portugal
1831 - Pedro d'Alcântara aos 5 anos, D. Pedro II do Brasil"
“D. Pedro por Graça de Deus, Rei de Portugal, (...) Faço saber a todos os Meus Súbditos Portugueses, que sendo incompatível com os interesses do Império do Brasil, e os do Reino de Portugal, que Eu continue a ser Rei de Portugal, (...) Hei-de por bem (...), Abdicar, e Ceder de todos os indisputáveis, (...) Direitos, que Tenho à Coroa da Monarquia Portuguesa, (...) na Pessoa da Minha sobre todas muito amada, prezada, e querida Filha, a Princesa (...) D. Maria Glória”
D. Pedro, no ato de abdicação da coroa portuguesa, Palácio do Rio de Janeiro, 2 de maio de 1826.
Texto publicado na Gazeta de Lisboa, 12 de julho de 1826.
Retrato de D. Maria II, menina, realizado por ocasião da sua estadia em Londres entre 1828 e 1829.
Pedro II.
“Não querem mais saber de mim porque sou português. (...)
Meu filho tem sobre mim a vantagem de ser brasileiro. (...)
Descerei do trono com a glória de terminar como comecei, constitucionalmente.”
D. Pedro, no dia da abdicação da coroa imperial, Palácio da Quinta de Boa Vista, 7 de abril de 1831.
"Requisitos da abdicação da Coroa portuguesa:
► que a Carta Constitucional fosse jurada pelo reino e por D. Miguel;
► que D. Miguel efetivasse o enlace com D. Maria da Glória."
"“(...) e esta Minha Abdicação e Cessão não se verificará, se faltar qualquer destas duas Condições.”
D. Pedro,
Ato de Abdicação, 2 de maio de 1826."
"D. MIGUEL
1827
1828
DE LUGAR-TENENTE A REI ABSOLUTO"
D. Miguel I retratado após a sua aclamação como Rei de Portugal, com os atributos e insígnias de um soberano: a Coroa e o Tosão de Ouro.
Gravura satírica.
D. Carlota Joaquina chega a presenciar a aclamação do seu filho predileto, D. Miguel, como Rei absoluto de Portugal. Morre em 1830, sem testemunhar a sua derrota e exílio em 1834.
"D. PEDRO, DUQUE DE BRAGANÇA
REI SOLDADO
1831-1834"
“Minha Senhora, aqui está um General português que vai defender os seus direitos e restituir-lhe a Coroa”
D. Pedro a D. Maria II,
Paris, 25 de janeiro de 1832.
Litografia satírica de Daumier.
D. Pedro, Duque de Bragança, por John Simpson.
Duchess of Bragança.
"“(...) no século em que vivemos e em que os Povos (...) já não engolem patranhas, é mister que seus Reis mereçam pelas suas boas qualidades o respeito dos seus súbditos e não pelo seu nascimento, que de nada vale perante o mundo livre...”
D. Pedro a D. Maria II, em carta escrita no Porto a 18 de julho de 1832."
"REGRESSO AO PALÁCIO DE QUELUZ
1834 - Os dias finais"
“Já que não lhe seria possível morrer na terra do coração, na pátria adotiva, quereria acabar onde começara: Queluz (...). E para lá seguiu a 10 [de setembro]. A esperar a morte.”
Octávio Tarquínio de Sousa, “A Vida de D. Pedro I”, 1952.
Representação dos últimos momentos de D. Pedro, por N. Maurin (1836).
“No dia 15 de setembro ditou-me o Senhor D. Pedro o seu testamento com a maior tranquilidade de espírito.”
“No dia 16 resolve e assina num, para ele último, Conselho de Ministros, as disposições reclamadas por negócios urgentes.”
“No dia 17 mune-se devota e exemplarmente dos sacramentos com que a Igreja Católica (…) prepara os seus filhos para entrarem no grande combate.”
“No dia 18 (…) [é] informado da deliberação que tomaram as cortes, de haverem a rainha por maior, chama esta soberana, chama a amada consorte, (…) dá à primeira os mais saudáveis conselhos, recomendando (…) à sua clemência os indivíduos condenados por crimes ou delitos contra ele cometidos, e roga à segunda que faça que o berço da monarquia portuguesa [a cidade do Porto] seja o túmulo do coração dele.”
“No dia 19 sentiu (…) alguns poucos e passageiros alívios (…)”
“No dia 20 despediu-se ele dos seus ajudantes de campo e de todas as pessoas que o serviam (…) A rainha (…) pelas quatro horas e meia da tarde (…) foi (…) levar a seu augusto pai as insígnias (…) de grã-cruz da ordem da Torre e Espada, (…) destinada a premiar os serviços prestados à Rainha e à Constituição do Estado (…)”
“[No dia 24] cheio de paz e de glória, lança, pelas duas horas e meia da tarde (…), a sua alma no seio da Divindade.”
Marquês de Resende, “Elogio historico do Senhor Rei D. Pedro IV, recitado na Academia Real das Sciencias de Lisboa, em sessão ordinaria de 13 de Julho de 1836”, 1867.
"Palácio Real de Queluz
Quarto D. Quixote
24 de setembro de 1834
Morre às 14h30 da tarde"
Gravura baseada num desenho do natural que retrata D. Pedro já morto.
“Senhores. Um Príncipe, ainda na flor da idade e já no auge da glória morreu! Dois mundos tomaram luto por ele.”
Marquês de Resende,
“Elogio historico do Senhor Rei D. Pedro IV, recitado na Academia Real das Sciencias de Lisboa, em sessão ordinaria de 13 de Julho de 1836”.
“É coisa singular que o aposento em que faleceu D. Pedro se denomine Sala de D. Quixote, e é ornado exclusivamente com cenas tiradas das aventuras do cavaleiro da triste figura.
(...) Ainda que depois da morte de D. Pedro, Queluz se ache desabitado, achei tudo, tanto o palácio como os jardins, numa ordem aprazível e muito bem conservados.”
Príncipe Lichnowsky,
"Portugal. Recordações do anno de 1842", 1844.
"A princesa Maria Amélia, única filha de D. Pedro e de D. Amélia de Beauharnais, visitou Queluz anos depois. Numa melancólica carta, escrita a 27 de agosto de 1851, descreve a emotiva experiência:
“Não conseguia lembrar-me de nada (...), com exceção do quarto onde morreu o meu pai!... Lá lembrei-me de tudo. Cada objeto foi gravado na minha memória, mesmo tendo, naquela ocasião, três anos de idade! Foi com grande emoção que entrei naquele quarto!... A cama (...) ainda é a mesma, no mesmo local, com as mesmas cortinas, as mesmas colchas, os mesmos travesseiros... tudo tão bem preservado...”"
Vista do Quarto no início do século XX. Fotografia anterior a 1934. A cama com dossel é a mesma da aguarela de 1850, na qual a princesa Maria Amélia escreveu em francês: "Chambre où mourut mon père, dans le Palais de Queluz" [Quarto onde morreu o meu pai, no Palácio de Queluz].
“O varão extraordinário, que foi vida da sua pátria, que viverá na memória do seu século, e será a admiração de todos os tempos, rendido ao peso das suas gloriosas fadigas, idolatrado pelas suas altas virtudes, expirou imperturbável no meio de padecimentos, que foram a agonia da nação inteira.
No sempre infausto dia 24 de setembro de 1834 morreu o augusto Duque de Bragança o Sr. D. Pedro de Alcântara, Rei de Portugal, Imperador do Brasil, restaurador da liberdade da sua pátria e do usurpado trono da sua augusta Filha, em cujo nome desempenhou a regência do reino.
(...) que Monarca teve jamais pompa funeral que expressasse tanta dor? (...) Soldados, oficiais e cidadãos de todas as condições derramavam lágrimas, e olhavam o féretro com aquele respeito religioso que inspira um templo arruinado que fora mansão de uma divindade.
(...) Nunca viu Portugal dia de tanta amargura. Um consolo único restava à nação, (...) a esperança de que a herdeira (...) suavizasse com seu exemplo tão justa pena!”
Gaceta de Madrid (gazeta oficial do governo espanhol),
9 de outubro de 1834.
“Atualmente D. Pedro é honrado por todos como um grande príncipe, como o fundador da liberdade em Portugal, como um corajoso capitão, e acima de tudo como um chefe aventuroso que pela sua energia, seus talentos e sua perseverança, levou a cabo o mais belo, mais poético, mais cavaleiresco feito dos tempos modernos. (...)
Até aos seus últimos instantes, D. Pedro não desmentiu a grandeza de alma da qual tem dado brilhantes provas nas mais difíceis vicissitudes da sua vida. Assim, fez prometer à sua filha, a rainha D. Maria, abrir as prisões para todos os exilados políticos. Este é o voto, senão de boa política, pelo menos de uma alma generosa e cristã. Enfim, para terminar a sua carreira por esta terra com um traço de nobre modéstia, D. Pedro, o ex-imperador do Brasil, o ex-rei de Portugal, o regente do reino, quis apenas receber depois da sua morte as honras devidas a um general (…).”
Le Figaro, Paris, 9 de outubro de 1834.
“A morte do ex-Imperador do Brasil não é um facto indiferente para as duas frações da (...) Monarquia Portuguesa. (...) D. Pedro de Alcântara (...) abriu o campo a sucessos importantes, e influiu (...) nos destinos do Império do Brasil e do Reino de Portugal.
(...) existia nele o gérmen de grandes qualidades (...) a Providência o tornou um instrumento poderoso de libertação, quer no Brasil, quer em Portugal.
(...) O ex-Imperador expirou na época mais favorável para a sua glória; no ponto que medeia entre a viva lembrança do que fez em prol da Liberdade Portuguesa, e o receio dos futuros que talvez nascerão de seu traspassamento.”
Aurora Fluminense, Rio de Janeiro,
3 de novembro de 1834.
“Ansiedade, privações, deceções, vicissitudes e esforços extenuantes, quebraram completamente uma constituição robusta, antes que alguém disso se apercebesse. No momento do seu sucesso, ele ficou subitamente doente, e sentiu que a sua hora havia chegado.
(...) Ao contemplar o caráter deste homem, que desempenhou um papel tão elevado e notório no drama da vida humana, todos reconhecerão que não era comum; energia, atividade, sagacidade, e um desejo de melhorar a Constituição dos povos que governou, pertenciam-lhe inteiramente; capricho, ignorância, paixão, sensualidade e crueldade ocasional, foram os resultados da sua infeliz educação.
(...) Na vida privada, D. Pedro foi estimado e (...) amado por aqueles que o rodeavam."
The New Monthly Magazine and Literary Journal, Londres, 1834.
"REI LIBERTADOR
HERÓI DA NAÇÃO"
“D. Pedro não morreu. Só os homens comuns morrem, não os heróis.”
José Bonifácio, em carta a D. Pedro II e suas irmãs,
4 de dezembro de 1834.
Exposição web specific organizada por ocasião do novo projeto museológico do Quarto D. Quixote, na passagem dos 180 anos da morte de D. Pedro d’Alcântara de Bragança (1834-2014), Primeiro Imperador do Brasil e Rei de Portugal.
Coordenação do projeto museológico: Inês Ferro (Diretora), Conceição Coelho e Fernando Montesinos.
TEXTOS (entradas de catálogo)
Conceição Coelho / C.C.
Inês Ferro / I.F.
Fernando Montesinos / F.M.
Coronel Luís Sodré de Albuquerque / L.S.A.
Anísio Franco / A.F.
Teresa Maranhas / T.M.
Patrícia Telles / P.T.
Tânia Saraiva / T.S.
IMAGENS
© as instituições e os fotógrafos mencionados
Se deseja utilizar a informação publicada em linha como material de referência, pode citar-nos do seguinte modo:
EXPOSIÇÃO VIRTUAL
Parques de Sintra-Monte da Lua. (2014) D. Pedro d’Alcântara de Bragança. Imperador do Brasil, Rei de Portugal. Notas iconográficas de uma vida [em itálico]. Exposição virtual organizada pelo Palácio Nacional de Queluz na passagem dos 180 anos da morte de D. Pedro IV. Disponível no Google Art Project desde 24 de setembro de 2014: <http: / /www.google.com /culturalinstitute /exhibit /aqyretjw> Consulta: [data de consulta]
ENTRADA DE CATÁLOGO
Apelido/s e inicial do autor [da entrada de catálogo]. (2014) “Título” [da entrada de catálogo, entre aspas]. Em: D. Pedro d’Alcântara de Bragança. Imperador do Brasil, Rei de Portugal. Notas iconográficas de uma vida [em itálico]. Exposição virtual organizada pelo Palácio Nacional de Queluz na passagem dos 180 anos da morte de D. Pedro IV. Disponível no Google Art Project desde 24 de setembro de 2014: <http: / /www.google.com /culturalinstitute /exhibit /aqyretjw> Consulta: [data de consulta]
CEO of PSML—António Lamas