Café - Candido Portinari

O quadro Café do acervo do MNBA é a revelação desse inovador vocabulário pictórico, que marca não apenas a individualização artística do pintor, mas também o patenteamento da originalidade temática, conteudística e formal da pintura brasileira.

Trata-se da poderosa orquestração de uma inaudita sinfonia do Novo Mundo, onde o eito do cafezal é o cenário...

...em que laboriosos braços...

...erguem sacas...

...e baldes,...

...ou trabalham na colheita...

...e no ensacamento do produto da terra vermelha,...

...a dominar todos os espaços do quadro em escuras variações cromáticas, ressaltando-se a luminosidade das vestes e dos corpos do numeroso grupo de mulheres e homens brancos, negros e mestiços.

O verde das fileiras da plantação, na parte superior do quadro, é limitado pela diagonal de verdadeiro enxame de diligentes catadores do fruto.

Como símbolo do poder repressivo, do ciclo produtivo retratado, aparece a gesticulação do feitor, de botas, com a cartucheira do revólver à cintura.

A composição se completa com a pilha de sacas de café, à esquerda, logo acima da figura de uma colona sentada ao chão,

...sugerindo um ângulo visual em relação à barra virtual formada pelos musculosos trabalhadores do primeiro plano da tela.

A colona de perfil delicado,...

...descansando, sentada ao chão, descalça como os demais trabalhadores,...

...com os pés em início de deformação...

...e pano atado à cabeça, à guisa de touca,...

...blusa de mangas curtas solta à cintura e saia ampla, indo até aos tornozelos,...

...é uma figura emblemática que, mesmo em sua rudez, poetiza liricamente todo o quadro.