Pequena Paixão de Cristo

Série de vinte e seis placas de esmalte pintado sobre cobre que representam vinte e seis passos da Paixão de Cristo

‏‏‎ ‏‏‎Museu Nacional Soares dos Reis

Esta série de pequenas pinturas representa vinte e seis passos da Paixão de Cristo. Trata-se de vinte e seis placas produzidas com a técnica de esmalte pintado sobre cobre. Provêm de uma oficina da região de Limoges, na França central, e foram feitas entre a segunda metade do século XVI e o primeiro quartel do Século XVII.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Entrada de Cristo em Jerusalém (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

As vinte e seis placas constituíam um retábulo, ou um frontal de altar, mas não se sabe ao certo quantas seriam originalmente nem que tipo de estrutura as agrupava, pois provavelmente tal estrutura já não existia quando, em 1834, a série entrou no Museu.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Expulsão dos Mercadores do Templo (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Vinte e quatro das vinte e seis placas inspiram-se directamente numa série de trinta e seis gravuras, extraordinariamente popular ao longo de todo o século XVI, designada - Pequena Paixão de Cristo, da autoria de Albrecht Dürer, publicada em Nuremberga, em 1511.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Cristo Despede-se de Sua Mãe (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A série de placas, tal como hoje a conhecemos, começa a narrativa da Paixão de Cristo com o episódio em que Cristo se despede de sua mãe, conforme é descrito nas obras Meditações sobre a vida de Cristo do Pseudo-Boaventura (ou Fr. João de Caulibus) de c. 1308 e Marienleben de Filipe o Cartuxo, de c. de 1330.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Incredulidade de S. Tomé (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

E encerra a narrativa com a representação da passagem bíblica Incredulidade de São Tomé, segundo é descrita no versículo 20: 24-29, do Evangelho segundo São João.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Última Ceia (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Na série de gravuras de Dürer a narrativa tem início com a Queda em Tentação e Expulsão do Paraíso e termina com o Juízo Final. Cenas que não são representadas nesta série de placas.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Cristo é Pregado na Cruz (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Não se sabe quais os limites da série original de placas de esmalte, mas este é o conjunto mais completo de todos os atribuídos a este atelier.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Traição de Cristo (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Na verdade, estas placas não são assinadas nem datadas. A investigação mais recente atribui a sua autoria a um atelier designado sob o nome de convenção de “Mestre da Pequena Paixão”, a laborar na esfera muito próxima do esmaltador limusino Pierre Reymond (1513-1584).

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Coroação de Espinhos (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Estão atribuídos ao mesmo artista outras placas em esmalte, representado cenas da Pequena Paixão, como uma série da Wallace Collection, placas do Museu de Lyon, do Museu Hermitage de São Petersburgo e do Museu das artes Decorativas de Paris, entre outras.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - "Noli me Tangere" (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Em todas essas peças verifica-se uma mesma particularidade técnica, não visível à vista desarmada: a sobreposição de três camadas de esmalte, uma primeira de vidro branco opaco na qual é feito o desenho, uma segunda camada de vidro translúcido colorido, através do qual é visível o traço subjacente e uma terceira camada, de vidro branco opaco, visível nas carnações e nalguns elementos de paisagem, que é aplicada sobre qualquer das outras cores.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Aparição de Cristo a Sua Mãe (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Mas podemos facilmente observar outros aspectos que distinguem as peças saídas deste atelier: o traço fino e preciso do desenho dos rostos e das mãos.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Descida ao Limbo (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A peculiar modelação das carnações, formada pela sobreposição de camadas de branco de diferente espessura e pela adição de pequenas porções de pigmento vermelho e negro.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Descimento da Cruz (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Um outro aspecto que distingue as obras do “Mestre da Pequena Paixão” é a forma de aplicação do ouro (última das camadas a ser aplicada, por ser o pigmento que funde a temperatura mais baixa).

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Cristo Perante Anás (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

O ouro é distribuído abundantemente, com as zonas de gradação formadas por pequenos pontos e traços.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Ressurreição (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

O ouro constitui, em muitos casos, o próprio desenho dos cabelos, das estrelas no céu, dos nimbos, etc.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Oração no Horto (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

O ouro aplicado nestas placas (e em todas as atribuídas ao mesmo atelier) permanece em perfeito estado de conservação.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Ceia em Emaús (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A presença abundante do ouro associado às cores profundas e intensas, que se mantém inalteradas ao fim de séculos, confere um carácter precioso e uma aura de sumptuosidade ao conjunto.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Lava-pés (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Quase sempre o esmaltador teve que alterar a gravura que lhe serviu de inspiração, logo à partida porque a gravura não é colorida.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - "Ecce Homo" (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A distribuição da cor é inteiramente da invenção do esmaltador.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Cristo Crucificado (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

O facto de, nestas placas, a pintura se fazer sobre fundo azul-escuro, transforma todas as cenas representadas em cenas noturnas.
No esmalte toda a narrativa da Paixão de Cristo decorre durante a noite, sob um céu repleto de pequenas estrelas douradas.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Cristo Escarnecido (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A Paixão de Cristo foi uma temática especialmente popular na Alemanha, nos séculos XIV e XV, divulgada através de representações teatrais.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Queda a Caminho do Calvário (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

As séries de gravuras que a representavam tiveram por isso grande divulgação depois da invenção da imprensa, difundindo essas representações por toda a Europa.
Muitos ateliers de esmaltador utilizaram a série de gravuras da Pequena Paixão de Dürer.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Flagelação (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Curiosamente, poucos parecem ter apreciado a interpretação de Dürer do episódio da Flagelação. Esta gravura foi assim, nas séries de placas em esmalte, sistematicamente substituída por composições de figuras inspiradas em gravuras de outros artistas como Martin Schongauer. Combinando a figuração de Cristo virada para o observador, tal como a representou este gravador, mas inserindo a cena no cenário arquitectónico da gravura de Dürer, animado pelas figuras elegantes e dinâmicas dos verdugos da sua representação da Flagelação.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Lamentação do Cristo Morto (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

A representação da Lamentação do Cristo Morto também foi, nesta série, substituída por uma composição diferente da proposta por A. Dürer.
Com base numa fonte iconográfica que desconhecemos, o "Mestre da Pequena Paixão" escolheu uma representação desta cena em que a Virgem toma um lugar central na composição, em vez da posição marginal que lhe atribuiu Dürer.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - "Noli me Tangere" (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Nesta série o Mestre da Pequena Paixão deu largas à imaginação, recriando a indumentária simples e despojada dos personagens de Dürer, que substitui por toucados e mangas exuberantes e requintados, ao gosto renascentista.

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Deposição no Túmulo (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Introduzindo padrões elaborados de tecidos nos vestidos e mantos,

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Santa Verónica com São Pedro e São PauloMuseu Nacional Soares dos Reis

…mas também como revestimento dos interiores,

‏‏‎ Pequena Paixão de Cristo - Última Ceia (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

… e decorando os alçados lisos das peças de mobiliário com baixos relevos figurados.
Estes elementos alteram a dinâmica da composição das gravuras de Dürer, ao mesmo tempo que introduz elementos decorativos em voga, ou “na moda”, ao tempo em que viveu o esmaltador (ou esmaltadores) deste atelier.

‏‏‎ 26 Placas da Pequena Paixão de Cristo (1575/1625), de Mestre do atelier da Paixão de CristoMuseu Nacional Soares dos Reis

Nada se sabe sobre o passado desta série de vinte e seis placas de, a não ser que, em 1752, pertencia ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e era adorno e objecto de devoção no mais sumptuoso espaço barroco desse mosteiro, uma sala designado “Casa das Relíquias”.

Em 1834, com o processo de extinção dos conventos, foi para o Porto, dando então entrada nas colecções do Museu Portuense, hoje Museu Nacional de Soares dos Reis, que havia sido criado nesse ano, sendo uma das primeiras peças a integrar a colecção do Museu.

Créditos: história

Curadoria: Ana Cristina Almeida (MNSR)
Conteúdos: Ana Paula Machado Santos (MNSR)
Apoio: Mafalda Macedo (Voluntária do MNSR)
Produção Digital: Luis Ramos Pinto (DGPC)
Créditos fotográficos: Luis Piorro / Instituto José Figueiredo
Agradecimentos: Google Arts & Culture

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
Ver mais
Página inicial
Descobrir
Jogar
Por perto
Favoritos