Mulheres, desobediência e resiliência

Um decreto impediu o futebol feminino no Brasil. Conheça as histórias das mulheres que continuaram jogando.

Organizadores de jogos femininos na Bahia (1956), de Correio Paulistano | Biblioteca NacionalMuseu do Futebol

Década de 1950: três casos em que o futebol de mulheres lotou estádios

Embora proibido, a década de 1950 viu o futebol feminino florescer, atraindo grande público e a atenção da imprensa. Mas o sonho durou pouco: ao ganhar fama pelas páginas dos jornais, as atletas atraíam o olhar dos detratores da prática, que passavam a exigir, também pelos veículos de comunicação, o cumprimento da lei. Assim, os times foram obrigados, em poucos meses, a encerrar suas atividades.

Manchete denuncia a fiscalização da CND. (1956), de Correio Paulistano | Biblioteca NacionalMuseu do Futebol

Equipe do Corinthians Pelotense, em Pelotas (RS). (1954), de Periódico Diário Popular de PelotasMuseu do Futebol

Rio Grande do Sul: Corinthians Pelotense e Vila Hilda

Em abril de 1950, os times da cidade de Pelotas organizaram suas equipes femininas, compostas por jovens com idades entre 13 e 18 anos. Treinavam em média duas vezes por semana e enfrentaram-se pela primeira vez em 8 de julho de 1950. A novidade da "festa social-esportiva" registrou a venda expressiva de ingressos para o Estádio Bento Freitas (do G. E. Brasil). O empate de 1x1 contou com a participação de Joanete, para o alvinegro, e Carmem, para o Vila Hilda. Outros jogos ocorreram entre agosto e novembro, em cidades como Rio Grande, Porto Alegre e Novo Hamburgo. O Diário Popular noticiava com entusiasmo o crescimento da modalidade. Outros times surgiram no período, como o Amazonas, Renner e Tiradentes. Em 23 de novembro, o jornal de Pelotas reproduz a matéria da Folha da Tarde de Porto Alegre: o Conselho Nacional de Desportos (CND) exigiu que fosse cumprido o Decreto-Lei. Nada mais foi noticiado, e as iniciativas desses clubes foram interrompidas. A Federação Gaúcha de Futebol só voltou a organizar um jogo de mulheres em 1983.

Matéria sobre as jogadoras do Corinthians Pelotense e Vila Hilda. (1950-09-09), de Jornal Diário Popular de PelotasMuseu do Futebol

Madalena Palombo Pruss, considerada a melhor atleta da cidade de Pelotas. (1950), de Acervo Família PrussMuseu do Futebol

Equipe do 2º Normal “A”. (1951), de Acervo LeivinhaMuseu do Futebol

São Paulo: Secundaristas de São João da Boa Vista

Em 11 de maio de 1951, as alunas do interior paulista vestiram as camisas dos times da cidade, o Palmeiras Futebol Clube e o Sociedade Esportiva Sanjoanense, para arrecadar fundos para a formatura das alunas. O Estádio Dr. Oscar de Andrade Nogueira ficou lotado para ver as garotas do 2º ano Normal do Colégio Estadual Christiano Osório de Oliveira. Estima-se que o evento reuniu um público de 5 mil pessoas, além da imprensa local. Os veículos Gianelli Filmes, TV Paulista (SP), Rádio Nacional (RJ) e a difusora local registraram o jogo.

Equipe do 2º Normal “B”. (1951), de Acervo LeivinhaMuseu do Futebol

Estádio do Independência lotado de torcedores para o clássico entre América Futebol Clube x Clube Atlético Mineiro. (1959), de Arquivo Jornal Estado de MinasMuseu do Futebol

Minas Gerais: Araguari e o clássico Atlético e América

A cidade do triângulo mineiro se tornou conhecida por organizar um time feminino em 1958, o Araguari Atlético Clube. A iniciativa de Ney Montes surgiu para arrecadar fundos para uma escola. Cerca de 25 meninas formavam duas equipes que estrearam em dezembro, com estádio lotado. A repercussão logo chegou a Belo Horizonte: o time foi convidado para jogar no Estádio Independência, o principal da capital à época. O jogo de 10 de maio de 1959 foi a atração principal da “6ª Festa dos Melhores”, promovida pelo Diário da Tarde. Jogaram defendendo as camisas dos dois grandes clubes mineiros: Atlético e América. “Para se estabelecer nesta exibição a criação do espírito de rivalidade entre as equipes vimos por bem encamisá-las de modo diferente, seguindo para isto a maior marca de tradição do futebol mineiro: o clássico das multidões”, Diários Associados, 8 de maio de 1959. A rivalidade e a novidade atraíram mais de 20 mil pessoas ao Estádio. Em 1959, houve jogos em Uberlândia, Belo Horizonte, Varginha e Salvador. As jogadoras receberam convite para jogar no México. Pouco depois de um ano de atividade, por pressão da igreja local e do Conselho Nacional de Desportes (CND), o sonho acabou.

“- Há público para os jogos femininos? - O interesse é grande pela originalidade das partidas. - São boas as arrecadações? - Um jogo entre as equipes do Araguari proporcionam rendas de 200 mil cruzeiros, em média. - Para onde é canalizado todo esse dinheiro? - A princípio, para o próprio clube. - Agora, porém, estou informado de que as próprias moças são gratificadas.” O Globo, 24 de abril de 1959

Início da partida entre América Futebol Clube x Clube Atlético Mineiro no estádio Independência, de Belo Horizonte (MG)., Arquivo Jornal Estado de Minas, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Goleira do Araguari Atlético Clube, Eleuza Santos., O Cruzeiro | Arquivo Jornal Estado de Minas, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Jogadoras do Araguari Atlético Clube em partida realizada em Uberlândia (MG)., O Cruzeiro | Arquivo Jornal Estado de Minas, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Cirene Portugal, autora do gol da equipe carioca durante a partida realizada no Pacaembu. (1959), de Coleção Lover Ibaixe | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Década de 1960: Jogar futebol? Só como “espetáculo beneficente”

Em 17 de agosto de 1959, ocorreu uma partida entre atrizes do teatro de revista de São Paulo e Rio de Janeiro. O empresário Lover Ibaixe organizou o evento com o intuito de arrecadar fundos para o Hospital dos Atores de São Paulo. O evento ocorreu também no Maracanã e seguiu para outros estados, como Bahia e Sergipe. “O problema é o começo. Se deixarmos que se realize esse anunciado jogo entre as vedetas do Rio e de São Paulo, a consequência será que o futebol feminino será fato consumado e nunca mais haverá solução para o problema.” José Augusto Cavalcanti, presidente do diretório acadêmico da Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil, 1959. Espetáculo de vedetes ou competição esportiva? A tênue linha gerou conflitos entre as autoridades. O artifício de anunciar o jogo feminino como “partida-espetáculo-beneficente” funcionou para ludibriar a legislação e o poder público contra a proibição. A despeito dos comentários preconceituosos dos cronistas da época, as partidas lotaram o estádio e arrecadaram uma quantia generosa com os ingressos vendidos. “Em dois jogos na Bahia e Sergipe, ganhei mais do que numa quinzena de trabalho em teatro, com duas sessões diárias, e três aos sábados e domingos. Joguei de médio direito e por jogar duro passei a ser chamada de Orlando… Se continuar ganhando tanto dinheiro assim no futebol, vou pedir meu ‘passe’ ao teatro de revista”. Riva Ketter, Revista do Rádio, n. 535, dezembro de 1959.  O jogo em São Paulo rendeu 1.320.500,00 cruzeiros, cifra menor somente que Corinthians x Palmeiras pelo Campeonato Paulista de 1959. O jogo no Maracanã rendeu 1.130.838,00 Cruzeiros, o clássico entre Botafogo x América-RJ no mesmo período gerou receita de 953.668 Cruzeiros.

Riva Ketter e Dayse Paiva posadas., Coleção Lover Ibaixe | Acervo Museu do Futebol, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Atrizes treinam antes de partida beneficente, Coleção Lover Ibaixe | Acervo Museu do Futebol, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Treino para a partida entre atrizes, Coleção Lover Ibaixe, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Ingresso para partida entre vedetes, Coleção Lover Ibaixe | Acervo Museu do Futebol, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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A Federação de Futebol Pernambucano se posicionou contra a exibição do futebol entre vedetes na cidade de Recife (PE)., Correio Paulistano | Biblioteca Nacional, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Equipe feminina do Esporte Clube Comercial da cidade de Campo Grande (MS). (1961), de Correio Paulistano | Biblioteca NacionalMuseu do Futebol

O novo hobby das garotas de Campo Grande

Os clubes amadores de futebol Esporte Clube Comercial e Grêmio Operário Futebol Clube, de Campo Grande (MS) viviam à margem dos olhos das federações até a década de 1970. Com a efetiva participação das famílias, esses clubes exibiram equipes femininas no período da proibição. Com ares de brincadeira e sempre com caráter beneficente, o Estádio Belmar Fidalgo viu suas receitas subirem significativamente graças às participações femininas.

Equipe feminina do Grêmio Operário Futebol Clube da cidade de Campo Grande (MS). (1961), de Correio Paulistano | Biblioteca NacionalMuseu do Futebol

Jogadoras e capitãs Ana Amélia e Giodano. (1961), de Correio Paulistano | Biblioteca NacionalMuseu do Futebol

As funcionárias da empresa Alfred Teves. (1971), de Coleção Alex Queiroz | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

O futebol no interior de São Paulo: entre recreação e reivindicação

Do Campo Limpo Paulista ao Vale do Paraíba, a modalidade continuava ganhando espaço entre as mulheres. As funcionárias da empresa Alfred Teves, instalada em terras campo-limpense se reuniam para disputar partidas de futebol nas horas de descanso.

Em dezembro de 1969, cartazes foram espalhados por Taubaté (SP) (1969), de Coleção Tessalia Souza Bagdadi Tau | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Em Taubaté, as jogadoras do Instituto Diocesano e de Ensino Santo Antonio (IDESA) mobilizaram e empolgaram todo o município. São inúmeras as manchetes em jornais locais que elogiam o desempenho da equipe.

A competência nunca deixou dúvidas. (1969), de Arquivo Jornal Última Hora | Coleção Tessalia Souza Bagdadi Tau | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Pelo direito de jogar, as meninas da Ponte Preta de Jacareí se organizaram em 1969 com o intuito de intervir e anular definitivamente a proibição. Uma das integrantes do movimento, Luci, camisa 10 da equipe, declarou que o objetivo era “acabar com mais esta discriminação odiosa”.

Lutando contra a proibição da prática do futebol por mulheres (1965), de Arquivo Jornal Última Hora | Coleção Tessalia Souza Bagdadi Tau | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Jogadoras do Vespasiano e Oficina no campo do Independente, em Vespasiano (MG). (1968), de Arquivo Jornal Estado de MinasMuseu do Futebol

Vespasiano: baile, bazar e futebol feminino

Em julho de 1968, 30 garotas de Vespasiano, município vizinho de Belo Horizonte (MG), se reuniram após a queda do muro da escola Padre José Senabre para arrecadar fundos para a reforma do colégio. Entre as ideias rentáveis apareceu baile, bazar e…. por que não, uma partida de futebol! O campo do Independente cedeu o espaço e bilheteria para o jogo. O Vespasiano Esporte Clube contribuiu com os uniformes de um dos times. A vestimenta do outro time ficou a cargo de uma oficina mecânica da cidade. Por isso foi dado o nome “Oficina” para a outra equipe competidora. Natural de Vespasiano, Buião, atacante do Atlético Mineiro e do Corinthians, deu o pontapé inicial da partida entre o Vespasiano e o Oficina. Público lotado, novas partidas e a cobertura da imprensa acabaram por chamar a atenção das autoridades. Assim, o futebol feminino foi precocemente encerrado na cidade mineira. “Vespasiano tem hoje uma grande atração turística. É a única cidade do Brasil onde se pratica o futebol feminino, mesmo com a proibição da CND”, Estado de Minas, 28 de julho de 1968.

Time do Oficina ao lado de Elair, a massagista., Arquivo Jornal Estado de Minas, 1968, Da coleção de: Museu do Futebol
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Dora e Clarice, a artilheira da cidade., Arquivo Jornal Estado de Minas, 1968, Da coleção de: Museu do Futebol
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Edina de Aguiar Malta, a Dininha., Arquivo Jornal Estado de Minas, 1968, Da coleção de: Museu do Futebol
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Sessão de fotos realizada no campo do Independência pelo próprio jornal para divulgação do inédito clássico mineiro., Arquivo Jornal Estado de Minas, 1959, Da coleção de: Museu do Futebol
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Jogadora dinamarquesa retratada pelo Semanario Futbol durante o II Campeonato Mundial de Futebol Feminino. (1971), de Jornal FutbolMuseu do Futebol

Década de 1970: os primeiros mundiais

Em fevereiro de 1970, foi criada a Federação Internacional de Futebol Feminino. Uma de suas primeiras ações foi a organização do I Campeonato Mundial de Futebol Feminino, em junho de 1970, na Itália. Mesmo sem chancela da FIFA, participaram Alemanha, Áustria, Dinamarca, Inglaterra, Itália, México e Suíça. Aproximadamente 50 mil torcedores testemunharam a partida final, que sagrou as dinamarquesas campeãs.

“Em doze países filiados, o futebol feminino já é reconhecido, sendo que os alemães fazem movimentos em favor da mulher futebolista. (...) entre os países latino-americanos, nenhuma associação dá apoio integral às mulheres. (...) no Brasil, Argentina, Venezuela e Guatemala, mesmo com tudo contra, várias equipes femininas já foram formadas.”, Correio da Manhã, 2 de outubro de 1970.  Em 1971, o México sediou a segunda edição do campeonato, dessa vez disputado entre Argentina, Dinamarca, França, Inglaterra, Itália e México. A mascote do evento foi a personagem Xochitl – nome de uma flor mexicana que representa beleza, paz, amor e confraternização. A Federação Mexicana de Futebol tentou coibir o acesso das jogadoras em seus campos. Os estádios particulares Jalisco e Azteca abrigaram o torneio, cuja partida final entre Dinamarca e México teve 100 mil torcedores. “Depois do México-68 e do México-70, as moças boas de bola estão fazendo o México-71.”, Correio da Manhã, 19 de junho de 1971.

Caricatura satiriza as jogadoras., El Informador | Acervo Hemeroteca Nacional do México, 1971, Da coleção de: Museu do Futebol
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Seleção italiana que disputou a Copa do Mundo não-oficial de 1970, em Turim, na Itália., Getty Images, 1970, Da coleção de: Museu do Futebol
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Seleção dinamarquesa que disputou a Copa do Mundo não-oficial de 1970, em Turim, na Itália., Getty Images, 1970, Da coleção de: Museu do Futebol
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Equipe de futebol do Sport Club Corinthians Paulista. (1977), de Coleção Karen Zolko | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

O Corinthians de 1977: outro jejum se quebrou

Em 1977, ano emblemático para os corintianos devido à quebra do jejum de mais de 23 anos sem títulos, o clube alvinegro paulista inaugurou a sua primeira equipe de mulheres.

Na gestão de Vicente Matheus, a equipe atuou até 1980, momento em que muitas equipes de mulheres se organizaram à revelia da proibição para jogar.

Apesar de carregarem o nome do Sport Club Corinthians Paulista, o grupo foi impedido de vestir o uniforme original da equipe masculina. O motivo? Não caracterizar a iniciativa como uma modalidade de futebol do clube paulista e, assim, evitar que a Federação Paulista e a CBF impedisse o time de jogar...

Formação da equipe feminina do S.C. Corinthians Paulista. (1977), de Coleção Karen Zolko | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Mulheres participantes do I Festival Nacional de Mulheres nas Artes nas ruas da Avenida Paulista, São Paulo. (1982), de Coleção Rose do Rio | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Anos 1980: enfim a regulamentação,  Rose do Rio e o I Festival Nacional das Mulheres nas Artes

Cantora, atriz e jogadora de futebol Rose Cordeiro Filardi, a Rose do Rio, lutou para que o futebol feminino pudesse ser uma prática autorizada e reconhecida. Ela atuou para inserir um jogo feminino na programação do I Festival Nacional das Mulheres nas Artes, realizado em São Paulo, entre os dias 3 e 12 de setembro de 1982. Com conotação feminista, o evento foi promovido pela atriz Ruth Escobar, com a chancela da Revista Nova, reunindo mulheres de diferentes países. Para o encerramento do festival, estava programada uma partida entre equipes femininas do Rio e de São Paulo, um jogo preliminar do clássico São Paulo e Corinthians, no Morumbi. Apesar do fim do Decreto-Lei, a prática esportiva ainda não estava regulamentada e o CND só permitiu a realização do jogo depois que o mesmo se configurou como um espetáculo: os dois tempos foram reduzidos para 20 minutos cada e o árbitro oficial, dispensado. Com a assistência de aproximadamente 68 mil pessoas, o jogo foi vencido pelas cariocas por 4 x 0. A atriz Ruth Escobar, do time carioca, trocou de camisa em campo com uma jogadora da equipe paulista. O gesto típico entre homens chocou... e acabou virando regra quando da regulamentação da modalidade: mulheres não podem trocar suas camisas dentro de campo!

Debatedoras e convidadas do I Festival Nacional de Mulheres nas Artes em São Paulo. (1982), de Coleção Rose do Rio | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Rose entre uma das suas primeiras equipes de futebol feminino no Rio de Janeiro. (1982), de Coleção Rose do Rio | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Rose do Rio após a fundação da Associação de Futebol Feminino no Rio de Janeiro no início da década de 1980. (1980), de Coleção Rose do Rio | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Equipe da PUC de Campinas. (1983), de Coleção Romeu Castro | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

O regulamento de 1983

A tão sonhada regulamentação do futebol feminino ocorreu em março de 1983. O desgaste do regime militar e os avanços dos movimentos sociais – incluindo os feministas – contribuíram para que a prática do futebol se fizesse realidade. Clubes e campeonatos surgiram em todas as regiões do país, dando vazão a uma demanda represada por mais de 40 anos.

Suzana Cavalheiro pelo Isis Pop ao lado da jogadora do Atlético Mineiro. (1983), de Coleção Suzana Cavalheiro | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

O regulamento apresentava diferenças em relação ao futebol masculino, como:

O tempo da partida era de 70 minutos, com intervalo de 15 a 20 minutos;

A bola tinha circunferência menor, entre 62 e 66 centímetros;

O peso máximo da bola era de 390 gramas;

As jogadoras deviam usar chuteiras com travas metálicas ou pontiagudas;

Era proibido cobrar bilheteria dos jogos;

Jogadoras não podiam trocar de camisas com as adversárias após as partidas.

Lúcia e a irmã Heloisa Baldy dos Reis (1983), de Coleção Heloisa Baldy dos Reis | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Torneio Metropolitano da Gazeta Esportiva (1984), de Coleção Heloisa Baldy dos Reis | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Equipe do Guarani no clássico contra a Ponte Preta no I Campeonato Campineiro. (1983), de Coleção Heloisa Baldy dos Reis | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Campeonato entre as equipes do Sport e Santa Cruz no Centro Social Bidu Krause, Recife (PE). (1983), de Coleção Museu da Cidade do RecifeMuseu do Futebol

Partida promovida pela Secretaria de Ação Social. (1983), de Coleção Museu da Cidade do RecifeMuseu do Futebol

Campo lotado de torcedores (1983), de Coleção Museu da Cidade do RecifeMuseu do Futebol

Equipe da PUC de Campinas. (1983), de Coleção Romeu Castro | Acervo Museu do FutebolMuseu do Futebol

Créditos: história

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Créditos: todas as mídias
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