Facetas da arte contemporânea brasileira - Parte I

Interpretações do "pós-colonial" e do "decolonial"

Amnésia, Flávio Cerqueira, 2015, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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A geometria à brasileira chega ao paraíso tropical, Rosana Paulino, 2017/2018, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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Esta exposição aborda obras de quatro artistas contemporâneos brasileiros, que se inserem em um processo pós-colonial e decolonial, colocando em prática a crítica histórica e social. O pós-colonialismo e o decolonialismo se opõem à estrutura colonial imposta por impérios europeus, oferecendo uma nova geopolítica do conhecimento e resistência a formas de dominação epistemológica. As referências visuais nas obras discutem questões do passado e presente que demandam um futuro mais igualitário.

A permanência das estruturas (2017) de Rosana PaulinoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

1. Evocação da violência histórica

Azulejaria "De Tapete" em Carne Viva, Adriana Varejão, 1999, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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A permanência das estruturas, Rosana Paulino, 2017, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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Estas obras lidam com o passado colonial e com a violência ligada à história do Brasil, que ainda sente os efeitos em suas estruturas sociopolíticas. A narrativa histórica tende a privilegiar visões hegemônicas e de domínio, afetando diversos campos do saber. A cultura e sua transmissão não existem isoladas de seus contextos. As obras se apropriam, por vezes, de símbolos ou histórias associadas à colonização, os subvertendo e problematizando a narrativa produzida num processo histórico colonial.

Amerikkka (1991) de Cildo MeirelesFaculdade de Letras da Universidade do Porto


Meireles invoca duas referências principais nesta obra: a metáfora do Ovo de Colombo e, no título da obra, a referência ao Ku Klux Klan, grupo terrorista de supremacia branca estadunidense.

Segundo o artista, a obra demonstra o que aconteceu com o continente americano que, com sua história colonial conturbada e violenta, ainda se mostra cheio de preconceitos herdados, entre eles, o racismo.

A permanência das estruturas (2017) de Rosana PaulinoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A artista Rosana Paulino faz, com esta obra de apropriação de fotografias e ilustrações, uma denúncia das estruturas que continuam a subjugar a população negra no Brasil, a partir de um contexto histórico de colonização e escravidão.

Paulino subverte o significado desta fotografia, encomendada em meados de 1800 por Louis Agassiz, médico e biólogo suíço, que buscava sustentar teorias de “classificação de raças” e  provar a “raça branca” como sendo superior,  justificando assim a escravização de outras etnias.

Azulejaria "De Tapete" em Carne Viva (1999) de Adriana VarejãoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Adriana Varejão explora a cultura do “Velho Mundo” imposta no “Novo Mundo”, expondo de forma explícita e visceral os traumas resultantes do processo de expansão colonial.

Em Azulejaria "De Tapete" em Carne Viva, Varejão revela, na fissura do quadro, a carne como símbolo da violência colonial que perdura.

Se precisar, conto outra vez (2016) de Flávio CerqueiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

2. Navegações e o “Novo Mundo”

Logo Ali, Flávio Cerqueira, 2014, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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Se precisar, conto outra vez, Flávio Cerqueira, 2016, Da coleção de: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
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Referências à exploração do “Novo Mundo” com as  navegações estão presentes em diversas obras. Neste período se criaram estereótipos de um mundo que deveria ser explorado e “civilizado”. As consequências deste tipo de pensamento podem ser vistas, ainda, na sociedade brasileira. A invasão de territórios, o apagamento de culturas nativas e da diáspora africana, o abuso sofrido dentro deste processo colonial, criaram um desejo de revisão histórica.

Logo Ali (2014) de Flávio CerqueiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto


Flávio Cerqueira pensa seus trabalhos como parcialmente completos, esperando que o espectador entre na narrativa e crie novos significados. Recorre a cenas que envolvem o ser humano, questões de raça, gênero, violência, história e sociedade, deixando livres para interpretação.


Estão presentes em Logo Ali a ideia do mar e de navegar ou estar no mar, do ir e vir, do estar perdido, do desistir, mas também da esperança e da perseverança.

Toque para explorar

O título se refere a uma frase que foi grafitada em diversos locais no Rio de Janeiro durante os anos 70. A alusão feita ao mar e a organização dos azulejos - formando uma onda - se referem ao elemento que ligava Brasil e Portugal durante as turbulentas explorações marítimas. 

Se precisar, conto outra vez (2016) de Flávio CerqueiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto


A obra de Flávio Cerqueira explora novas narrativas da história brasileira, frente à situação política tensa em que o país se encontrava, buscando refletir sobre como o Brasil veio a ser construído e as consequências desta fundação e exploração.


O crânio como um sinal da mortalidade também pode servir como um aviso de mudança, do fim de uma era e de um recomeço. O título evoca um sentimento de renovação, trazendo a possibilidade da revisão histórica de uma narrativa que deixa muita diversidade humana de fora.

Créditos: história

CURADORIA: Maria Paula Magalhães Silva sob a orientação de Maria Leonor Barbosa Soares, Joana Isabel Fernandes Duarte e Diana Felícia.
 
TEXTOS: Maria Paula Magalhães Silva com revisão científica de Maria Leonor Barbosa Soares, Joana Isabel Fernandes Duarte e Inês de Carvalho Costa.
 
PRODUÇÃO: Este trabalho resulta de um projeto de Maria Paula Magalhães Silva para o mestrado em História da Arte, Património e Cultura Visual (MHAPCV) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, desenvolvido no CITCEM/FLUP durante 2020/2021 e aprovado pela Comissão Científica em exercício de funções do MHAPCV.
 
RELATÓRIO DO PROJETO: https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/139724
 
APOIOS: CITCEM/FLUP.
  
TRADUÇÃO: Maria Paula Magalhães Silva.
 
REVISÃO DE TRADUÇÃO: Raquel Viúla («Financiada pela FCT - Fundação Nacional para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do projeto UIDB/04059/2020»).

Créditos: todos os meios
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