Entre Folhas e Formas: Uma Viagem ao Universo das Aráceas

Antúrio. Copo-de-leite. Taioba. Inhame. Costela-de-Adão. Essas espécies fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. Na linguagem científica, elas pertencem à uma mesma família chamada Araceae. Para além dessas cinco espécies, há um número muito maior de aráceas. Mais de 3.000 já foram descritas e anualmente novas espécies ainda são reveladas. Araceae é excepcionalmente diversa e compreende plantas arbustivas, trepadeiras, epífitas e até aquáticas. São plantas primordiais na composição de jardins tropicais. O paisagista Roberto Burle Marx tinha notável interesse por aráceas, principalmente pela diversidade de formas. Seu interesse no grupo surgiu ainda menino e o acompanhou durante toda a vida. No Inhotim, o paisagista Pedro Nehring aproveita a variedade de formatos, cores e texturas deste grupo na composição dos jardins, combinando harmonicamente plantas nativas e exóticas. Aráceas são tão importantes na linguagem paisagística de Inhotim que se tornaram a segunda família mais representativa de seu acervo botânico. “Entre Folhas e Formas: Uma Viagem ao Universo das Aráceas” é um recorte da diversidade de aráceas do Instituto, acompanhadas de histórias fascinantes de saberes populares.

Xanthosoma sagittifoliumInstituto Inhotim

Formas

Geralmente, as aráceas são reconhecidas por suas folhas em formato de seta, verdes, lustrosas e resistentes. Porém, há muitas aráceas com folhas de outras formas, tamanhos e variações de cores. Há espécies com folhas que possuem mais de 2 metros de comprimento. Quanto ao formato, há uma grande variedade nesse grupo. Folhas em forma de seta (sagitada), de coração (cordiforme), pontiagudas como lança (lanceolada), com margens lisas, recortadas, onduladas, sinuosas e tantos outros detalhes interessantes que fazem a diferença para os curiosos ou iniciados na arte da jardinagem. Essa impressionante diversidade e adaptabilidade a ambientes internos explica o número cada vez maior de pessoas que se interessam pelo cultivo dessa família em suas próprias casas, se tornando verdadeiros colecionadores de aráceas!

Philodendron maximumInstituto Inhotim

Essa planta é conhecida como uma das maiores espécies de Philodendron do mundo. Suas folhas são enormes, brilhantes, vigorosas e tão espessas que ao toque lembram o couro. Por ser uma planta que vive abaixo das árvores gigantes da Amazônia, o tamanho das suas folhas é importante porque aumenta a captação da luz solar. A espessura por sua vez contribui para que uma folha tão grande não se parta. Perceba que as características das folhas muitas vezes indicam o ambiente natural que a espécie vive.

Philodendron mayoiInstituto Inhotim

Cyrtosperma johnstonii Cyrtosperma johnstoniiInstituto Inhotim

Cyrtosperma johnstonii (detalhe)Instituto Inhotim

Além das suas qualidades estéticas inegáveis, o rizoma (caule subterrâneo) desta planta tem sido usado na medicina tradicional tailandesa para o tratamento de muitas doenças, incluindo vários tipos de câncer. Um estudo de 2013 mostrou que extratos desse rizoma contêm compostos que possuem atividade antioxidante e anticâncer, pois inibem as células cancerosas de forma eficaz sem afetar as células normais.

Anthurium sp. Anthurium sp.Instituto Inhotim

Anthurium sp. (detalhe)Instituto Inhotim

Philodendron melanochrysumInstituto Inhotim

Cores e texturas

Do verde-brilhante ao roxo-vináceo, as cores das aráceas trazem vida aos jardins externos, apartamentos e arranjos florais. Mais do que isso, as cores e texturas muitas vezes indicam o lugar adequado para o cultivo. No mundo vegetal, as cores vermelho e roxo podem estar associadas à produção de antocianina, um pigmento que protege a planta dos raios solares. Folhas vermelhas e roxas terão coloração mais intensa se expostas ao sol visto que esses pigmentos atuam como uma espécie de filtro solar.  Já as folhas variegadas, que são aquelas manchadas por outra cor que não o verde, ocorrem pela ausência de clorofila ou pela predominância de outros pigmentos, tal como a já falada antocianina. A variegação pode surgir naturalmente como uma mutação nas plantas, característica muitas vezes preservada pelos cultivadores de plantas ornamentais que estão em busca de efeitos estéticos únicos. Entretanto, as plantas despigmentadas não toleram baixa luminosidade e são sensíveis à luz solar direta.

Alocasia reginulaInstituto Inhotim

As folhas do veludo-preto se destacam pelas nervuras em branco que aparecem sobre a cor verde metálica enegrecida. Essa é uma das poucas plantas quase pretas na natureza. Esta planta não tolera baixas temperaturas, devendo ser cultivada sobre boa iluminação, mas sem sol direto. Deve ser regada profundamente, mas com pouca frequência, de forma que o substrato onde a planta está sendo cultivada sempre tenha tempo suficiente para secar entre as regas.

Caladium bicolorInstituto Inhotim

As cores do tinhorão tornaram essa espécie famosa para cultivo em vasos e jardins, e atualmente existe no mercado uma série de variedades com tons de rosa, branco, verde e vermelho. No inverno perde suas folhas, emitindo novas brotações na primavera. Já foi comprovado cientificamente que os extratos das suas folhas possuem propriedades anticonvulsivantes, ansiolíticas e antidepressivas. Entretanto, é extremamente tóxica e por isso deve estar longe do alcance de crianças e animais domésticos.

Colocasia esculenta Colocasia esculentaInstituto Inhotim

O taro apresenta folhas grandes com cores que variam do verde ao roxo escuro, quase preto. A dimensão, a cor e o brilho das folhas dão à planta um interessante aspecto decorativo, o que a torna popular como planta ornamental. Além da folhagem ornamental, o taro também é amplamente cultivado para alimentação. Juntamente com a batata, mandioca e a batata-doce, o taro compõem o grupo das amiláceas, consumidas por 70% da população mundial, é rico em carboidratos, vitaminas B e C e sais minerais.

Colocasia esculenta (detalhe)Instituto Inhotim

Anthurium salviniiInstituto Inhotim

Flores e frutos

As aráceas são mais conhecidas por suas folhagens ornamentais, mas muitas dessas espécies possuem florações espetaculares! Tal como na foto, a inflorescência (conjunto de flores) típica de uma arácea possui um eixo espesso e carnoso (espádice) que sustenta flores minúsculas, protegidas por uma folha modificada, a espata, que também pode atrair polinizadores. Quando há polinização, essas flores sofrem uma transformação extraordinária e tornam-se frutos suculentos. Quando as sementes estão inteiramente formadas, embebidas em polpa mucilaginosa, a planta anuncia uma nova necessidade: hora dos agentes de dispersão. A maioria dos animais é atraída por cores brilhantes, e muitas aráceas respondem a esse fato mudando as cores dos frutos para vermelho, laranja, amarelo ou púrpuro. A suculência e o doce sabor dos frutos também são estratégias para aumentar as chances de consumo pela fauna. 

Anthurium amnicolaInstituto Inhotim

Desde a sua descoberta na natureza, a espata colorida do antúrio-miniatura é um grande atrativo. Vários híbridos têm surgido para obtenção de uma variedade de cores de espata. As cores são provenientes de variações na produção da clorofila, no tipo e nos níveis de antocianina. A coloração branca representa a perda de pigmento. De qualquer forma, essa planta é uma excelente opção para ser utilizada como planta de interior, pois é fácil de cuidar e produz inflorescências de cores vivas e duradouras.

Philodendron ‘Cascata’Instituto Inhotim

Embora o gênero Philodendron tenha uma ampla variação de formatos de folhas, e ocupe vários tipos de ambientes, o aspecto da sua inflorescência é bem conservado. Nesse gênero, a espádice é cercada pela espata em quase toda a sua extensão como podemos observar na inflorescência do Philodendron ‘Cascata’. Vários membros desse gênero possuem ainda inflorescências fortemente termogênicas, ou seja, as flores geram calor para atrair polinizadores. Essa característica é bastante comum em aráceas.

Typhonodorum lindleyanum Typhonodorum lindleyanumInstituto Inhotim

Typhonodorum lindleyanum (detalhe)Instituto Inhotim

Os frutos desta espécie aquática são pequenas bagas amarelas quando maduras, com uma única semente. Em Madagascar, são utilizados na alimentação humana e de animais após serem tostados ou cozidos. As partes vegetativas da planta também são utilizadas, principalmente na construção e na fabricação de utensílios e ferramentas. Deve ser cultivada a pleno sol em terreno permanentemente molhado (aproximadamente 1 metro de profundidade), fértil e rico em matéria orgânica.

Monstera deliciosaInstituto Inhotim

Monstera deliciosa (detalhe)Instituto Inhotim

Dizem que era a fruta preferida da Princesa Isabel e seu gosto parece ser uma mistura de abacaxi com banana. Mas atenção: frutos não maduros podem conter grande quantidade de oxalato de cálcio, causando irritação na garganta. Devido a suas características marcantes, atualmente é uma planta naturalizada em todo mundo tropical.

Philodendron sp.Instituto Inhotim

Hábito e habitat

Apesar de predominantemente trepadeiras, as aráceas podem ainda ser ervas ou arbustos. Nesse grupo, há exemplares geófitos (caule tuberoso e subterrâneo), epífitos (sobre outras plantas), rupícolas (sobre rochas) e helófitos (plantas que crescem em terrenos encharcados ou inundados). Assim, as aráceas ocupam uma variedade de ambientes e em cada um deles, elas desenvolveram estruturas apropriadas que permitem sua sobrevivência. As raízes, por exemplo, podem ser subterrâneas, aéreas ou aquáticas, e cada uma possui diferentes características e funções, tais como a fixação no chão, a sustentação em um suporte, ou a absorção de nutrientes. A principal ameaça as aráceas é a perda e redução de seus habitats naturais. Algumas espécies são altamente adaptadas à ambientes específicos e não podem sobreviver em condições alteradas. A remoção das florestas tropicais elimina a maioria das espécies terrestres, trepadeiras e epífitas, muitas das quais são dependentes da sombra das árvores.

Pistia stratiotesInstituto Inhotim

Philodendron erubescens Philodendron erubescensInstituto Inhotim

Philodendron erubescens (detalhe)Instituto Inhotim

Assim como na maioria das aráceas, os nós, que são as regiões do caule onde saem as folhas, do filodendro-roxo produzem raízes aéreas, chamadas assim porque ocorrem expostas ao ar livre ao invés de ser subterrâneas. Essas raízes assumem o papel de fixação da planta no tronco das árvores, ou seja, são especializadas na sustentação da planta “alpinista”. Essa planta ainda se destaca pelos tons vermelhos, tanto que a palavra erubescens no seu nome significa algo que cora ou fica vermelho.

Thaumatophyllum bipinnatifidumInstituto Inhotim

Em 2018, botânicos reconheceram que essas plantas eram geneticamente diferentes dos filodendros com os quais foram agrupadas. Junto com o fato de que crescem troncos semelhantes às árvores e perdem suas folhas inferiores, deixando seu caule coberto de cicatrizes. As plantas foram então transferidas para seu próprio gênero: Thaumatophyllum. A maioria das plantas desse gênero ao ser mantida como planta doméstica permanece bastante compacta, a menos que seja muito velha.

Créditos: história

INHOTIM
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Paisagista: Pedro Nehring
Curador Botânico: Juliano Borin
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Bióloga do Jardim Botânico: Nayara Mota
Assistente Ambiental: Bárbara Sales
Projeto: Juliano Borin, Sabrina Carmo, Nayara Mota e Bárbara Sales
Fotos: João Marcos Rosa
Textos: Juliano Borin, Nayara Mota, Bárbara Sales e Sabrina Carmo
Áudios: Profa. Dra. Claudia Fabrino Machado Mattiuz – Professora da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" ((ESALQ), Universidade de São Paulo (USP) - Departamento de Produção Vegetal
João Eduardo dos Santos - Viveirista parabotânico
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