CATETE E PRAIA DO FLAMENGO VISTOS DA GLÓRIA (1840 - 1845), de MullerMuseu Imperial
"Catete", o caminho do mato fechado
Assim os tupis batizaram esta região que, durante a ocupação portuguesa, ligava o centro político e administrativo aos engenhos e fortes ao sul. Atravessado pelo Rio Carioca, o Catete se tornou lugar de residência da nobreza durante os tempos da Colônia e do Império.
O novo barão da vizinhança
Na década de 1850, um dos terrenos do caminho do Catete foi comprado pelo português Barão de Nova Friburgo para que ali se construísse sua residência. Um dos homens mais ricos do Brasil no Segundo Reinado (1840-1889), o barão fez fortuna com o tráfico de escravos e de café.
O Palácio do Largo do Valdetaro
O projeto do edifício coube ao alemão Gustav Waehneldt. Como toda casa nobre da época costumava ter um jardim ao redor, o do Barão foi projetado pelo francês Auguste Glaziou. O Palácio seria construído de frente para o Largo do Valdetaro, onde havia uma fonte pública de água.
Recibo de pagamento dos trabalhadores empregados na construção do Palácio Nova Friburgo. (1863-04-04)Museu da República
A corte imperial ganhou o seu maior palácio. Quem o ergueu?
As obras do palácio e do jardim aconteceram de 1858 a 1868. Nelas foram empregados centenas de operários e artesãos especializados, dentre os quais muitos portugueses e escravos de aluguel. No arquivo do museu é possível encontrar os recibos de pagamento desses trabalhadores.
Escadaria Principal.Museu da República
Um clássico do neoclássico no Brasil
O edifício tem sua arquitetura e decoração baseadas nos Palácios de Veneza e Florença (Itália) e no estilo neoclássico europeu, marcado pela simetria e inspiração na Antiguidade e no Renascimento. Por causa do Barão, passou a ser chamado "Palácio de Nova Friburgo".
De Palácio a Hotel... quase
O imóvel ficou pronto em 1868, mas o Barão e a baronesa morreram dentro de dois anos. Os herdeiros pouco usavam a propriedade do Catete, que acabou sendo vendida em 1889 ao conselheiro Francisco Mayrink, que pretendia fazer ali um hotel de luxo. Mas o empreendimento fracassou.
Salão Nobre. (1896/1897)Museu da República
Em 1889, veio a República
O conselheiro Mayrink acabou vendendo o Palácio à União, para quitação de uma hipoteca. Entre 1896 e 1897, o imóvel passou por uma série de reformas a fim de abrigar a nova sede da Presidência da República, que até então ocupava o Palácio do Itamaraty.
Um toque republicano na casa da nobreza
Ao arquiteto Aarão Reis coube adaptar o interior do Palácio às necessidades do serviço presidencial. Houve a instalação de luz elétrica, gerada por uma usina privativa. Paredes e tetos foram ornamentados com o brasão de armas da República.
Gruta artificial (1896/1897), de Paul VillonMuseu da República
Natureza recriada
Alguns dos elementos mais característicos do Jardim datam desta reforma, como a gruta e o lago artificiais, as esculturas ornamentais de ferro fundido e as pontes de cimento que imitam troncos de árvores. O paisagismo coube ao francês Paul Villon, discípulo de Glaziou.
Um palácio sempre movimentado
O primeiro ocupante do Palácio foi o vice-presidente Manuel Vitorino, pois o titular Prudente de Moraes estava de licença médica. De 1897 a 1960, dezoito Presidentes entraram e saíram do Catete ao longo de quatro regimes constitucionais: os de 1891, 1934, 1937 e 1946.
"Alegoria à Constituição do Estado Novo" (1937/1945), de Carlos OswaldMuseu da República
Patrimônio histórico e artístico republicano
Em 1938, durante o governo Getúlio Vargas, o Palácio e o Jardim foram tombados em nível federal pelo recém-criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Como presidente eleito ou ditador, Vargas ocupou o Palácio por 19 anos ao todo (1930 a 1945, 1951 a 1954).
Piso hidráulico, esculturas e escadaria principal (1858/1868), de Carl Friedrich Gustav Waehneldt (projeto)Museu da República
Escadaria para o poder
Por seis décadas, o Palácio do Catete foi sinônimo do governo nacional no imaginário popular e "subir as escadarias do Catete" era o símbolo máximo do triunfo político. De lá saíram decisões, acordos e crises cujos efeitos direcionaram os destinos do país até os dias de hoje.
Medalha comemorativa da inauguração do Museu da República (1960), de Casa da Moeda do Rio de JaneiroMuseu da República
Um novo museu para a velha capital
Em 21 de abril de 1960, a capital federal do Brasil seria transferida da cidade do Rio de Janeiro para a novíssima Brasília. Antes de ir embora, o então presidente Juscelino Kubitschek assinou decreto transformando o Palácio do Catete em Museu da República.
A casa das Repúblicas vividas e sonhadas
O Museu da República foi inaugurado em 15 de novembro de 1960. Sua missão é a de preservar e comunicar o patrimônio histórico, material e imaterial, relativo à memória do regime republicano e das diversas formas de concepção e realização do ideal de República no Brasil.
Jardim Histórico do Museu da República.Museu da República
A "res publica", em latim, significa "coisa do povo"
Há mais de 60 anos, o Museu da República segue sua vocação de bem público, abrindo ao povo os salões e gramados outrora exclusivos de poucos, oferecendo cultura, educação e lazer aos cidadãos do Catete e de tantos outros bairros do Brasil e do mundo.
Museu da República /IBRAM/SECULT
Direção - Mario Chagas
Coordenação Técnica - Daniela Matera do M. Lins
Setor de Comunicação - Henrique Milen
Textos e montagem: Paulo Celso CorrêaBibliografia:
ALMEIDA, Cícero Antônio de. "Catete: memórias de um palácio". Rio de Janeiro: Museu da República, 1994.
RODRIGUES, Marcus Vinícius Macri. "Um palácio quase romano: o Palácio do Catete e a invenção de uma tradição clássica nos trópicos". Rio de Janeiro: Museu da República, 2017.