D. João V
"O Magnânimo" (1689-1750), Rei de Portugal e dos Algarves, foi considerado Senhor de uma vasta cultura científica e literária, conhecedor dos autores clássicos e modernos. A sua sólida educação foi muito marcada pela própria mãe e por influência de padres jesuítas.
Cortejo no Terreiro do Paço, Lisboa (Século XVIII) de Jose CiríacoMuseu Nacional dos Coches
A grandeza de alguns eventos do seu reinado ficou na memória dos portugueses e das cortes europeias, de que é exemplo o desfile organizado para a entrada da rainha D. Maria Ana de Áustria, em Lisboa, aquando do seu casamento com D. Joao V.
Assim o descreve Monsenhor Pereira Botto, no «Promptuario analytico dos carros nobres da Casa Real Portuguesa e das carruagens de gala» (...) "Vulcano e Ciclopes, Vénus e Cupido, tudo no Terreiro do Paço se move", ou na grande descrição da Embaixada ao Papa Clemente XI,em 1716.
A Cultura de D. João V
A cultura elevada de D. João V contribuiu para que os Coches da Embaixada ao Papa Clemente XI, no ano de 1716, para além de faustosos, representado a sumptuosidade do poder absoluto da monarquia, fossem também a expressão de um reino instruído e conhecedor da herança clássica.
Coche de Maria Ana D’ÁustriaMuseu Nacional dos Coches
Assim, os Coches surgem-nos recheados de múltiplos elementos simbólicos, alegorias à Pátria que se mesclam com a Mitologia clássica.
O Embaixador - 3º Marquês de Fonte
D. João V, cujo reinado foi um dos mais significativos para a diplomacia portuguesa, fez desta Embaixada o ponto alto de ostentação, ao enviar a Roma D. Rodrigo Annes de Sá Almeida e Meneses, 3º Marquês de Fontes, visando obter prerrogativas para a Igreja portuguesa.
O Cortejo do Marquês de Fontes
O Magnífico cortejo que conduziu o Marquês de Fontes da sua residência na Piazza Colonna ao Palácio Quirinal contribuiu para o prestígio de Portugal junto da Santa Sé e para a afirmação do poder do Reino e do monarca, no quadro internacional da Europa.
O Coche do Papa Clemente X
Na sequência do nascimento do primogénito da Família Real portuguesa, o Papa Clemente XI enviou por mar, a Lisboa, o Núncio Apostólico que consigo trazia este Coche e as “Faixas Bentas” para a Cerimónia do Batismo do príncipe D. José
Os Coches Triunfais
Os três coches triunfais que fizeram parte da Embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI fazem-nos recuar a uma viagem histórica e simbólica de um Portugal feito de ostentação e sumptuosidade. Também recordam a importância política, diplomática e cultural das Embaixadas e Entradas Solenes nas cortes europeias. O dia escolhido para a primeira audiência pública do Embaixador Extraordinário enviado a Roma foi emblemático: 8 de julho, dia da evocação da Rainha Santa Isabel de Portugal.
O Coche do Embaixador, o Coche dos Oceanos e o Coche da Coroação de Lisboa
O Coche do Embaixador, o Coche dos Oceanos e o Coche da Coroação de Lisboa, mandados construir em Roma, revelam uma grande qualidade artística, cuja mensagem alegórica dá enfase ao Título de Estado que D. João V possuía por direito, "Senhor da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”.
Coches da Embaixada Coches da Embaixada (Final do século XVIII) de Autor desconhecidoMuseu Nacional dos Coches
O Coche do Embaixador
O Coche dos Oceanos
O Coche da Coroação de Lisboa
As Alegorias e os Coches
Nestes Coches Triunfais, idealizados pelo próprio Embaixador, Marquês de Fontes, são visíveis as alegorias relativas aos feitos heróicos da História de Portugal, no domínio dos Descobrimentos e conhecimento dos mares. As decorações refletem também uma linguagem clássica cujo incremento se foi afirmando desde o Renascimento e de que é exemplo o poeta Luís de Camões.
O Coche do Embaixador
Dedicado à Navegação e Conquista, o Coche apresenta, no alçado traseiro à esquerda, a figura de Tétis, que aqui simboliza a Navegação. É sustentada por um Atlante e está a desenhar rotas num globo.
No mesmo alçado, um Tritão, ser mitológico a que se associava o Ocidente, emerge das águas e segura uma agulha de marear.
Do lado direito, Belona, divindade de origem romana, simboliza, por sua vez, a Conquista, empunhando um escudo e comanda um Leão, símbolo do poder real.
Coche do Embaixador e os seus Mitos
No jogo dianteiro é visível Sileno, o tutor de Baco, conduzindo um cavalo marinho ladeado pelas alegorias da Guerra, aqui figurada como Minerva, divindade que simboliza os feitos heróicos, e da Esperança.
O Coche dos Oceanos
Este Coche evoca, no alçado traseiro, o encontro dos Oceanos Atlântico e Índico e a passagem do Cabo da Boa Esperança, pelos portugueses em 1487.
Apolo, o deus da Luz, acompanhado pela sua lira, glorifica e dá a conhecer ao Mundo, representado pelo globo terreste, o feito histórico da Passagem do Cabo da Boa Esperança. Esse acontecimento surge aqui simbolizado através do aperto de mão dos dois oceanos, figurados por velhos sentados sobre golfinhos.
Coche dos OceanosMuseu Nacional dos Coches
O Coche dos Oceanos e as 4 Estações
As Estações do Ano, figuras mitológicas de grande expressão no período barroco, completam este quadro com a representação da Primavera e do Verão.
Do lado esquerdo apresenta-se o Verão aqui figurado por Ceres, que segura um molho de espigas.
Apolo ladeado pelo Verão e pela Primavera.
Do lado direito apresenta-se a cornucópia da Abundância, simbolizando a Primavera.
Coche dos OceanosMuseu Nacional dos Coches
O Outono e o Inverno
No alçado dianteiro, de cada lado do banco do cocheiro figuram o Outono, com frutos da época, e o Inverno, segurando um braseiro. As Estações do Ano, também elas figuras mitológicas de grande expressão no período barroco, adequam-se perfeitamente à fisionomia dos coches.
O Inverno está figurado com as vestes adequadas à estação do ano.
O Coche da Coroação de Lisboa
O Coche da Coroação de Lisboa é dedicado a «Lisboa Capital do Império» e também ele está pleno de alegorias.
Coche da Coroação de Lisboa Coche da Coroação de LisboaMuseu Nacional dos Coches
No alçado traseiro estão figuradas a Fama, com a sua trombeta, e a Abundância com a cornucópia. Ambas ladeiam a figura de Lisboa com o ceptro apontado aos continentes africano e asiático.
Coche da Coroação de Lisboa Coche da Coroação de LisboaMuseu Nacional dos Coches
Façam pois esta longa viagem … entre os "Coches e os seus Mitos"!
Ficha Técnica
Coordenação: Silvana Bessone
Conceção: Teresa Abreu
Conteúdos: Filomena Barata; Rosinda Palma; Teresa Abreu
Fotografias: Pedro Beltrão; Nuno Augusto; DGPC-DDF-MNCoches
Tradução: Luis Ramos Pinto
Apoio Informático: Luís Ramos Pinto
Bibliografia Sumária:
BESSONE, Silvana, «De passeio com deuses e heróis» in Actas do Colóquio Internacional, Mytos», pp.103-118, 2008
BOTTO, J. M. Pereira, «Prontuário Analítico dos Carros Nobres da Casa Real Portuguesa e das Carruagens de Gala», Imprensa Nacional, tomo I, Lisboa, 1909
PEREIRA, João Castel-Branco, «Tronos Rolantes da Monarquia Portuguesa», in Oceanos, nº 3, Lisboa, 1990, pp.121-122